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Brasil começa a colecionar tiros em escolas com mais armas circulando, aponta especialista

Com mais que o triplo de armas adquiridas por colecionadores, atiradores e caçadores (CAC) em circulação em quatro anos, o Brasil começa a ter ataques com tiros em escolas de maneira recorrente e preocupa especialistas.

08 Out 2022 - 12h30 | Atualizado em 08 Out 2022 - 12h30
Brasil começa a colecionar tiros em escolas com mais armas circulando, aponta especialista Lorena Bueri

Com o aumento do número de armas circulando no Brasil, casos de tiros em escola também vem aumentando. Em menos de dez dias, dois ataques a tiros dentro de escolas foram registrados no país. A princípio, os dois crimes foram cometidos por armas obtidas de forma legal, uma pertencia a um CAC (colecionador, atirador desportivo ou caçador) e a outra a um policial militar.

Na manhã do último dia 5, numa quarta-feira, um adolescente de 15 anos, entrou na Escola Estadual Professora Carmosina Ferreira  na cidade de Sobral, no Ceará e atirou contra três estudantes. Uma das vítimas foi atingida na cabeça e está em estado grave sob suspeita de morte encefálica. A segunda vítima foi atingida na perna, passou por uma cirurgia e encontra-se em estado estável, a outra vítima foi atendida e liberada no mesmo dia.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, a arma de fogo utilizada no crime está registrada em nome de um CAC que seria familiar do autor dos disparos.


O atirador da escola em Sobral foi apreendido pela Polícia Militar e encaminhado a unidade socioeducativa (Foto: Thais Mesquita) 


Segundo a diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, Carol Ricardo, o número de armas adquiridas por CACs mais que triplicou entre 2018 e 2022. Existem hoje, mais de 1 milhão de armas em circulação em comparação às 330 mil há quatro anos atrás.

Ainda de acordo com a advogada e socióloga, Carol Ricardo, três fatores são determinantes para a recorrência de incidentes com armas de fogo em escolas: o aumento da circulação de armas, a falta de fiscalização e controle por parte do Exército, e o incentivo e banalização ao armamento de civis por parte do poder público.

Em 26 de setembro, um adolescente de 14 anos abriu fogo em uma escola no município de Barreiras, na Bahia, e matou uma aluna cadeirante.  A arma utilizada no crime era um revólver calibre 38 que pertencia ao pai do jovem, que é policial militar.

Em agosto, uma criança de 8 anos atirou contra o próprio cunhado de maneira acidental. A arma teria sido deixada pela vítima, que era CAC, no banco de trás do carro, onde o menino estava. O menino pegou a pistola que estava carregada com 12 balas e disparou contra a cabeça do cunhado, em Jacareí, interior de São Paulo.

Para a especialista esse cenário é preocupante e o Brasil começa a colecionar casos de atiradores em escolas como acontece com mais freqüência nos Estados Unidos. Carol reforça que esses casos deixam claro, que mesmo em posse de agentes de segurança, há risco de essas armas serem utilizadas para praticar crimes.

"A narrativa que busca legitimar o uso é a de que a arma é um bem e quem mata é o homem. Mas não há nenhuma informação ou treinamento sobre como elas estão sendo armazenadas. É uma situação grave, aliada a um sistema que não fiscaliza e não controla a distribuição desse armamento", afirmou Carol Ricardo em entrevista a BBC News.

Foto destaque: Atirador de Barreiras carregava revólver, arma branca e objeto semelhante a bomba caseira Foto: Divulgação/Polícia Militar

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