Recentemente, muitas mulheres estão recorrendo às suas redes sociais para culpar o hormônio cortisol, como o causado pelos rostos arredondados e mais cheios. São diversos relatos de “/antes e depois”/ que realmente impressionam. Elas mostram os rostos antes, mais cheios e com traços arredondados e, logo em seguida, mostram o depois, com a face mais afinada e alongada. Essas mulheres chamaram o “/fenômeno”/ de “/cortisol face”/. Segundo elas, esses hormônios são responsáveis pelo inchaço facial inicial e, a partir de um controle do estresse, os níveis ficam mais regulados, fazendo com que o rosto fique mais fino.
São diversos os relatos de mulheres que aderiram a hábitos saudáveis e conseguiram afinar o rosto com isso. A influenciada Mandana Zarghami, em um vídeo para o Tiktok, já começa disparando: “Você não é feia, você só tem “/cortisol face.”/” e, logo em seguida, expõe práticas que podem ajudar a controlar o estresse e os hormônios. Entretanto, os especialistas defendem que a realidade é um pouco diferente. Confira a seguir o que os médicos defendem sobre essas características.
A influenciadora Mandana Zarghami dando dicas de como controlar o hormônio (Vídeo: reprodução/Tiktok/@mandanazarghami)
O cortisol prejudica?
“O cortisol é um hormônio vital produzido pelas glândulas suprarrenais (adrenais) e o estímulo é feito por meio de um outro hormônio que vem da hipófise, o ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). O cortisol é conhecido como “hormônio do estresse”, pois possui diversas ações na resposta a situações estressantes. Por exemplo, quando há uma situação de estresse, nos deparamos com uma situação de ‘luta ou fuga’.”, informa a endocrinologista Claudia Chang, de São Paulo.
Também é importante ressaltar que, recentemente, o cortisol tem sido fortemente condenado, por ter essa relação ligada ao estresse. Entretanto, é vital lembrar que ele possui funções vitais para um bom funcionamento do organismo. Ele é responsável por despertar na manhã, reduzir a inflamação e contribui para o funcionamento do sistema imune. “Um dado muito interessante é que o cortisol tem um “ritmo” conforme o horário do dia. Existe um pico de secreção às 8h da manhã e níveis mais baixos por volta das 23 horas. É muito comum as pessoas medirem o cortisol no sangue pela manhã e acharem que estão com níveis ‘elevados’, sendo que isso é realmente o esperado.”, explica a doutora.
Insuficiência do hormônio
O cortisol é um hormônio produzido pelo organismo, logo, dependendo do seu índice, é completamente saudável ao corpo humano. Segundo os médicos, mesmo com o estresse cotidiano, a quantidade produzida não é o suficiente para causar o que as redes sociais afirmam. “O cortisol, mesmo que aumentado, como costumamos encontrar nos exames clínicos que solicitamos aos pacientes, não é suficiente para arredondar o rosto.”, evidencia a dermatologista Claudia Marçal.
“É importante ressaltar que, por mais que alguém seja exposto a situações de estresse, com elevação da produção de cortisol, isso é diferente de um indivíduo que tem níveis altos do hormônio por causa tumoral, por exemplo. Um tumor na hipófise ou na glândula adrenal podem levar o cortisol a um quadro que chamamos de Síndrome de Cushing.”, complementa Chang.
No caso citado pela endocrinologista, conjuntamente ao inchaço facial, o indivíduo apresenta ganho de peso central (acúmulo mais abdominal), fraqueza muscular, estrias violáceas de grosso calibre, equimoses espontâneas (hematomas pelo corpo mesmo sem ter sofrido impacto), alterações psíquicas (habitualmente depressão), preenchimento de fossa supra clavicular, pletora facial (maçãs do rosto persistentemente ruborizadas).
Além disso, a pessoa ainda pode apresentar alterações metabólicas como aumento da pressão arterial (hipertensão), elevação da glicemia (açúcar no sangue) e dos níveis de colesterol/triglicérides. “A síndrome de Cushing pode ser induzida também pelo uso de esteróides, ou seja, corticóides, em alta dosagem e período prolongado de forma medicamentosa”, completa a Claudia expondo que existe outra causa comum da síndrome fora o tumor.
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De acordo com a dermatologista Mônica Aribi, muito provavelmente as pessoas que estão expondo os ‘antes e depois’ nas redes sociais, podem estar ignorando outros possíveis fatores que podem ter acarretado o afinamento do rosto. “Com a idade, as pessoas têm uma recolocação dos coxins gordurosos. Eles ficam mais flácidos e descem, formando aquelas bolsinhas abaixo das pálpebras, por exemplo, ou até aquela bochecha na lateral dos lábios.”, afirma Mônica.
O próprio emagrecimento da pessoa é capaz de mudar o rosto dela. Além disso, existem outras causas que podem acarretar inchaços temporários que têm sido compartilhados nas redes. “Se a pessoa ingere muito sal, bebida alcóolica, isso pode levar a um inchaço do rosto e das pálpebras. Ou até mesmo procedimentos dermatológicos inadequados e excessivos, como o uso exagerado do ácido polilático para o bioestímulo de colágeno, o excesso de ácido hialurônico para preenchimento, ou o botox quando acontece a ‘ancoragem’ que imobiliza uma parte do rosto e faz ela parecer maior”, diz a dermatologista.
Impressão duvidosa
Outro fator importante para destacar é a percepção alterada que pode ser gerada pelo constante uso de câmeras e contato constante com a própria imagem. Desde o período pandêmico, nossa rotina tem se tornado cada vez mais tecnológica e o uso constante de diversas telas e vídeo chamadas só tem aumentado.
Conforme o estudo realizado pela Universidade de Galway, na Irlanda, essas reuniões geram um cansaço e exaustão nos participantes. A análise, que foi comandada pelo Eoin Whelan, da Escola de Negócios e Economia, foi realizada através do monitoramento eletroencefalográfico (EEG) de 32 voluntários, sendo 16 homens e 16 mulheres. Todos eles participaram de uma reunião ao vivo na plataforma Zoom, com o modo de autovisualização ativado e desativado em períodos opostos. De acordo com os apontamentos feitos pelo aparelho, a fadiga foi maior quando os participantes conseguiam se ver nas telas.
A psicóloga e doutora em psicologia pela USP, Cristina Moreira Fonseca, a noção de auto imagem tem sido deturpada pelo uso constante das tecnologias. “Estamos mais sensíveis e críticos com relação à nossa imagem. Por conta das redes sociais e outras tecnologias, passamos a nos enxergar com lupa. A gente se autoavalia com rigidez e crítica como se fosse possível não ter defeitos. E sabemos que isso não é possível.”, diz a doutora.
O que pode acarretar a um tipo de hiperfoco com a própria face, ajuda a identificar alterações naturais na face que, para serem entendidas pelo cérebro, são geradas explicações mirabolantes.
Foto destaque: Influenciadoras que defendem o “/cortisol face”/ (reprodução/Tiktok/@itsbrookeelle e @anci.social)
