O episódio mais recente, de acordo com o a BBC News Brasil, é o de Zheng Xiaoqing, cidadão americano e antigo funcionário do conglomerado do setor de energia General Electric Power. De acordo com o Departamento de Justiça dos EUA, Zheng escondeu arquivos confidenciais roubados da empresa em que trabalhava, no código binário da foto de um pôr-do-sol, que ele encaminhou, digitalmente, para si mesmo.
As informações roubadas pelo engenheiro especializado em tecnologia de vedação de turbinas estavam relacionadas ao projeto e fabricação de turbinas a gás e vapor, incluindo pás e vedações de turbinas e foram avaliadas em milhões de dólares. Quem recebeu as informações foi o cúmplice de Zheng, que mora na China e não teve seu nome divulgado. Ainda de acordo com o site de notícias, os arquivos seriam usados para benefício do governo chinês, além de companhias e universidades localizadas na China.
A técnica utilizada pelo espião se chama esteganografia, que consiste em uma forma de esconder um arquivo de dados no código de outro arquivo. O golpista utilizou deste meio diversas vezes para retirar arquivos sensíveis da GE, um conglomerado multinacional conhecido pela sua atuação nos setores de assistência médica, energia e aeroespacial, fabricando de tudo, desde geladeiras até motores de aviões.
Zheng foi condenado a dois anos de prisão no início de janeiro.
Outro caso bastante comentado ocorreu em Novembro de 2022, quando o cidadão chinês Xu Yanjun foi acusado de ser espião profissional, tendo roubado segredos comerciais de diversas empresas do setor de aviação e aeroespacial dos Estados Unidos, incluindo a GE.
Yanjun foi condenado a 20 anos de prisão por conspiração.
O que os estudiosos e autoridades falam sobre essas conspirações?
Ainda de acordo com a BBC Brasil, os atentados contra os Estados Unidos é um meio de a China conseguir alavancar sua economia e seus interesses na geopolítica global, derrubando, assim, a maior potência mundial.
Ranking de potências mundiais, publicado em 11/11/2021. (Imagem: Reprodução/Ministério das Relações Exteriores, Governo brasileiro)
“Roubar segredos comerciais é vantajoso por permitir que os países deem um salto nas cadeias de valor global com relativa rapidez e sem os custos, em termos de tempo e dinheiro, decorrentes de depender apenas das capacidades nacionais", afirmou Nick Marro, da Unidade de Inteligência do grupo The Economis, ao BBC News.
Em julho de 2022, o diretor do FBI Christopher Wray afirmou a um grupo de acadêmicos e líderes corporativos em Londres que a China pretendia "saquear" a propriedade intelectual das empresas ocidentais, para poder acelerar seu próprio desenvolvimento industrial e, por fim, dominar setores importantes da indústria.
“A China está espionando empresas em toda parte; Das grandes metrópoles até cidades pequenas. Das 100 maiores empresas apontadas pela revista Fortune até start-ups recém-criadas, e isso está acontecendo em todos os setores, desde aviação até inteligência artificial e farmacêutico,” alertou Christopher na época.
Na época, o então porta-voz do Ministério do Exterior Zhao Lijian declarou que Wray estava "difamando a China" e tinha uma "mentalidade da Guerra Fria".
Já para Alan Kohler, integrante do Departamento de Justiça do FBI, a China tinha como alvo a "criatividade americana" e estava tentando "derrubar nossa posição" de líder mundial.
De acordo com Ray Wang, fundador e CEO da empresa de consultoria Constellation Research, com sede no Vale do Silício (EUA), Os equipamentos de aviação e aeroespaciais estão entre os 10 setores que as autoridades da China pretendem desenvolver rapidamente para reduzir a dependência chinesa da tecnologia estrangeira até, um dia, eliminá-la. Mas a espionagem industrial da China também está voltada para diversos outros setores.
“Estes setores incluem o desenvolvimento farmacêutico, de nanotecnologia e bioengenharia. Lembro de uma vez em que o antigo chefe de pesquisa e desenvolvimento de uma das 100 maiores empresas apontadas pela revista Fortune, me contou a ele que acabou descobrindo que ‘a pessoa em quem ele mais confiava’ — alguém tão próximo que seus filhos cresceram juntos — estava na folha de pagamento do Partido Comunista Chinês. Ele me explicou gentilmente que os espiões estão em toda parte,” disse Wang.
Acordo entre governos
Em 2015, os governos fizeram um acordo para tentar refrear os hackers e as tentativas de roubo de propriedade intelectual. De acordo com a BBC, ambos os governos prometeram não realizar "roubo de propriedade intelectual por meios cibernéticos, incluindo segredos comerciais ou outras informações confidenciais, para obter vantagens comerciais”.
Mas, já no ano seguinte, o Governo Americano acusou os chineses de violar o acordo, ao mesmo passo em que reconheceram que a quantidade de tentativas de invadir dados empresariais ou governamentais havia caído "dramaticamente".
Outra medida adotada pelo governo americano é a tentativa de bloquear o progresso chinês no setor de semicondutores, que é fundamental para tudo, desde smartphones até armas de guerra. A capital do país afirma que o uso dessa tecnologia pela China representa uma ameaça à segurança nacional.
No final do ano passado, os EUA anunciaram a implantação de alguns controles de exportação, como a obrigatoriedade de licenças para as empresas que exportam chips para a China usando ferramentas ou software dos Estados Unidos, independentemente do lugar do mundo onde os chips forem fabricados.
As medidas de Washington também proíbem que cidadãos americanos e portadores dos chamados green cards trabalhem para certos fabricantes chineses de chips.
Foto destaque: China rouba informações da indústria americana. Reprodução/BBC News Brasil/Getty Images.