Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou nesta terça-feira (23) que Portugal foi responsável pelos crimes cometidos com escravos e indígenas durante o tempo da colônia. É a primeira vez na história de Portugal que um presidente reconhece a culpa e fala sobre reparações.
O presidente já havia dito, no ano passado, que seu país deveria se desculpar pela escravidão e pelo colonialismo, mesmo sabendo que em Portugal o presidente é mais uma figura pública e simbólica. Quem governa o país realmente é o primeiro-ministro Luis Montenegro, que atua como chefe do governo, que assumiu o cargo em março.
O presidente Marcelo Rebelo de Sousa ao lado do primeiro-ministro Luís Montenegro (Foto: reprodução/Getty Images Embed/Horacio Villalobos)
Responsabilidade pelos danos causados
Quanto à reparação, Rebelo sugeriu que seu governo cuidasse dessa questão e que o Estado assumisse total responsabilidade pelos crimes. O presidente conversou sobre a dívida histórica da escravidão com a imprensa estrangeira.
Durante a conversa, o presidente declarou que é preciso indenizar os custos desse período histórico. No fim, afirmou que vão verificar como podem reparar isso.
Apesar de desejar reparar os danos, Marcelo Rebelo não disse como e quando isso seria feito e relatou que a parte mais fácil é pedir desculpas.
Repercussão da fala no Brasil
Segundo o jornal português "Expresso", alguns participantes do parlamentar declararam que as desculpas foram "inoportunas" e "tóxicas".
No Brasil, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, retratou a fala do presidente português como um "fruto de séculos de cobrança da população negra" e um "salto no debate e na importância". A ministra ainda afirmou que a luta é importante para o Brasil e para o mundo, e que as ações precisam vir acompanhadas de ações concretas.
O que o Presidente da República disse hoje ao país é a maior traição à pátria e ao povo português de que há memória. Não esqueceremos! #CHEGA pic.twitter.com/e9ih5a5uCg
— Partido CHEGA (@PartidoCHEGA) April 24, 2024
Partido Chega posiciona, no X, sobre a fala do presidente português (Reprodução/X/@PartidoCHEGA)
Já em Portugal, a repercussão foi mais negativa. O partido de extrema-direita Chega, que representa a terceira força política do país, classificou a declaração como "traição à pátria" e uma vergonha. Até o deputado André Ventura, líder do Chega, tocou no assunto em destituir o presidente.
Portugal durante a escravidão
Além disso, ao longo de mais de quatro séculos de escravidão, cerca de 12,5 milhões de africanos foram tirados de suas terras e transportados à força por navios e comerciantes europeus para serem escravos em outros países. Caso sobrevivessem, eram enviados para trabalhar em plantações no Brasil e no Caribe.
No entanto, o crime é pouco falado, e as escolas também não estudam sobre o papel de Portugal na época da escravidão transatlântica.
Globalmente, a sugestão e a ideia de pagar pelos danos causados pela escravidão vêm ganhando destaque, incluindo iniciativas de criar um tribunal sobre o tema.
Foto destaque: Presidente de Portugal pede desculpas por causa da escravidão (Foto: reprodução/Getty Images Embed/Horacio Villalobos)