Meu convidado especial de hoje é David Bastos. Ele é um dos maiores arquitetos brasileiros. Formou-se na área pela Universidade Federal da Bahia. Vindo de uma família de médicos que sempre o apoiaram, apesar de dificuldades, decidiu viver de projetos e da arte urbana.
Com seu estilo 'verdadeiro' nos projetos, pautado pelo "Clássico Informal". Um dos seus grandes feitos, além de ter conhecido Oscar Niemeyer, David Bastos projetou diversos projetos para artistas, incluindo a diretora e apresentadora Regina Casé.
O arquiteto conceituado David Bastos. (Foto: Reprodução/Tuca Reinés)
Entre seus projetos, destacam-se a Casa Busca Vida, o restaurante Trapiche Adelaide, em Salvador (BA), a Casa Praia do Forte, entre muitos outros. Seus projetos sempre pautam a simplicidade, focado na qualidade e na credibilidade.
Projeto Busca Vida com o paisagista Parnaso Jardim - Trabalhos de David Bastos. (Foto: Reprodução/Tuca Reinés)
Na entrevista abaixo você vai conhecer melhor David Bastos. Eu, Diego Cristo, fiz questão de entrevista-lo e descobrir quais suas inspirações, como surgiu o gosto pela arquitetura e diversas experiências.
Por que você escolheu a arquitetura? O que te inspirou a seguir essa carreira?
“Sempre gostei de arquitetura. Sempre gostei de espaço. E peguei essa noção com meu pai, apesar dele ser médico.
Em relação ao seus pais, como reagiram a essa escolha, já que eles seguem carreiras diferentes? Como receberam a notícia?
Meu pai adorava a profissão, mas não achava que eu conseguiria me sustentar nesse ramo, por falta de dinheiro. Já minha mãe não interferiu nessa escolha.
Quando foi seu primeiro contato com a arquitetura? Quais foram os seus principais desafios e como se deu o processo de criação em um espaço com poucos recursos financeiros?
Meu primeiro contato com a arquitetura foi na adolescência. Passei minha infância e minha adolescência com uma missão de sempre aos finais de ano deixar minha casa com mais espaço, maior claridade nos cômodos. Na faculdade comecei a trabalhar com assentamentos com favelas e campos alagados. Vi muita gente feliz morando em espaços menores.
David Bastos com seu 2° livro lançado. (Foto: Reprodução/Tuca Reinés)
Em 95, você teve a oportunidade de conhecer o Oscar Niemeyer. De que maneira esse encontro te impactou? Como foi a experiência de visitar o seu escritório?
Foi um convite de um secretário de prefeitura e de um amigo para conhecer Niemeyer e convidá-lo para fazer um projeto em Salvador (BA). A experiência foi como se eu estivesse entrando em um filme: seu escritório, no Posto 6.
Quando você faz uma viagem e conhece as diversas culturas do mundo, elas acabam te influenciando em seus projetos? Quais países e culturas te chamam mais atenção nesse aspecto?
Sim, hoje gravo minhas observações nas viagens: comportamento humano, sistema de ventilação, arquitetura do local, como as pessoas se vestem...tudo isso faz parte do nosso trabalho. Independente do país, EUA, Tailândia ou em Marrakech, tudo isso contribuiu para minha formação.
Livros e obras de artes te ajudam a ampliar suas referências como fonte de inspiração?
Todo livro, obra de arte ou foto, contribui para termos informações e fazer com que construamos os espaços. Tanto pessoas físicas quanto jurídicas: nas residências urbanas, praia, campo e escritórios.
Quais são os profissionais que te inspiram, seja nas artes, no design?
Minha inspiração sempre foi o Niemeyer pela liberdade e simplicidade que ele tinha de criar e que passava isso para os observadores de suas obras, principalmente aquelas em Brasília.
Quais são as principais características do seu trabalho? Como você definiria o seu estilo?
Não gosto de paredes. Gosto do vento passando pelos ambientes assim como os olhares. Por isso uso muita esquadria, vidro, persiana, etc., mas sempre lembrando que você tem que saber onde está sendo feito essa casa. Meu estilo pauta mais pelo informal. Pode até ser o clássico, mas na minha leitura será o “Clássico Informal”.
Projeto Padre João Manuel, em São Paulo - Percebe-se a releitura do "Clássico" por David Bastos. (Foto: Reprodução/Tuca Reinés)
Destaque um ou dois projetos que você acha que foi um marco em sua carreira. Aquele projeto que você considera que tem um David Bastos "antes e depois" desse projeto.
Um dos que mais marcaram foi o Trapiche Adelaide, um restaurante numa doca antiga em Salvador, Bahia, inaugurado em 1997. Também teve a Casa Cor, em 1996, bem rústica. E em 2002 teve a Casa de Praia, com características japonesas nas proporções, no cimento...isso definiu meu estilo.
Restaurante Trapiche Adelaide, na Bahia - mais um dos projetos de David Bastos. (Foto: Reprodução/Tuca Reinés)
Qual foi o projeto mais desafiador de sua carreira?
