Fama, satisfação pessoal, competição, vazio existencial, alcançar sempre o topo, originalidade, hitar ou flopar…Anitta e Alok refletem sobre as questões em coletiva de imprensa exclusiva para o lançamento do clipe da aguardada parceria, “Looking for Love”, que chegou às plataformas de vídeo no início desta segunda-feira (18). Gravado em São Paulo, com direção da própria Anitta, o videoclipe aprofunda o conceito abordado na divulgação, o da vida superficial, focada em validação e relevância no cenário digital e musical.
Confira trechos do que Alok e Anitta disseram em coletiva
No clipe, Anitta e Alok são números que sobem e descem em uma competição imposta pela indústria e fãs obcecados sobre quem é o número 1, o maior. Correndo em esteiras, motos e ruas lotadas de “seguidores”, que os filmam até dormindo, o filme explora a relação dos artistas entre si, métricas, e a arte, que fica constantemente em segundo plano em prol de um grande alcance midiático. Anitta e Alok contaram aos jornalistas como foi a construção e o sentido por trás do clipe, que quase não existiu, e que foi idealizado com um baixo orçamento proposital: “A diretora foi a Anitta! Não sei se vocês sabiam disso, mas ela também dirige”, começou Alok.
Assista ao clipe de "Looking for Love" (Reprodução/YouTube/Alok)
“Primeiro de tudo, a gente não ia ter clipe, né? Foi uma conversa que a gente teve. E a ideia principal de não ter clipe, primeiro é que o Alok normalmente não faz clipes, mas também porque hoje em dia o público não valoriza o clipe como valorizava antigamente. Então, antigamente, você investia milhões num clipe e você tinha o resultado desse audiovisual porque passava na TV, as pessoas assistiam muita TV, as pessoas assistiam muito clipes.
Então dava um resultado para você investir naquele clipe. Hoje em dia não faz mais sentido, porque você vai investir um dinheiro que você poderia ter investido em outras coisas de marketing que dão mais resultado do que um clipe, só que ainda assim eu gosto muito, o clipe é a minha parte favorita das músicas, que é você conseguir contar a história por trás, uma outra interpretação daquela letra por trás da música. Então é a minha parte favorita”, segue Anitta, que continua:
“Mas o desafio hoje em dia é como fazer um clipe barato que não perca a qualidade e a criatividade e passe uma mensagem bacana. Então acho que essa foi a mensagem. A minha ideia do clipe era trazer essa tecnologia que o Alok sempre traz nos trabalhos dele, essa coisa da inovação tecnológica, e o interesse do público, que o público gosta de ver bastidores.
A minha ideia principal do clipe era mostrar esse vício no amor do público, ter mais números, mais fãs, mais seguidores, e ao mesmo tempo mostrar para as pessoas o backstage, como que é atrás, gravando tudo isso, como quem mostra, tipo, ‘ok, por fora a vida é, estou sendo amada, estou sendo seguida’, mas por dentro, tem uma bagunça acontecendo ali, tem uma confusão que está rolando ali por trás de toda essa necessidade.
Não é normal uma pessoa ter necessidade uma cacetada de gente te filmando, te seguindo e te fotografando como a gente mostra no clipe. Tem uma bagunça interna, então essa é a ideia a gente mostra por perto esses fãs te seguindo, te fotografando. Você andando e esse banco de gente te filmando e isso tá normal, e aí quando a gente abre a câmera a gente mostra que não, peraí, a gente tá aí no estúdio nada disso é verdadeiro a câmera tá ali dentro, a coisa que tá fazendo o sol, a luz é que tá fazendo a luz da noite. Então é meio pra desmistificar esse glamour da vida da fama e da busca por atenção”, finaliza a cantora.
Anitta e Alok nos bastidores das gravações de "Looking For Love" (Reprodução/Instagram/@anitta/@alok)
Os artistas também abordaram a questão de que o topo dos charts não é um sinônimo de satisfação pessoal, e sim, praticamente o contrário, além da importância de inovar: “Teve um momento na minha vida que eu já achei que eu tinha alcançado o sucesso e naquele momento pra mim foi o meu maior vazio existencial, porque se aquele era o sucesso da vida, pra mim parece que a vida não tinha mais sentido era uma questão de que fazer com aquilo e entendi também que o sucesso é uma questão muito singular”, começa Alok.
“Então, pra mim, a partir do momento que eu entendi que eu deveria fazer um pouco mais com a minha influência na arte, quando eu comecei a sentir um pouco mais de propósito na minha carreira, como um todo assim e acho que o que eu faço hoje, em relação a todos os aspectos, é pra não voltar pra aquele vazio existencial (...) É impressionante como que esse álbum da Anitta de funk, de uma maneira que os gringos agora me chamam e querem fazer uma parada baseada nisso, sabe? É muito louco, assim, a influência disso. Então, você vê que esse aspecto de muitas vezes não jogar o jogo mercadológico é importante pra você se colocar numa posição que é inovadora”, finalizou o DJ.
“Eu penso a mesma coisa que ele, acho que é por isso que a gente se juntou nesse momento. Acho que é o momento onde a gente mentalmente estar no mesmo lugar de propósito, porque eu também quando alcancei o número 1 no mundo com o ‘Envolver’, foi um dos maiores vazios internos da minha vida. Onde todo mundo me via ‘uau, caramba que felicidade, você deve estar…’ e eu não estava sentindo nada disso. Antes da gente chegar nesse lugar de conquistar o topo, a gente fica: ‘não, é porque eu não conquistei aquilo ainda.
Quando eu conquistar aquilo, vai vir esse sentimento bom’. Aí você fica: ‘ai não, não é porque eu não cheguei ali ainda. Quando eu chegar, vai vir esse sentimento. É porque ainda falta isso, falta isso, falta aquilo’. E quando você chega num lugar que não tem como ultrapassar, como é que ultrapassa o número um? É impossível. Eu nunca vou conseguir ser mais do que número um. O número zero não tem como. Eu falei: ‘caraca, então o vazio não tem nada a ver com as conquistas musicais, tem a ver com alguma outra coisa e aí eu acho que vem esse momento do propósito mesmo de você ter esse motivo a mais, e não só de estar grande.
Eu acho que nesse momento pra gente é um momento onde, pelo menos pra mim, eu celebro qualquer conquistinha, qualquer coisinha pra mim já é legal. Só o fato de ter conseguido lançar já é legal, só o fato de ter conseguido gravar o clipe. Foi super divertido o dia da gravação. Foi um dia que eu até mandei um áudio falando pra eles: ‘Nossa gente, que energia legal, que dia gostoso de gravar esse clipe, e normalmente era sempre tão estressante pra mim, na época que eu vivia pelo resultado, então só ali o processo já é uma celebração. Só a indicação ao Grammy já foi uma celebração independente do que vai resultar, então acho que a gente está nesse momento”, afirma Anitta.
Anitta e Alok falam sobre o Grammy Latino
E por falar em Grammy, Anitta e Alok também falaram sobre suas indicações e experiências com a premiação, que em 2024 teve a maior delegação brasileira da história, e que aconteceu no último dia 14:
“Ele é dividido em segmentos. Mais cedo tem a cerimônia brasileira e mais tarde tem a cerimônia latina, em espanhol. Então eles não misturam as duas coisas e sempre foi assim. A diferença é que antigamente, o brasileiro era quase um almocinho, um negocinho minúsculo que era muito pequenininho mesmo. