O Haiti se encontra novamente em uma profunda crise militar, política e humanitária, após gangues armadas tomarem a capital do país Porto Príncipe, e libertarem da principal penitenciária do país milhares de prisioneiros. O primeiro-ministro Ariel Henry, que estava em viagem ao Quênia, foi impedido de retornar ao país e anunciou que renunciaria ao cargo no dia 11 de março.
Órgãos internacionais denunciam que a guerra civil instaurada no país tem feito milhares de mortos e feridos, além de diversos relatos de estupros coletivos e canibalismo pelas ruas da capital. Desde o ocorrido, o Haiti se encontra em estado de emergência e há toque de recolher em Porto Príncipe.
Crise atual
A atual crise política que vem vivendo o Haiti começou em 2021 após o assassinato do então primeiro-ministro Jovenel Moïse que ainda está sendo investigado os autores do crime. Após sua morte, quem assumiu o governo foi Ariel Henry, que foi afastado do poder pelas gangues armadas em 11 de março.
O líder maior desses grupos, Jimmy Barbecue, afirma que Ariel não era legítimo para o cargo, pois é um dos investigados pelo assassinato de Moïse. Ele defende novas eleições para o cargo de primeiro-ministro do Haiti.
Em discurso distribuído por Whatsapp na última semana, Jimmy afirma em sete minutos que não pretende se tornar líder do país e faz ameaças a políticos e seus familiares caso não governem de maneira integra. Ele ainda afirma que a deposição de Ariel Henry foi apenas o primeiro passo da batalha que se iniciou.
Quem é Jimmy Barbecue
Jimmy Barbecue ou em tradução livre, Jimmy Churrasco é um ex-policial que nasceu na capital Porto Príncipe e viveu de perto diversas crises humanitárias e políticas do país. Segundo ele, seu apelido se dá porque sua mãe vendia frango frito e churrasco quando este era pequeno, porém entre a população o apelido se dá por conta da violência em que Jimmy trata seus opositores, ao queimar seus corpos como forma de punição.
Com a morte de Jovenel Moïse em 2021, ele se torna figura central de um grupo que se autoproclama revolucionários contra a elite política corrupta, que usa as redes sociais para difundir seus ideais e conseguir mais seguidores para a causa armada. Ele já reconheceu a importância das mídias sociais por ajudarem a ele a se defender das falsas acusações na qual é imputado e se aproximar do público.
Gangues armadas fazem ataques a políticos no Haiti (Foto: reprodução/ Richard Pierrin / Getty Images Embed)
História
O Haiti é um país caribenho que vive em crise desde a sua independência da França em 1804. A luta pela liberdade é referência como a revolta de escravos que derrotou o exército de Napoleão Bonaparte, que até então governava os franceses. Em primeiro de janeiro de 1804, o Haiti é proclamado independente, sendo considerada a primeira república negra do mundo e o primeiro país do ocidente a abolir por completo a escravidão.
Desde então o país passa por diversas crises políticas e humanitárias. O primeiro governo em 1804 de Jean-Jacques Dessalines durou apenas dois anos, pois ele se autoproclamou presidente vitalício e imperador e concentrou o poder em torno de si, com isso diversos grupos que o apoiaram se tornaram oposição e o mataram em 1806, deflagrando a primeira guerra civil do país.
No século XIX vários governantes passaram pelo poder, mas sem cumprir o mandato de cinco anos que é imposto na constituição haitiana. Muitos deles eram eleitos e tentavam se perpetuar no poder, fazendo com que o povo se revoltasse e os derrubassem, matassem ou os exilassem fora do país.
Século 20
Nos primeiros anos do século XX os EUA invadiram a ilhe e só saíram em 1943 após uma nova constituição ser aprovada. O motivo da incursão estadunidense se deu por conta da aproximação do Haiti com a Alemanha nazista. Essa constituição era bastante favorável aos interesses dos Estados Unidos, principalmente porque permitiam que empresas deles fossem instaladas no país para aproveitar mão de obra barata.
Após a saída dos EUA, vários ditadores considerados sanguinários governaram o país, com destaque a François "Papa Doc" Duvalier e seu filho, Jean-Claude "Baby Doc". Essa ditadura perdurou por 29 anos e houve cerca de 30 mil mortos e outros tantos milhares de desaparecidos.
Século 21
No século XXI o Haiti continuou com diversas crises políticas, mas a humanitária com o aumento da pobreza se agravou ainda mais. Em 2004 após 14 anos da ditadura de Jean-Bertrand Aristide, um novo governo foi eleito democraticamente, porém após denúncias de fraudes, e mortes violentas o governo foi deposto. A ONU mandou tropas para pacificar o país e convocar novas eleições em 2006. Essas tropas passaram 13 anos no país, com o objetivo de pacificar o país, porém quando foram embora o país voltou ao caos.
Em 2010 um terrível terremoto assolou o país e deixou milhares de mortos e feridos, pessoas sem moradias e os problemas se agravaram ainda mais. Mesmo com a ajuda das Organizações das Nações Unidas, ONU, com o envio de ajuda humanitária e tropas, inclusive brasileiras, os capacetes azuis, não foi possível manter uma ordem no país. Em 2016 Jovenel Moïse gahou as eleições e ficou até ser morto em 2021. Seu governo também era acusado de corrupção e por tratar opositores com violência.
Foto Destaque: o Haiti enfrenta uma das piores crises políticas dos últimos anos (Reprodução/ Luckenson Jean/ AFP/ Getty Images Embed)