O projeto desafiador é sempre o próximo. Pode ser casa, ou o que for. Sempre quando elaboramos um projeto e concluímos, o próximo é sempre mais desafiador.
Como se sente sendo considerado um ícone na arquitetura baiana e detendo reconhecimento internacional?
Não me considero ícone. Meu trabalho é focado na qualidade, o que consequentemente vem a credibilidade e a visibilidade. Então sempre faço as coisas para ser reconhecido por isso.
TERRAVISTA - Trancoso, BAHIA - A qualidade é visível nos projetos de David Bastos. (Foto: Reprodução/Tuca Reinés)
Quais são as grandes tendências do momento? As que você mais gosta e, se tiver, as que você definitivamente não se identifica.
A tendência é você ser verdadeiro. É ter o que você gosta; o que você gosta para sua família ou quem está com você. Até teve e tem um tempo de se construir casa para você exibir, mas não é mais “correto”.
Você já trabalhou com muitos famosos. Quais trabalhos com famosos você poderia destacar para gente como entre seus trabalhos favoritos?
Tem uma casa no Carmo que fiz para uma artista. Ela gostou muito e sempre divulga o trabalho. A casa ficou ‘tombada’, teve o patrimônio histórico envolvido. E isso me deu muita satisfação ao fazer. Era a casa de Regina Casé.
Regina Casé mostra casa projetada por David Bastos. (Vídeo:Reprodução/Youtube)
Você tem escritório em São Paulo e Bahia. Vê diferença nos desejos, no estilo e no processo de seus clientes de lá e cá? E quando trabalha com pessoas de outros estados ou mesmo de fora, o processo muda?
Todos clientes não querem projetos, querem felicidade. O desejo de todos é igual. Lógico que isso varia da cidade; centro urbanos maiores, outros menores, à depender do desejo do desejo da pessoa, do imóvel, etc. A diferença é a localidade: praia, campo ou cidade.
Projeto Praia do Forte - Alguns projetos diferem de outros pela localidade: campo, praia ou casa urbana. (Foto: Reprodução/Tuca Reinés)
Qual é o ponto de partida de um projeto? A primeira coisa que você pergunta ao cliente. Os aspectos fundamentais logo de cara para se iniciar o processo.
Eu pergunto ao cliente como ele vive. Como ele quer viver na casa? Quais são os desejos dele? O que ele espera da casa dele? Esse é o meu ponto de partida.
Vamos falar do cenário pós-pandemia. De que maneira a sua área foi afetada? Você também aderiu de alguma forma ao Home Office?
No início da pandemia trabalhei em Home office, mas é impossível trabalhar dessa forma o tempo inteiro. Tem coisas que precisam ser presenciais. Alguma hora você tem que estar com o cliente para uma maior interação e entender o projeto.
Como você enxerga o futuro da arquitetura dentro desse contexto? Você acredita que a arquitetura não será mais a mesma depois desse cenário que estamos vivendo?
Creio que tudo irá continuar normal, mas o que melhorou foi o desejo de casa; desejo da satisfação de morar na casa, pois em alguns apartamentos você não tem área de céu aberto e em casa é ao contrário. Hoje tenho mais projetos de casa do que apartamentos.
Projeto Casa Búzios - Muitas pessoas estão pautando pelas casas, devido terem mais espaço. (Foto: Reprodução/Tuca Reinés)
O que é necessário ter para um lar confortável e adaptado ao cenário de um mundo pandêmico? O que seria essencial?
A casa confortável é aquela que não tem ‘mentira’, onde o profissional consegue retratar o desejo dos clientes. É o que o cliente quer, sente, vive...quando isso é projetado ele se sente confortável.
Você vem notando uma procura maior por construções de casas de praia atualmente? Afinal, com as pessoas viajando menos e participando de menos eventos, elas estão se voltando ao lazer doméstico e casas de praia são uma boa pedida.
Não somente casa de praia. Casa urbana, casa de campo; a casa se tornou mais importante do que o apartamento, por conter área externa.
Queremos saber um pouco mais de você. O que gosta de fazer nas horas vagas? Seus maiores hobbies.
Gosto de estar com meus amigos, de jantar, ouvir música, de dormir: minha vida é essa. Também gosto muito de viajar com amigos ou com um grupo.
À essa altura da carreira, quais são os seus sonhos? O que você ainda não realizou e que ainda tem muita vontade?
Tenho o sonho de morrer trabalhando; em cima de uma prancheta. Tudo aquilo que já realizei quero realizar de novo e quero que meus projetos distribuam felicidade.
David Bastos está lançando seu 2° livro. Livro por Zeta Editora. (Foto: Reprodução/Tuca Reinés)
Seus grandes planos e projetos para 2021 são...
Continuar trabalhando, tendo visibilidade; continuar produzindo; e a vida anda, vai em frente!
(Foto destaque: David Bastos é um dos maiores arquitetos do Brasil. Reprodução/Tuca Reinés)