Na semana passada, a veterana atriz Cássia Kis tornou-se ré em uma ação judicial impetrada pela Articulação Nacional dos Transgêneros e pelo ator José de Abreu, pai de uma mulher trans como consequência de declarações de cunho homofóbico durante entrevista concedida no ano de 2022 à jornalista Leda Nagle. Na ocasião, a artista afirmou que a homossexualidade seria a responsável pela descontinuação da espécie humana e pela destruição das famílias, tendo tal declaração gerado polêmica e apoio à causa da diversidade de gênero e orientação sexual.
Denúncia acatada pelo Ministério Público
Posterior à queixa-crime atribuída, o Ministério Público da União interveio como julgador da denúncia e após transferiu o caso para ser levado a julgamento pelo Justiça Federal da Segunda Região e se condenada, a atriz poderá desembolsar uma quantia milionária a título de indenização pelo comportamento inadequado.
O trecho da entrevista que deflagrou a judicialização se deu em meio à relação de opinião da atriz sobre casamento e filhos: “Não existe mais o homem e a mulher, mas a mulher com mulher e homem com homem" e sintetiza: "Essa ideologia de gênero que já está nas escolas quer destruir a família.” despertando o gatilho para o preconceito em meio a uma sociedade de discussões na luta por direitos.
Trecho polêmico da conversa de Cássia Kis que resultou na ação judicial (Vídeo: reprodução/YouTube/Metrópoles)
Reação dos colegas de profissão e anônimos
Diante do posicionamento discriminatório da atriz, algumas personalidades responderam à altura: a apresentadora Xuxa Meneghel declarou em tom de revolta e reforçou a importância do ato da adoção: "tenha certeza de que pais adotivos serão o amor que esta criança precisará para se tornar uma pessoa no mínimo amada, sem preconceitos, sem discriminação", rebateu.
A filha da cantora baiana Daniela Mercury, declaradamente bissexual, Márcia Verçosa de Sá Mercury, também se manifestou: "Fiquei estarrecida ao ver as declarações homofóbicas da atriz", sentindo-se, obviamente atacada, declarando o mais completo repúdio à argumentação de Cássia Kiss: "Uma mulher com a visibilidade dela não pode se sentir no direito de atacar a minha família durante uma entrevista", finalizou.
Por meio de uma fotografia publicada em suas redes sociais, a produtora e empresária Lúcia Veríssimo e Cássia Kis se beijaram na boca, fato, completamente, sem importância para a atriz, conforme relata: "Foi um selo idiota, de uma pessoa idiota que eu era", conta indignada.
A vizinhança da famosa também resolveu penalizá-la pelo ato preconceituoso ao excluí-la do grupo de WhatsApp mantido pelos condôminos por não compactuar com sua postura excludente e extremista: "tal preconceito se posiciona em completo desalinho com nossos valores de respeito a toda e qualquer existência", admitiu a administração do condomínio.
José de Abreu na expectativa da condenação da atriz
O ator José de Abreu, com quem a atriz contracenou em várias produções, sentiu-se vítima das declarações homofóbicas por conta da homossexualidade de sua filha e em conversa com a colunista de celebridades Fábia Oliveira, expôs sua satisfação com o andamento do caso na esfera judicial: "Eu me senti extremamente ofendido, vou confiar que a justiça haja como achar mais conveniente”, e emite o alerta: "O Brasil é o país que mais mata trans no mundo", sobretudo vindo de uma artista do gabarito e com experiência de Cássia Kis que na época estava gravando "Travessia", novela transmitida em horário nobre, daí o impacto da sua voz perante a sociedade.
Para o ator, não se trata de uma opção a questão do gênero: "Ninguém decide virar trans do dia pra noite”, reforçando o estereótipo preconceituoso da mentalidade social e reportando, especialmente, à atitude da atriz, de uma ignorância sem limites.
Desdobramentos do processo judicial
Conforme dados da petição extraídos pelo Blog F5 da Folha de São Paulo apurou a cobrança de um valor indenizatório que atinge a cifra de 1 milhão em caso de condenação.
A atriz por meio de sua assessoria de imprensa foi procurada, porém, não se manifestou a respeito, lembrando que Cássia Kis também é alvo de outros dois processos judiciais com o mesmo objeto, ou seja, referentes à homofobia, ajuizados há dois anos, porém, ainda aguardando distribuição no fórum para o julgamento com seu devido trâmite.
Foto destaque: Durante quatro décadas, Cássia Kis foi destaque nos folhetins globais (Reprodução/Terra/ Globo/ Ellen Soares/Famosos e Celebridades)