Questionado sobre falta de sensibilidade em declarações feitas ao longo da pandemia causada pelo novo coronavírus, nesta segunda-feira (12), o presidente Jair Messias Bolsonaro disse que se arrepende da ocasião em que, perguntado sobre os mortos pela doença, respondeu não ser "coveiro".
O candidato à reeleição pelo Partido Liberal (PL) participou de uma entrevista organizada por um consórcio de podcasts na noite desta segunda. Ele foi questionado diversos momentos sobre arrependimento por declarações na pandemia. No primeiro momento, ele não manifestou arrependimento, mas diante da insistência, disse que retiraria a frase do "coveiro".
Até então, Jair Bolsonaro não havia demonstrado remorso sobre suas declarações. A nova postura chega a 20 dias do primeiro turno da eleição.
"Não sou coveiro, tá?!", respondeu Jair Bolsonaro quando questionado sobre a quantidade de mortos em decorrência da pandemia de COVID-19. (Foto: Reprodução/G1)
Ao longo de toda a pandemia, o presidente desdenhou de medidas para a contenção do vírus, muitas recomendadas pelo próprio Ministério de Saúde do seu governo, como uso de máscaras, distanciamento e isolamento social, também recomendadas por autoridades de saúde do mundo todo. Ele também desestimulou a aplicação de vacinas.
No dia 20 de abril de 2020, quando os casos e as mortes por Covid-19 estavam em ascensão no Brasil e o país já registrava mais de 40 mil casos e mais de 2.500 mortes, jornalistas na entrada do Palácio do Alvorada questionaram o presidente sobre as vítimas fatais da doença, que começava a se alastrar. "Não sou coveiro, tá?!", respondeu ele na ocasião.
Relembre: "Eu não sou coveiro", diz Bolsonaro sobre número de mortes por covid-19
Um dos entrevistadores desta segunda informou ao presidente que muitos ouvintes haviam mandado perguntas sobre as declarações dele na pandemia.
"Uma das coisas que a gente recebeu bastante aqui, algumas reações, falas que foram talvez vistas como uma coisa brusca, muito insensível. O que estava acontecendo? É isso mesmo que o senhor pensa?", perguntou o entrevistador.
Nesse momento, Jair Bolsonaro começou a listar ações tomadas pelo governo na pandemia.
O entrevistador retoma a pergunta, citando a vez em que o presidente disse, irresponsavelmente, que quem tomasse vacina contra a Covid-19 poderia virar "jacaré".
"Então, calma aí. O senhor falou jacaré. Uma figura de linguagem. Mas o senhor não acha que foi um pouco insensível?", questionou um dos apresentadores dos podcasts.
"Qualquer palavra que eu uso é deturpada. Ele é forte como um leão. É uma figura de linguagem", justificou o candidato à reeleição.
Em seguida, ele ataca a imprensa e, novamente, não responde sobre estar arrependido ou não.
A pergunta é retomada. O apresentador diz: "Presidente, mas houve algumas falas que não pegaram legal. A pergunta que eu faço para o senhor."
Neste ponto, outro entrevistador lista algumas das falas polêmicas ditas pelo presidente ao longo da pandemia da Covid-19. Uma delas se refere ao momento em que o presidente ironizou quem queria que o governo comprasse vacina e sugeriu procurar o imunizante 'na casa da sua mãe': " 'Não sou coveiro, na casa da sua mãe...' ", relembrou o apresentador do podcast.
Foi quando o presidente fez a autocrítica.
"Eu dei uma aloprada sim. Eu perdi a linha", declarou o atual presidente Bolsonaro, que venceu às eleições com 57 milhões de votos em 2018.
O entrevistador continua: "Eu queria completar. O senhor se arrepende?". Inesperadamente, "Eu me arrependo!", respondeu Jair Bolsonaro.
Depois ele foi questionado se, olhando as declarações feitas ao longo da crise sanitária causada pelo novo coronavírus, retiraria alguma.
"A questão do coveiro, eu retiraria", admitiu o presidente. No entanto, ele disse que não mudaria a declaração do "jacaré", insistindo na ideia de que a comparação foi, nas palavras dele, uma figura de linguagem.
Jair Bolsonaro x Eleições 2022
Questionado sobre o resultado das eleições neste ano, Jair Bolsonaro disse que caso não seja reeleito para a Presidência da Repúblicas, passará a faixa presidencial e se recolherá da vida política.
“Se essa for a vontade de Deus, eu continuo [na Presidência]. Se não for, a gente passa aí a faixa, e vou me recolher. Porque, com a minha idade, eu não tenho mais nada a fazer aqui na Terra se acabar essa minha passagem pela política aqui em 31 de dezembro do corrente ano”, finalizou.
Por fim, o presidente Jair Bolsonaro disse lamenta declarações antigas e reiterou que não as repetiria. “Você pode ver que, de um ano para cá, meu comportamento mudou. Minha cadeira é um aprendizado”, destacou, ao responder a um dos entrevistadores do consórcio de podcasts, cujo sogro morreu em decorrência da Covid-19.
Foto Destaque: Jair Messias Bolsonaro. Reprodução/Exame.