A guerra na Ucrânia já dura mais de um ano e as marcas são sentidas nas ruas das cidades tomadas, entre a população e os soldados combatentes. Assim, traumas são construídos e a procura por ajuda entre os soldados vem aumentando. A Ucrânia, porém, não consegue atender a todos que necessitam desses tratamentos.
Traumas a longo prazo
Noites mal dormidas e pesadelos contínuos. Durante o dia, ataques de pânico, ansiedade e imagens dolorosas vêm à cabeça, momentos marcantes ficam passando várias vezes em looping. Alguns pensam em suicídio, temendo seus pensamentos e as consequências que eles podem trazer. Assim é o dia-a-dia de soldados que viveram de perto a experiência da guerra e, mais recentemente, os que estiveram ou ainda estão em combate na guerra da Ucrânia.
O sargento ucraniano Vladyslav Ruziev, de 28 anos, conta sobre a experiência que viveu, de estar preso em sua unidade militar, sem condições de combater a artilharia russa, lutando também contra o frio e contra as imagens de seus companheiros perdendo pernas e braços: "Às vezes, o chão estava tão cheio de feridos que os veículos de evacuação passavam por cima de seus corpos por engano, em meio ao caos", relembra Ruziev.
Soldados ucranianos retornam à guerra mesmo com traumas. (Foto: Reprodução/Shutterstock via UOL)
Muitas tropas ucranianas, desde o início da guerra, tiveram no total apenas duas semanas de férias e esse descanso, quando ocorre, são usados para tratar traumas psicológicos. Essa demanda vem crescendo cada vez mais e o país não têm conseguido atender toda a demanda, segundo o jornal americano The New York Times, que visitou instituições especializada se entrevistou os envolvidos, entre terapeutas, soldados e médicos. Alguns soldados ficam viciados em drogas e álcool e tentam o suicídio.
Alta demanda e baixa capacidade de atendimento
Apenas uma parte daqueles que necessitam de tratamento psicológico são atendidos e, erroneamente, a maioria deles tenta superar os traumas por conta própria. Algumas instituições usam a psicoterapia convencional, além de tratamentos considerados alternativos, como tempo com animais, ioga e estimulação elétrica.
Em alguns hospitais, como o Lisova Polyana, próximo a Kiev, utilizam a terapia "biossugestiva", que trata-se depa mistura de conversa com toques na cabeça, no peito, nos braços e nos ombros e música. Em casos de traumas desse tipo, até um simples corte de cabelo pode proporcionar a sensação de cuidado e ser terapêutico.
Os homens têm mais dificuldade em lidar com seus sentimentos e para alguns, o toque é algo que pode soar como uma ameaça, porém, nas sessões em grupo, todos se esforçam para seguir tudo o que é proposto e manter os olhos fechados. A princípio, o foco é deixá-los bem para que possam retornar ao front. Os traumas a longo prazo terão de esperar.
Alguns soldados atacam seus companheiros durante a noite, acreditando serem inimigos. Outros quando ouvem um zumbido de abelha, confundem com o ruído de drones. Nem sempre os soldados conseguem ver utilidade nas terapias, por estarem presos à realidade da linha de frente e seus horrores e acreditar ser aquela a única realidade. "Não sou a mesma pessoa que era antes desta guerra. Tenho pouca empatia e me tornei tolerante à violência", desabafa o cirurgião militar Oleksiy Kotlyarov de 36 anos.
O país passa por uma crise e por isso, alguns programas de terapia vem se encerrando por falta de verba. Assim, muitos soldados retornam à guerra com seus traumas e sem expectativa de superarem ou da guerra acabar.
Foto destaque: Soldado ucraniano. Reprodução/Getty Images via Nacional Geographic