Após quase 18 anos, os filhos de Selma Aparecida de Moraes Pessôa, advogada morta em 2005 por erro médico em Votorantim (SP), receberão indenização da Justiça como reconhecimento da irreparável, mas evitável perda.
O processo foi representado por um dos filhos, Selwin Paulo Pessôa, 32 anos, que também se tornou advogado e assumiu a administração do escritório da família, bem como as alegações do processo de danos morais iniciado pelo pai.
Selma Aparecida de Moraes Pessoâ - Foto: Arquivo pessoal
Em entrevista ao G1, Selwin resgatou a memórias da época da morte de sua mãe, que faleceu dia 25 de junho, após ser vítima de um erro médico na Unidade de Pronto Atendimento de Votorantim, no centro da cidade.
Segundo Selwin, Sandra havia passado por uma cirurgia de celulite. Após oito dias foi levada para a UPA por estar sentindo fortes dores no abdômen. A advogada foi liberada após o médico de plantão diagnosticá-la apenas com “gases intestinais”. Três dias depois ela retornou, com as mesmas dores, e foi diagnosticada com septicemia, doença que surge quando uma infecção torna-se generalizada, comprometendo todo o organismo.
Mesmo assim, Selma foi deixada por mais 26 horas na sala de observação, enquanto aguardava para ser internada. A negligência estava feita, pois a demasiada espera piorou as condições da mãe de Selwin, que não resistiu e morreu após ser levada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Hoje, que sou advogado e defendo médicos, a gente entende que tem situações que realmente não há o que o médico faça, mas você pega o laudo de um órgão público, com toda a presunção de veracidade, com todo o respeito que tem, e ver que sua mãe morreu por falha humana, é realmente chocante”, relatou Selwin.
Em novembro de 2022, a Justiça condenou a Prefeitura de Votorantim a pagar uma indenização de R $1 milhão que será distribuído aos 5 filhos de Selma. O valor é uma reparação financeira por danos morais, enquanto a condenação é símbolo do amor e da justiça que une o filho à memória da mãe, também advogada.
“Foi terrível. Acredito que a mãe seja sempre a cabeça da família e para a gente foi muito difícil. Lembro até hoje. É uma experiência que eu não recomendo para ninguém porque é muito doloroso perder a mãe. Não há dinheiro que pague a vida de uma mãe”, contou Selwin ao relembrar o impacto da morte da mãe.
O advogado contou que a sua mãe o gestou durante a gestação, se formando em 1991, após dar à luz. Enquanto crescia, frequentava o Fórum de Votorantim onde a mãe trabalhava e na adolescência já a ajudava a digitar processos, apaixonando pela área de direito.
“Já era meu sonho ser advogado, sempre foi. Aí eu entrei na faculdade de direito e me formei. Fiz alguns cursos de especialização, estou terminando um mestrado no México. Me formei e, a pedido do meu pai, eu assumi o processo e estou tocando”.
Selwin contou que o objetivo da família ao divulgar a história de Selma é chamar atenção para a possibilidade de equipes de atendimento serem responsabilizadas por episódios como esse. Ele pretende entrar com uma ação civil pública contra a prefeitura para que ela entre com uma ação de regresso contra a equipe médica que atendeu sua mãe.
A indenização ainda não foi paga e pode levar até quatro anos para ser efetuada. A prefeitura de Votorantim informou que aguarda ordem de precatório para incluir pagamento na folha do orçamento municipal.
Foto destaque: Selwin Paulo Pessoâ e à direita Selma Pessoâ, que morreu em 2005 — Foto: Arquivo Pessoal
