Os últimos eventos climáticos que atingiram a região sul do Brasil, afetaram mais de 2,3 milhões de pessoas, muitas delas perderam parentes, animais domésticos e suas residências. Acostumados com fenômenos meteorológicos na região, os moradores se veem desta vez incapazes de recomeçar suas vidas no mesmo local.
Segundo estudo realizado pela Startup Loft e Offerwise, 80% das pessoas declararam que os fenômenos climáticos já teriam prejudicado sua residência ou de familiares. Cerca de mil pessoas foram entrevistadas no período de 4 a 7 de junho, 41% deles expressaram o desejo de deixar a região. Surpreendentemente o percentual de moradores que não pretendem se mudar é maior, mesmo com as condições adversas muitos deles têm o sentimento de força e acreditam que irão recomeçar novamente.
A empresária Camila Portela, que mora em Venâncio Aires, município do Vale do Rio Pardo, relatou que não teve dúvida com relação a deixar o bairro, ao se deparar com sua residência submersa por semanas e mesmo após baixar a água, o mal cheiro continua nas ruas e residências devido ao acúmulo de resíduos deixados pela enchente. Camila já havia se mudado de outro bairro que foi atingido por uma enchente em 2014, na ocasião a água chegou a atingir 1,70 metros alagando residências e comércios no bairro União, região central da cidade.
Cidade alagada após enchente no RS (Foto: reprodução/Jefferson Bernardes/Getty Images Embed)
A difícil missão do recomeço
A cidade de Passo Fundo no norte do estado tornou-se o destino para muitas famílias que decidiram reconstruir suas vidas após as enchentes que devastaram várias regiões. A Secretaria de Cidadania e Assistência Social (SEMCAS) atendeu dezenas de famílias oriundas de diversas partes e que buscaram em Passo Fundo um local para recomeçar.
Segundo Rafael Bortolussi, secretário da instituição, a maioria dessas pessoas teriam chegado lá apenas com a roupa do corpo, famintas e sem moradia.
A angústia de ter vivido momentos de desespero em meio à destruição, ainda vem em suas mentes, mas a força em recomeçar logo os dominam novamente.
Animais isolados após enchente no RS (Foto: reprodução/Bloomberg/Getty Images Embed)
Medidas para evitar a tragédia
O estado do Rio Grande do Sul está numa região geograficamente vulnerável a mudanças climáticas. Segundo a professora de urbanismo da UFRGS a cidade é uma área de risco iminente, por conta da impermeabilização do solo, desvios ou canalizações mal feitas, o que acaba sobrecarregando outras áreas mais frágeis da região.
A proteção da cidade de Porto Alegre já foi estudada há muito tempo, uma gigantesca obra de engenharia foi feita com 68 km de diques, que protegem a cidade das águas dos rios Rio Gravataí e do Guaíba. Os diques chegam a 6 metros de altura impedindo que água entre na cidade.
Existem 19 estações de bombeamento que ajudam a retirar a água da capital e um sistema que fecha as comportas quando o nível dos Rios sobem. A questão é que o sistema de proteção ficou obsoleto e as ameaças climáticas se intensificaram.
Uma das soluções possíveis seria uma grande obra em que o Rio Guaíba escoaria para a Lagoa dos Patos a maior quantidade de água e posteriormente seria levada para o Oceano Atlântico por uma saída estreita. O alargamento de canais é a solução mais aceitável de fazer, além de estender o sistema de proteção para outras partes da região, evitando a sobrecarga das bombas que retiram as águas da cidade.
Foto destaque: ruas e casas em meio a enchente no RS (Reprodução/Pedro H. Tesch/Getty Images Embed)