A discussão sobre manipulação de resultados voltou a ganhar força no futebol brasileiro, mas a comparação entre diferentes casos mostra que nem sempre episódios semelhantes têm o mesmo peso. A absolvição de Bruno Henrique, julgada nesta quinta-feira (14) pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), reacendeu o debate sobre a fronteira entre irregularidades pontuais e esquemas organizados que atingem profundamente a credibilidade do esporte.
O atacante do Flamengo foi acusado de manipular um cartão amarelo durante o Campeonato Brasileiro de 2023, supostamente avisando pessoas próximas para que lucrassem em apostas. Apesar da gravidade da suspeita, o julgamento terminou com a absolvição por 6 votos a 3 na acusação principal. Ainda assim, Bruno Henrique foi punido no artigo 191 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva e recebeu multa de R$ 100 mil, mantendo-se liberado para atuar normalmente.
Comparando os casos
Para entender o peso do caso, é preciso compará-lo com a Operação Penalidade Máxima, a maior investigação sobre manipulação de resultados já realizada no Brasil. Diferente do episódio envolvendo Bruno Henrique, a operação revelou uma engrenagem complexa: aliciadores, operadores financeiros, intermediários e atletas recrutados para manipular eventos específicos de partidas, como cartões, gols e pênaltis.
Liderada pelo Ministério Público de Goiás, a investigação alcançou diversas divisões do futebol nacional e apontou para uma estrutura profissionalizada, movida por grandes valores e interesses de organizações criminosas. A rede agia com métodos, hierarquia e planejamento, fazendo com que os impactos fossem muito mais profundos, sistêmicos e difíceis de controlar.
Bruno Henrique durante o julgamento no STJD (Foto: reprodução/Lucas Bayer/Lance)
O caso envolvendo Bruno Henrique ganhou repercussão justamente por surgir em um cenário no qual o futebol brasileiro já vive uma tensão crescente relacionada às apostas. Diferentemente dos grandes esquemas investigados em operações como a Penalidade Máxima, o episódio envolvendo o atacante foi tratado como uma situação pontual, sem indícios de participação em redes criminosas. Ainda assim, o julgamento trouxe questionamentos sobre limites disciplinares, responsabilidade individual e o impacto das apostas na conduta dos atletas.
Bruno Henrique durante o treino no CT do Flamengo (Foto: reprodução/Gilvan de Souza/Flamengo)
A diferença entre os casos
A principal distinção está na natureza das situações.
No caso Bruno Henrique, não há indício de participação em uma rede criminosa. A suspeita era de um ato individual, ocorrido em um único jogo, em um contexto estratégico: o atacante estava pendurado e buscava “limpar” os cartões antes de enfrentar o Palmeiras em duelo decisivo pelo Brasileirão de 2023.
Já a Penalidade Máxima mostrou a existência de um sistema clandestino que operava em larga escala e afetava competições inteiras, com planejamento, hierarquia e divisão de funções.
