A cidade de Afuá, no estado do Pará, ficou conhecida como “Veneza Marajoara” em referência a sua localização: o arquipélago do Marajó. Mas não é somente por este motivo que ela vem ganhando notoriedade. O município proibiu por lei a entrada de carros e motos e, além de andarem a pé, os afuaenses recorrem a bicicletas ou alternativas criativas da “magrelinha”.
"Hoje, a gente vive com bicitáxi, a gente depende do bicitáxi porque ele serve para muitas coisas, para levar pessoas doentes, para fazer publicidade, para passeios", contou Sarito, morador de Afuá e criador do bicitáxi. Ele realizou a sua criação em 1995 e, desde então, os habitantes vêm utilizando a alternativa da bike como forma de locomoção e de prestação de serviços.
Exemplo de "bicitáxi", principal meio de transporte de Afuá. (Foto: Reprodução/Aislan de Paula/G1)
A diferença entre um um bicitáxi e uma bicicleta comum está na capacidade de passageiros. Enquanto a primeira comporta motorista e passageiro, a segunda é um meio de transporte de uma pessoa só.
A geografia da necessidade
O professor Agenor Sarraf explica que a geografia local é a principal influência para essas formas de transportes alternativos. “Afuá se formou de maneira muito singular na construção dessa cartografia física, inclusive com o conceito europeu de cidade, não por acaso se intitulam como Veneza do Marajó”, disse o acadêmico.
A cidade tem períodos de alagamento devido a alta dos rios em períodos de precipitação elevada. Mas esses momentos não incomodam a população: as pessoas se divertem com a água, tomam banho de chuva e incorporam bem as cheias na arquitetura local, que se desenvolveu com base em palafitas.
A criação do bicitáxi
“Sarito” é o apelido de Raimundo Souza, também conhecido como o criador do bicitáxi. O afuaense de 55 anos contou em entrevista para o G1 que a sua invenção surgiu da vontade de levar crianças para passear na garupa de sua bicicleta.
“O primeiro bicitáxi foi uma bicicleta com três rodas. As crianças gostaram e as pessoas começaram a se adaptar a andar. O nome foi a junção de bicicleta com táxi, e a partir daí comecei a cobrar para transportar as pessoas”, recordou ele.
À esquerda, uma "bicilância", utilizada pelos bombeiros. À direita, um "bicitáxi" usado pela Igreja Assembléia de Deus para anunciar suas atividades. (Fotos: reprodução/Aislan de Paula/G1)
O que era para ser apenas uma forma de diversão se tornou a sua profissão e a de outros habitantes da cidade. Além disso, o bicitáxi também atende as necessidades locais, como a publicidade. Os bombeiros de Afuá atendem chamados em “bicilâncias” (junção de bicicleta com ambulância).
Foto destaque: Cidade de Afuá. Reprodução/Prefeitura de Afuá