O Brasil, enfrenta a maior seca já registrada na história contemporânea do país. De acordo com dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, essa estiagem está se espalhando por grande parte do território brasileiro, com exceção do Rio Grande do Sul. Atualmente, mais de um terço do país, o que equivale a cerca de 3 milhões de km², sofre com essa seca, que já é considerada a mais extensa e grave já registrada, superando até mesmo a crise de 2015.
Seca sem precedentes
A análise do Cemaden, baseada em dados que remontam a 1950, mostra que a seca vem se intensificando desde 1988. Enquanto a crise de 2015 afetou apenas partes do país, a falta de chuvas deste ano se espalhou de forma mais ampla e intensa, surpreendendo especialistas. Agora, grandes áreas do Brasil enfrentam uma estiagem que vai de severa a excepcional, com impactos devastadores: cidades no Norte estão isoladas devido ao esvaziamento dos rios, incêndios florestais se alastram em várias regiões, e o nível dos rios está tão baixo que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) precisou ativar termoelétricas para atender à demanda de energia.
O que explica a intensidade da seca?
Essa seca extrema é resultado de uma combinação de fatores climáticos. O fenômeno El Niño, que aquece as águas do Pacífico, tem alterado os padrões de chuva, especialmente no Norte do país. Os bloqueios atmosféricos têm impedido o avanço das frentes frias, resultando em precipitações abaixo da média. O aquecimento do Atlântico Tropical Norte também tem prolongado a seca iniciada em 2023. Esses fatores, ao alterarem os padrões climáticos por um longo período, intensificaram e ampliaram a seca, que agora afeta mais de 3.800 cidades, um aumento de quase 60% no número de localidades atingidas entre julho e agosto.
Seca faz botos encalharem em Goiás (Vídeo: reprodução/instagram/@GloboNews)
Perspectivas futuras
Meteorologistas não veem um cenário positivo. A seca deve persistir até novembro, com a chegada das chuvas atrasada e em volume inferior ao esperado. O meteorologista Giovani Dolif, do Cemaden, alerta que a recuperação só seria possível com chuvas muito acima da média, o que, por ora, parece improvável. A expectativa de alívio com a La Niña, que resfria as águas do Pacífico e pode aumentar as chuvas, também não deve se concretizar antes de novembro, e ainda assim, de forma menos intensa do que se esperava.
“Precisaríamos de uma temporada de chuvas muito acima da média, mas ainda não há previsão clara para isso até janeiro. Até lá, o cenário continua crítico”, conclui Dolif.
Foto destaque: seca faz botos encalharem em Goiás (reprodução/instagram/@GloboNews)