O calor intenso do verão pode causar muito mais do que o já comum desconforto devido à alta temperatura e, em alguns casos, o mal-estar que algumas pessoas sentem. Meteorologistas alertam sobre o risco de tempestades de granizo que, segundo estudos, ficaram mais frequentes no Brasil em comparação com o mesmo período no ano passado e podem provocar muitos danos materiais.
O que até pouco tempo atrás era incomum no país, hoje em dia, imagens de pedras de gelo caindo do céu passaram a ser corriqueiras na atual estação.
De acordo com matéria veiculada pelo telejornal da TV Globo, “Jornal Nacional”, e pelo site de notícias “g1”, só em janeiro foram mais de 600 registros do fenômeno, o que representou um crescimento de quase 295% em relação ao mesmo mês em 2024. Segundo o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, esse tipo de tempestade vem causando muitos prejuízos.
"Pegamos aí os últimos cinco anos de avaliação. Só de granizo, chegou nesse período a R$ 2,3 bilhões", afirma Ziulkoski.
Sul é campeão de granizo, mas o Centro-Oeste também sofre
No município de Tavares, no Rio Grande do Sul, as pedras de gelo caíram com tamanho e peso suficientes para perfurarem os telhados de escolas, de galpões e de casas. Já o recorde de dimensão de granizo que caiu foi do município gaúcho de São Lourenço do Sul com 14,3 cm.
Na Serra do estado de Santa Catarina também houve ocorrência de tempestades. A violência dos fortes ventos e o acúmulo de grande quantidade de gelo trouxeram transtornos.
Já na região Centro-Oeste, o prejuízo foi nas lavouras de soja de Rio Verde, no estado de Goiás. Bastou apenas dez minutos de temporal com granizos para destruir metade da plantação que era colhida.
A matéria do "Jornal Nacional" também trouxe um alerta feito pelo professor do curso de Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria, Ernani de Lima Nascimento.
"O Brasil é um dos países do mundo onde mais se registram granizos e, portanto, há necessidade de termos uma população preparada para se utilizar dessas informações”, afirma o professor Ernani, que estuda o tema desde 2018.
Explicação dos meteorologistas sobre o fenômeno
Segundo os meteorologistas, o granizo está presente em nuvens de tempestade, as chamadas cumulus nimbus. Elas são densas, verticais com aparência de cogumelos ou bigornas e são extremamente altas, podendo chegar até aproximadamente 20km de altitude, a depender da latitude.
Motivo de atenção redobrada para pilotos de aeronaves, as temíveis cumulus nimbus são formadas em condições de muito calor e umidade na atmosfera. Em seu interior há fortes correntes de ventos que sopram verticalmente com transmissão de temperaturas extremas e variando de altas a baixas. Como consequência das temperaturas negativas há a formação de gelo. A passagem do vento faz um atrito com o gelo que se formou. Devido a esse choque ocorre uma separação de cargas elétricas, provocando assim os raios e, em seguida, o estrondoso som dos trovões.
As nuvens de tempestades, cumulus nimbus, sobre uma rodovia na Argentina (Foto reprodução: Luís Robayo/AFP/via Getty Images Embed)
À medida que o gelo vai ficando maior e mais pesado, ele começa a cair em forma de granizo.
A meteorologista da USP Rachel Albrecht alerta para esse perigo:
"O granizo, quando ele é pequeno e menor do que 2,5 cm, do tamanho de uma moeda de R$ 1, ele pode chegar até 40 km/h. Agora, granizo grande, que seria de 10 cm ou mais, pode chegar a 120 km/h”, explica Rachel Albrecht, professora do Departamento de Meteorologia da USP.
Em São Paulo, apesar de apresentar menor incidência em comparação com as outras regiões do Brasil citadas, houve ocorrências em áreas urbanas. As pedras de granizo caíram sobre o telhado das casas e também danificaram alguns veículos em vias congestionadas e em estacionamentos sem cobertura. Além disso, um Shopping Center em Cajamar, na Grande São Paulo, também foi atingido.
Carro danificado após tempestade de granizo no Município de Cajamar, na grande São Paulo (Foto: reprodução/Instagram/@Araras em alerta)
O prejuízo aos proprietários de carros movimentou o comércio de peças de automóveis do local. Segundo Júlio César de Oliveira, dono de uma oficina, ele já consertou 35 veículos. Ele conta que já existe um mercado voltado para retificar danos causados por granizos.
Foto destaque: chuva com granizo na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo no final da tarde (Reprodução/Fernando Frazão/Agência Brasil)