Refugiados originários do Afeganistão que haviam sido inicialmente acomodados na cidade de Praia Grande, litoral do estado de São Paulo, estão relatando dificuldades após sua recente transferência para Guarulhos, uma cidade na região metropolitana do estado.
Segundo os próprios relatos dos refugiados, essa mudança resultou em uma série de problemas, incluindo a falta de alimentação adequada, condições precárias de acomodação, problemas de saúde e outras necessidades básicas que não estão sendo atendidas.
A situação crítica começou a se desenrolar imediatamente após a transferência do alojamento de Praia Grande para Guarulhos.
Alojamento dos refugiados afegãos localizado em Guarulhos (Foto: reprodução/Globo)
Conforme informações obtidas, as crianças estão enfrentando carências alimentares e os idosos estão vivendo em condições de acomodação inadequadas, com falta de atenção às questões sanitárias.
Crianças com fome
Em depoimento, um dos afegãos, que optou por não se identificar, relatou ao jornal O Globo: "São 9 horas, e as crianças estão com fome. Não há nenhum sinal do café da manhã. A comida é insuficiente. Os quartos não possuem ventilação adequada para suportar o calor que tem feito, não há lençóis, máquinas de lavar, nem utensílios de cozinha. Crianças e adultos estão sofrendo de tosse, problemas de saúde mental e a assistência médica é inexistente."
Inicialmente, o grupo de aproximadamente 70 refugiados estava alojado em acampamentos improvisados no Aeroporto Internacional de Guarulhos, aguardando o acolhimento das autoridades brasileiras.
Médicos voluntários
Organizações não governamentais (ONGs) e médicos voluntários já haviam alertado para a falta de ação efetiva no processo de acolhimento dos afegãos, que chegaram ao Brasil com vistos humanitários.
Em razão de um surto de sarna que agravou a situação humanitária, essas pessoas foram transferidas, em julho, para uma Colônia de Férias do Sindicato dos Químicos, localizada em Praia Grande. Na época, as autoridades afirmaram que essa acomodação seria temporária.
Entretanto, em 11 de setembro, o grupo foi novamente transferido, desta vez para abrigos em Guarulhos, sob administração da prefeitura local e com apoio financeiro do Governo Federal. Desde então, as famílias afegãs têm enfrentado diferenças significativas nas condições dos alojamentos.
Mau odor nas instalações
Existem relatos de mau odor nas instalações, ventilação insuficiente em ambientes fechados e falta de funcionários disponíveis durante a noite.
Além disso, pacientes com problemas de saúde, como diabetes e hipertensão, alegam não receber a assistência adequada, e as aulas de português, fundamentais para a integração dos refugiados no Brasil, não estão sendo oferecidas.
Um dos afegãos afirmou: "Somos refugiados e recebemos documentos para viver aqui, de acordo com a lei, mas essa mesma lei não nos concede o direito de questionar ou escolher."
Prefeitura de Guarulhos
A prefeitura de Guarulhos informou que realizou uma assembleia com os refugiados abrigados para discutir as medidas a serem tomadas no novo acolhimento e prevê resolver a situação nos próximos dias.
Especialistas destacam que ainda faltam políticas adequadas para os afegãos após sua chegada ao Brasil, incluindo questões de adaptação cultural, busca por emprego e integração social.
Diferentemente de programas como a Operação Acolhida, destinada aos venezuelanos, os afegãos enfrentam desafios específicos que requerem atenção especial.
Brasil é rota de passagem
Enquanto aguardam abrigo, muitos refugiados acabam utilizando o Brasil como rota de passagem para outros países, como os Estados Unidos e a França, em busca de uma vida melhor.
No entanto, essa vulnerabilidade os coloca em situações perigosas, incluindo o risco de serem vítimas de tráfico humano por parte de traficantes conhecidos como "coiotes," que cobram altas somas para facilitar essa jornada arriscada pelo território brasileiro.
Foto Destaque: Especialistas ressaltam a necessidade de políticas mais adequadas para a integração de afegãos no Brasil. Reprodução/Pixabay/Amber Clay