A natureza rápida e não invasiva dos ajustes injetáveis, onde um médico ou esteticista aplica ácido hialurônico, por meio de uma agulha, em contornos específicos do rosto para manipular sua estrutura, ganhou uma legião de fãs ao longo dos anos graças ao seu resultado (supostamente) natural, quando comparado à cirurgias plásticas invasivas. Porém, o uso excessivo desses procedimentos está causando o que ficou conhecido como ‘Filler Fatigue’, um termo que, está sendo usado cada vez mais na indústria da estética. Embora o termo sugira que talvez estejamos exaustos com a obsessão global por preenchimentos, na verdade, ele se refere ao que acontece quando o enchimento hidrofílico atrai mais água e cria um acabamento de aparência inchada em vez do resultado desejado. O uso frequente e inadequado está surtindo efeito contrário e se tornando um vilão do rejuvenescimento.
Em entrevista à revista Claudia, a cirurgiã plástica Beatriz Lassance relata sobre o assunto. “Há pouco tempo, os conceitos da cirurgia plástica eram baseados em retirar o que estava sobrando: pele demais na face, bolsas sob os olhos. Com o tempo, percebemos que apenas retirar não conferia resultados naturais. O rosto continuava cansado, olhar fundo, testa muito maior, ‘cara de plástica’. Com estudos de anatomia mais aprofundados e melhores exames de imagem, passamos a entender mais sobre o envelhecimento da face e começamos a tratar diversos planos do rosto. Conforme envelhecemos, a estrutura óssea da face muda, perdemos espessura em algumas áreas e temos menos sustentação dos tecidos ligados a essas estruturas, compartimentos de gordura diminuem, músculos e ligamentos têm sua função modificada, a pele perde colágeno e espessura. Então essas alterações devem ser tratadas em conjunto. Surgiram então os preenchedores”, explica a cirurgiã plástica, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
“O problema é o uso frequente, repetido e inadequado que profissionais de estética fazem do preenchedor, criando o que ficou conhecido como Filler Fatigue, ou fadiga do preenchedor, que acentua os sinais do envelhecimento”, alerta.
Procedimento preenchimento labial (Foto:Reprodução/Pinterest)
Com a indústria de beleza em alto avanço de crescimento nas últimas décadas, há uma imensidão de tipos de preenchimentos, com durabilidade, consistência e diferentes preços distintos. Por ser um procedimento estético relativamente rápido e simples de ser feito, mais pessoas buscam um tratamento sem ao menos pesquisar ou ter a certeza que o profissional, de fato, está adepto à aquele trabalho. Hoje em dia, qualquer consultório aplica uma, duas ou várias seringas no rosto do paciente, que sai com procedimento realizado e sem nenhuma ruga. Nos últimos tempos, há relatos de pacientes que receberam vários mililitros de preenchimento dérmico injetados e a área tratada aumentou de maneira negativa, com inchaços, assimetria, plenitude na área ou ate mesmo ‘peso’ que não existia anteriormente se tornaram aparentes.
“O uso incorreto, e o problema está no diagnóstico e na indicação de como e quando usar, isso criou uma legião de pessoas com idade indefinida, sem identidade, muito diferentes do que eram, sem expressão, com rosto não muito humano, mas sem qualquer ruga. Nesse cenário surgem modas como harmonização facial, demonização facial e pillow face (cara de travesseiro)”, relata Beatriz.
Beatriz ainda informa que existe preenchedores como os biostimuladores de colágeno, toxina botulínica e as tecnologias, sendo um arsenal que deve ser utilizado para um melhor resultado e conferir um envelhecimento mais natural, sem exceções e distorções na face. “É necessário conversar com o paciente e ouvir o que ele realmente deseja, entender a anatomia desse desejo e traduzi-lo em técnicas e procedimentos adequados”, explica.
Foto Destaque:Filler Fatigue: O uso frequente de preenchimentos pode se tornar um problema:Reprodução/Pinterest