A demissão de Sam Altman, então CEO da OpenAI, na última sexta-feira (17) foi um baque chocante tanto para investidores quanto para alguns dos executivos da empresa, que não haviam antecipado esse movimento por parte da diretoria.
E, de fato, não foram apenas eles que ficaram perturbados com a notícia: usuários do ChatGPT e entusiastas de inteligência artificial que acompanham a trajetória da criadora do famoso chatbot também ficaram atônitos com esse acontecimento, inundando as redes sociais com protestos e reclamações a respeito da demissão que, até o momento, parece ser infundada aos olhos do público.
Demissão de Altman foi inesperada
A OpenAI foi originalmente fundada por uma equipe composta de diversos nomes importantes no setor tecnológico, dentre eles, Elon Musk e Sam Altman, com o propósito de desenvolver e aprimorar a inteligência artificial como forma de beneficiar a humanidade.
De início, a iniciativa se tratava de uma organização onde o lucro não era o foco principal, mas sim os meios para um fim: tornar a IA uma extensão das vontades e desejos humanos, distribuindo e a desenvolvendo de maneira livre, ampla e com o maior nível de segurança possível, conforme está descrito no comunicado da empresa publicado em 2015.
Com uma iniciativa justa e um futuro promissor pela frente, já que a empresa contava com o financiamento do bilionário Elon Musk, a OpenAI fincou raízes no mercado e logo começou a desenvolver novas tecnologias baseadas na inteligência artificial generativa, mas não demorou muito para que desentendimentos começassem a ocorrer entre os membros da alta cúpula da empresa.
Por conta de desavenças e conflitos quanto a maneira mais apropriada de aplicar a tecnologia no futuro, Musk veio a deixar a empresa em 2018, cortando seu financiamento e deixando a OpenAI em uma posição desastrosa.
Altman, atuando como cabeça da organização, abriu a OpenAI para investimentos externos, já que as empresas de big tech já estavam interessadas pela tecnologia desde aquela época; o ex-CEO, portanto, aproveitou-se da situação para abrir uma subsidiária da empresa voltada ao lucro, que serviria para arrecadar o dinheiro necessário para o desenvolvimento continuado da tecnologia. O empresário também estabeleceu uma série de restrições nessa iniciativa, para evitar que os fundos dos investidores fossem utilizados de maneira errônea.
Altman em postagem no X, antigo Twitter (Foto: reprodução/X/@sama)
E, portanto, foi nesse cenário que a OpenAI encontrou grande sucesso no mercado, até culminar no lançamento do ChatGPT e seu modelo de linguagem revolucionário, tão bem-sucedido que atraiu o interesse da Microsoft. A gigante de tecnologia acabou investindo uma soma multibilionária na empresa ainda no começo de 2023, após passar anos acompanhando e realizando investimentos menores na organização. Tudo, claro, em prol de competir com a Alphabet, que também está profundamente envolvida na corrida pelo desenvolvimento da IA.
Esse histórico “impecável” de vitórias para a empresa é justamente o que tornou sua demissão tão inesperada. Mas, conforme divulgado ao público, a justificativa aparenta ser tão altruísta quanto a motivação que culminou na gênese da empresa: uma parte da diretoria da OpenAI estava preocupada com os planos de expansão de Altman, argumentando que a possibilidade da IA amplamente disponível ser utilizada para o mal é um perigo real para a humanidade.
Elon Musk concorda com a decisão
Apesar de ter se afastado da empresa que ajudou a criar, Musk ainda permanece atento às notícias da organização. Em postagens recentes feitas por sua conta pessoal na rede social X, antigo Twitter, o bilionário concordou com o posicionamento de Ilya Sutskever, cientista-chefe da OpenAI, principal responsável pela demissão de Sam Altman.
De acordo com o empresário, Sutskever “não tomaria decisões tão drásticas a menos que as julgasse como estritamente necessárias”.
Em depoimento ao The New York Times, Sutskever também disse que estava preocupado com a falta de atenção de Altman aos perigos que a IA pode trazer para a humanidade ao ser desenvolvida de maneira tão rápida; essa é uma das principais fontes de conflito na diretoria não apenas da OpenAI, como de diversas outras empresas que estão auxiliando no desenvolvimento dessa tecnologia.
Musk já havia expressado suas preocupações quanto ao futuro da OpenAI muitas vezes no passado, chegando a discordar com as ações de Altman e sua "aparente falta de cuidado para quanto a rápida expansão da empresa"; algumas dessas críticas foram retificadas no podcast de Lex Fridman, no qual ele participou ainda no início do mês. Todavia, Musk permanece cético quanto a liderança de Altman como um todo.
Com regulamentações ainda sendo estabelecidas nos fóruns da Lei ao redor do globo, pode-se argumentar que o potencial da IA generativa é extremamente problemático e pode ocasionar em um grande desastre no futuro, caso não seja controlada de maneira cuidadosa.
Após a saída de Sam Altman, Emmett Shear, ex-CEO da Twitch foi nomeado para o cargo antes ocupado pelo cofundador da empresa, que agora irá trabalhar na Microsoft como parte da equipe de desenvolvimento de IA da big tech.
Por enquanto, a Microsoft ainda não deu sinais de que pretende cortar seus laços com a OpenAI, apesar do conflito de interesses.
Foto destaque: Elon Musk e Sam Altman durante entrevista conjunta (Reprodução/Getty Images/Michael Kovac/Vanity Fair)