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Eleições argentinas: Massa surpreende e vai para o 2º turno à frente de Milei

O candidato kirchnerista saiu na frente no primeiro turno, conquistando 36,64% dos votos válidos. Em segundo ficou, o favorito nas pesquisas primárias, Javier Milei, com 29,98%% dos votos válidos.

23 Out 2023 - 12h30 | Atualizado em 23 Out 2023 - 12h30
Eleições argentinas: Massa surpreende e vai para o 2º turno à frente de Milei Lorena Bueri

O novo presidente da Argentina será definido no segundo turno, que acontecerá no dia 19 de novembro. A eleição será decidida entre Sergio Massa, candidato da coligação governista e atual ministro da economia do país conquistou 36,64% dos votos válidos, seu adversário será o candidato de extrema direita, Javier Milei, que conquistou 29,98%% dos votos válidos. A cadidata de direita, Patricia Bullrich, ficou em terceiro com 23,83% dos votos. Os números são da contagem oficial do Diretório Nacional Eleitoral, a última divulgação dos números de votos aconteceu às 23h18 (horário de Brasília) do último domingo (22), até agora 98% das urnas foram apuradas. 

Sergio Massa não era considerado o favorito nas pesquisas de intenção de voto, com isso o resultado do primeiro turno é considerado surpreendente. Afinal, o candidato é o atual ministro da economia de um país que tem uma inflação anual de 138%, um dos piores índices do mundo. 

Nas pesquisas prévias, Milei era considerado o favorito para vencer no primeiro turno, pelo fato de ter vencido as primárias, a votação que as coligações políticas escolhem seus candidatos. Nelas, a coligação de Massa havia ficado em terceiro, atrás da que tinha a candidata Patricia Bullrich. 

Na Argentina, as regras eleitorais facilitam as vitórias no primeiro turno. As normas foram estabelecidas em uma reforma constitucional que aconteceu em 1994. Desde então aconteceram sete eleições presidenciais, e em apenas em uma delas houve disputa do segundo turno, que foi em 2012, quando Mauricio Macri derrotou Daniel Scioli. 

Resultado do primeiro turno 

  • Sergio Massa, com 9,6 milhões de votos, ou 36,68% do total
  • Javier Milei, com 7,8 milhões de votos, ou 29,98% do total

Resultados dos outros candidatos 

Além dos dois finalistas que foram para o segundo turno, haviam outros três candidatos na votação presidencial argentina: 

  • Patricia Bullrich, candidata da direita tradicional, conquistou  23,83%;
  • Juan Schiaretti, peronista do estado de Córdoba, conquistou  6,78%;
  • Myram Bregman, candidata trotskista de esquerda, conquistou 2,70% 

Os votos dos eleitores dos três candidatos que não foram para o segundo turno irão ser decisivos para o resultado final destas eleições na Argentina. 

A candidata de direita Patrcia Bullrich deu sinais que não ira apoiar Massa. Ela realizou um discurso para admitir que perdeu a eleição e evitou parabenizar o vencedor, além disso afirmou que não pode saudar alguém que fez parte do “pior governo da Argentina”. Bullrich afirmou que, nos últimos tempos, o governo atual só distribuiu dinheiro e afundou o futuro do país. 

Conheça dos dois candidatos que vão disputar o segundo turno

Sergio Massa:  Um velho conhecido de política argentina


Sergio Massa surpreendeu no primeiro turno. (Foto: JUAN MABROMATA/AFP)


Filho de um imigrante italiano, Massa não é um nome novo da política argentina, ele já está na política há 30 anos. Ele começou a sua  vida política em um partido conservador, a UCeDé. Na época, o peronismo (corrente política ligada ao ex-presidente Juan Domingo Perón) vivia uma fase de direita. Um peronista, ou seja, ele é da corrente política herdeira do ex-presidente Juan Domingo Perón, que governou a Argentina durante três mandatos no século 20. Nos últimos 20 anos, o peronismo foi dominado por uma corrente de esquerda, o kirchnerismo – que são os  aliados de Néstor e Cristina Kirchner, que foram presidentes do país a partir de 2003. 

Em 2007, foi eleito prefeito da cidade de Tigre, que fica na província de Buenos Aires, mas pediu licença do cargo, após um ano de mandato, para assumir o gabinete de Cristina Kirchner, onde ficou por um ano. Depois desse período, retornou ao cargo de prefeito de Tigre e foi reeleito em 2011. 

Ele foi ministro durante os governos de Néstor e Cristina, mas acabou rompendo com os dois e tentou se estabelecer no cenário político como um peronista não kirchnerista. Em 2015 lançou sua candidatura presidencial, mas acabou perdendo no primeiro turno para Maurício Macri. Nesta eleição, Massa ficou em terceiro lugar, conquistando  21% dos votos. 

Nas eleições de 2019, Sergio Massa se reconciliou com o kirchnerismo. Em sinal de união, o grupo político lançou a candidatura de Alberto Fernández, com Cristina Kirchner como vice e Sergio Massa como o primeiro nome na lista de deputados federais (na Argentina, mão e vota em uma pessoa para deputado federal, mas em uma frente política, e a ordem dos políticos que vão ocupar os cargos é elaborada pelos próprios dirigentes).

Nestas eleições, o advogado teve apoio de Fernández e Kirchner nas primárias, se tornando o candidato peronista da disputa. Mas, com a piora da economia do país nos últimos quatro anos e a perda de popularidade do atual governo, Massa se afastou da atual gestão da Casa Rosada. 

As principais propostas de Sergio Massa

Economia: renegociar dívidas do país, principalmente com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Criar uma mesa de negociação de preços e salários a fim de conter a inflação. Ter acordos sobre áreas econômicas prioritárias, como produção, tecnologia e geração de empregos. Implementar um programa macroeconômico visando a geração de excedente de moeda estrangeira.

Segurança: criação de uma unidade policial especializada na repressão ao tráfico de drogas. Implementar sistemas de monitoramento por câmeras para prevenir crimes

Educação: aumentar os investimentos na educação. Implementação de disciplinas obrigatórias de programação e robótica para os alunos do ensino secundário. Fortalecimento das bases institucionais para a geração e coordenação das políticas educacionais.     

Trabalho: estabelecer uma lei que garanta o acesso ao 1º emprego. Incentivar a formação profissional. Oferecer incentivos fiscais às empresas que criam oportunidades de emprego para jovens ainda não inseridos no mercado de trabalho. Lançar um programa de capacitação e emprego destinado às mulheres que foram vítimas de violência de gênero. Criar projetos de obras públicas comunitárias para criar postos de trabalho.

Javier Milei é o outsider que surpreendeu 


Javier Milei ficou em segundo no primeiro turno das eleições argentinas. (Foto:Luis Robayo/AFP)


O economista Javier Milei, de 53 anos, lançou a sua candidatura à presidência da Argentina pela coligação La Libertad Avanza, (A Liberdade Avança, tradução para o português), que ele mesmo criou. Ele não era uma personalidade política conhecida na Argentina. 

Em sua carreira fora da política trabalhou em consultorias de prestígio, como a de Miguel Brodda, um dos economistas mais conhecidos e respeitados do país. Ele também  trabalhou como economista sênior do HSBC Bank na Argentina e como assessor econômico do militar e ex-deputado Antonio Domingo Bussi, que é acusado de ter cometido “crimes contra a humanidade” quando era governador do estado de Tucumán. 

No ano de 2021, Milei e seus aliados ganharam destaque no cenário político do país, após ele e seus aliados do  La Libertad Avanza, (A Liberdade Avança, tradução para o português) conquistarem cinco cadeiras da Câmara nas eleições legislativas. Na capital, Buenos Aires, a sua coalizão recebeu 310 mil votos (17% no total), terminando a eleição em terceiro lugar.

Depois disso, Milei ganhou popularidade por participar de programas de TV e Rádio, nos quais o candidato apresentava um discurso que os políticos do país são “ratos” e que formam uma “carta parasita”. Com isso, ele passou a se apresentar como alguém distante da política tradicional e ganhou visibilidade nas redes 

Milei afirma que resolveu se tornar político por um chamado de Deus (ele é católico, apesar de ter criticado o Papa Francisco, mesmo tendo afirmado que o líder da Igreja tem afinidade com comunistas assassinos).

Os principais pontos defendidos por Milei durante sua campanha foram que a Argentina vive dois grandes problemas econômicos; a inflação descontrolada e faltam dólares no país. 

As principais propostas de Javier Milei

Economia: fechar o Banco Central do país e dolarizar a economia da Argentina. Estimular a concorrência monetária do país. Além da criação de um plano econômico que possibilite “um forte corte de gastos públicos” e “eliminar as despesas improdutivas do estado”.

Segurança: reformulação da legislação penitenciária do país. Despolarizar as forças armadas e construir mais prisões em parcerias com empresas privadas. Desregulamentação do mercado de armas e o porte para uso pessoal da população.

Educação: Estabelecer um sistema de voucher para universidades. Extinguir o ministério da educação do país.

Trabalho:Implementação de uma nova legislação trabalhista, colocando um fim das indenizações por demissões em justa causa sua principal ideia. Estabelecer um sistema de seguro-desemprego. 

 

Foto destaque: Sergio Massa e Javier Milei se enfrentaram no segundo turno das eleições argentinas. Reprodução/Emiliano Lasalvia/ AFP/UOL/Poder 360

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