O Hospital da Criança Santo Antônio, localizado em Boa Vista, RR, segue tratando crianças do território Yanomami, desde o descobrimento da crise humanitária. A unidade é a única do país fornecendo assistência à tribo.
Hospital da Criança Santo Antônio (Foto: Reprodução/ Roraima 1)
“Quero que ele melhore logo para voltarmos para a casa”, diz emocionado o indígena Nivaldo Yanomami, que acompanha a internação do filho de 10 anos. Atualmente, o hospital tem um total de 53 crianças da tribo internadas. A maioria dos casos é de desnutrição e malária.
Desse total, sete estão na UTI e três seguem intubadas. Indígenas Yanomami enfrentam uma grande crise sanitária no território, a maior já vista no país, causada pelo garimpo ilegal e pela falta de assistência do governo federal.
Nivaldo e o filho, que está com malária, são da região de Hakoma, mesmo local onde morreu uma criança de 2 anos com a doença, nove meses atrás. Nivaldo conta os dias para voltar para a casa, com seu filho em boa saúde.
“Estou aqui desde o dia 16,17,18...”, diz sinalizando com os dedos.
No setor, os leitos foram substituídos por redes, para que as crianças da tribo sintam-se familiarizadas enquanto recebem tratamento.
Atualmente, os Yanomami internados na unidade hospitalar representam cerca de 82,8% de todos os 64 indígenas de outras tribos atendidos na clínica.
Na enfermaria, uma menina de 1 ano e 5 meses aparenta ser bem mais nova, devido a sua debilidade. O caso se repete a cada criança observada na unidade.
Para Francinete Rodrigues, diretora-geral do Hospital da Criança, a quantidade de 53 Yanomami internados é um número expressivo, já que o hospital não costuma receber uma quantia tão alta de pacientes.
“A gente diz [que o número de internações] é alto porque não é de costume ter esse número. Hoje, temos 64 indígenas, sendo 53 Yanomami, no hospital. Então é um número expressivo. Mas, a gente está conseguindo trabalhar e dar conta nesse momento”, disse.
O grande sinal observado pelos médicos é a desnutrição e fragilidade pela falta de peso. Na maioria dos casos é notado baixo peso para a idade, agravado pela malária, diarreia e verminose .
“Elas são pequenas, emagrecidas, caquéticas, com o cabelo já mais ralo, a pele descamando. Esses são os sinais de que elas estão desnutridas há bastante tempo”, afirma Eugênio Patrício, pediatra do setor de cuidados prolongados.
Para autoridades locais, líderes indígenas, organizações e ambientalistas, a maior causa da crise humanitária foi o avanço do garimpo ilegal e a omissão do estado em assegurar a proteção do território.
O governo estima que pelo menos 570 crianças morreram na região nos últimos quatro anos. Em 2022, foram 99 mortes de crianças vítimas de desnutrição, malária, pneumonia e contaminação por mercúrio.
Foto destaque: Crianças Yanomami. Reprodução/SP Notícias