Cerca de 1,1 milhão de crianças palestinas que vivem na Faixa de Gaza podem morrer de fome, informa a ONG Save The Children. Em busca de fugir desta estatística, os três irmãos, Seraj Shehada, de 8 anos, Ismail, de 9 anos, e Saad, de 11 anos, se alimentaram de pães amargos feitos de ração animal em vez de farinha.
“Era amargo. Não queríamos comer. Éramos forçados a comê-lo, um pão pequeno a cada dois dias”, declarou o mais velho, Saad Shehada, à CNN.
Enquanto sobreviviam na Cidade de Gaza, as três crianças tinham uma alimentação baseada em “comida de pássaro e de burro”, além de água salgada. Eles viviam com o pai e a avó, após perderem perderam a mãe, outro irmão e vários familiares na guerra.
No entanto, com o fim dos pães feitos de grãos e sementes para o consumo animal, os irmãos decidiram fugir – escondidos do pai – para o centro da Faixa de Gaza, em Deir al-Balah, onde ainda há o que comer.
Pasta doce e tâmaras
Os três irmãos, Seraj, Ismail e Saad, em Deir al-Balah, no centro de Gaza. (Foto: Reprodução/REUTERS/Doaa Ruqqa).
Seraj Shehada, Ismail e Saad agora vivem com a tia, Eman Shehada, em sua tenda e se alimentam de um pote de halawa, uma pasta doce. A mulher, que perdeu o marido em meio ao conflito entre Israel e Hamas, está gravida e responsável por quatro crianças – os irmãos e sua filha pequena.
“Não sei como administrar nossas coisas com essas três crianças, minha filha, e estou grávida, posso dar à luz a qualquer momento”, narrou Shehada à CNN.
Em uma situação semelhante a tia dos jovens, está Warda Mattar, uma mãe que se refugiou em uma escola ao norte de Deir al-Balah com seu bebê de dois meses. De acordo com Mattar, por conta da falta de leite – seja natural ou em pó -, a única alternativa que restou foi alimentar seu filho com uma tâmara enrolada em gaze.
“Recorri a tâmaras para manter meu filho quieto”, explicou a mulher.
Sem ajuda humanitária, a fome continua
De acordo com uma trabalhadora humanitária de ONG Save The Children, a fome na Faixa de Gaza tem feito a população tomar medidas drásticas para sobreviver, como o consumo de comidas para pássaros, animais e folha de árvore.
A organização não governamental destaca que a proibição da entrada de ajuda humanitária pode agravar ainda mais a situação.
“Como que alguém pode viver assim? Depois do imenso número de mortos nesta guerra, mais de de 28 mil pessoas, sendo 70% mulheres e crianças, a fome está fazendo com que crianças e famílias morram em câmera lenta”, afirma o diretor da Save The Children nos Territórios Palestianos Ocupados, Jason Lee.
Na última segunda-feira (19), o PAM, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas alertaram sobre o aumento da desnutrição aguda entre crianças, mulheres grávidas e lactantes na Faixa de Gaza. Segundo a Unicef, no caso das crianças, a desnutrição já atinge uma a cada seis com menos de dois anos.
Foto destaque: criança de 8 anos aguarda para receber comida em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. (Reprodução/Unicef/Abed Zagout).