O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) fez movimentos públicos e de bastidores para atrair o União Brasil e o Avante para a coligação de apoio à sua candidatura ao Planalto. Pré-candidato pelo União Brasil, Luciano Bivar, que já havia sinalizado à campanha petista que cogitava abrir mão de sua postulação para apoiar Lula no primeiro turno, confirmou desistência da corrida eleitoral nesta sexta-feira (29).
Aliados do presidente do União Brasil dizem que a campanha dele perdeu tração nas últimas semanas, o que poderia indicar a desistência, embora no PT ainda haja ceticismo sobre o sucesso da costura política.
Partido dos Trabalhadores (PT) oficializa chapa Lula-Alckmin para disputar a Presidência. (Foto: Reprodução/Agência Brasil)
Com o Avante, Lula fez uma investida pública. O deputado federal e pré-candidato do partido, André Janones, republicou em sua rede social que concorre à Presidência para "defender a democracia". Lula, então, escreveu como resposta, também no Twitter: "Fico feliz. Essa também é a causa que me motiva na política, estamos juntos nisso. Vamos conversar." A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, conversou com Janones nesta semana para intermediar um diálogo entre os dois.
O PT tem flertado com os dois partidos desde o início do ano, mas ainda não conseguiu atraí-los. Além de ampliar o tempo de TV Lula quer mostrar que consegue apoio de legendas de centro para a coligação, no esforço de montar uma frente ampla ao redor da candidatura do ex-presidente.
O arranjo no União Brasil com o PT passaria pelo apoio de Lula a uma candidatura de Bivar à reeleição à Câmara dos Deputados por Pernambuco - e possível apoio para que ele concorra à presidência da Casa uma vez eleito.
Também estaria em jogo o apoio do PT à candidatura do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, ao governo da Bahia. Para isso, o partido teria que abrir mão da pré-candidatura de Jerônimo Rodrigues (PT). Em campanha na Bahia, em julho, Lula havia dito que Rodrigues seria o seu candidato no Estado. É um dos empecilhos para que o PT avance na negociação.
A manutenção da candidatura de Bivar, no entanto, é vista dentro do União Brasil como uma forma de o partido não precisar tomar lado na polarização entre Lula e Bolsonaro em Estados onde isso seria prejudicial. Por isso, há também resistência dentro da legenda.
A movimentação causou apreensão em São Paulo no entorno do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB). Tucanos temem que o eventual acordo possa tirar o União Brasil da coligação se o partido tiver na chapa de Fernando Haddad (PT).
PSB confirma Geraldo Alckmin como vice na chapa de Lula
O PSB confirmou, em convenção nacional realizada nesta sexta-feira (29), o nome do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), de 69 anos, como vice na chapa em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disputará a Presidência da República.
Alckmin e Lula apertam as mãos na convenção do PSB ao lado do presidente do partido, Carlos Siqueira. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
O evento é o último de uma série de ritos para formalizar a aliança. Agora, falta só registrar a chapa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Em seu discurso, Alckmin disse que se sente em casa no partido (ele se filiou em março deste ano). Também fez críticas a Jair Bolsonaro (PL), elogios a Lula e acenos a diversos setores da sociedade.
“Já passou da hora de darmos um basta à incompetência e à irresponsabilidade de um governo que não sabe cuidar propriamente de seu povo”, declarou Alckmin em discurso lido. Segundo ele, a gestão Bolsonaro “só improvisa, se omite e destrói”.
Ele criticou os ataques ao sistema eleitoral atualmente feitos por Bolsonaro e aliados. “Quem alega fraude tem que provar. E quem não prova tem que ser punido pela farsa de acusar”, afirmou.
“Não vamos nos render às manhas e aos desvarios de um presidente que não quer voltar para casa. É hora de Bolsonaro ir embora, por todo mal que causou ao país”, disse Alckmin.
Ele classificou o atual governo como “o mais irresponsável, imprudente e incompetente”.
Ao acenar ao agronegócio, setor com o qual tem afinidade, brincou com o apelido que recebeu de antigos adversários políticos (Picolé de Chuchu). “Quero aqui trazer uma garantia: dizer aos plantadores de chuchu que eles não serão esquecidos”, disse ele.
O ex-governador também falou em vencer a eleição presidencial no 1º turno, algo que é considerado difícil mesmo por petistas.
“A esperança tem nome. Ela se chama Lula. E o futuro do Brasil é a realização dessa esperança. Essa esperança que se deus quiser, com a força e o apoio de todos nós haverá de se realizar já no dia 2 de outubro”, declarou ele.
Trajetória política
Alckmin é um novato no PSB. Filiou-se em março deste ano justamente para ser o vice de Lula. O ex-governador de São Paulo tem histórico conservador e já fez campanhas pautadas pelo antipetismo.
Ele foi um dos principais personagens da polarização entre PT e PSDB. Como tucano, foi candidato a presidente da República em 2006 e 2018. Deixou o partido que ajudou a fundar em 2021, depois de 33 anos filiado.
O histórico fez com quem petistas importantes tivessem resistência a seu nome. Alckmin passou os últimos meses fazendo acenos a esses setores para ganhar a confiança do partido de Lula.
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT), por exemplo, disse a Lula, em janeiro, que Alckmin poderia agir como Michel Temer (MDB). Tachado de golpista por petistas, Temer era vice de Dilma e assumiu o Planalto depois de trabalhar pelo impeachment em 2016.
Para dirimir as desconfianças, o ex-presidente da República sempre fala publicamente que confia em Alckmin. Ambos têm se dado bem como companheiros de chapa e demonstrado entrosamento também nos bastidores. O ex-presidente, inclusive, já sinalizou que seu vice pode assumir algum ministério em um eventual governo.
Lula vem dizendo que é necessário “juntar os divergentes para derrotar os antagônicos”. A frase significa, em outras palavras, que a oposição de ambos a Bolsonaro é maior que suas divergências políticas.
A aliança foi o principal movimento do petista para tentar expandir seus apoios além da esquerda. Alckmin tem histórico conservador e boa interlocução com setores que o PT tem dificuldade para alcançar, como o agronegócio.
Na prática, a escolha de Alckmin como vice de Lula pode ser interpretada como a maior guinada à direita da história do PT.
O principal movimento do ex-governador para ganhar a confiança dos petistas foi em 7 de maio, no lançamento da chapa.
Alckmin jurou lealdade a Lula. “Nada servirá de razão, desculpa ou pretexto para que eu deixe de defender com toda a minha convicção a volta de Lula à presidência do Brasil”, declarou ele.
Naquele dia, o ex-governador também lançou uma metáfora que a campanha continuaria explorando nos meses seguintes.
Afirmou que chuchu com lula se tornaria um “hit da nossa culinária”. Alckmin era chamado de “picolé de chuchu” por adversários quando era governador de São Paulo, uma referência a seu jeito discreto e discursos pouco entusiasmados.
O ex-tucano foi aplaudido pela plateia presente no lançamento da chapa, passando no principal teste que teve junto à militância petista até agora.
Luciano Bivar desiste de disputar a presidência da República
Luciano Bivar desistiu de disputar a presidência da República. União Brasil, partido pelo qual ele concorreria, avalia hipótese de apoiar Lula.
Sigla é a mesma de Sergio Moro, que se lançou candidato a senador no Paraná.
A informação foi divulgada pelo jornalista Renato Souza, do Portal R7, nesta sexta-feira (29).
Foto destaque: Lula faz movimentos para ter o apoio de Bivar e de Janones no 1º turno. Reprodução/Diário do Nordeste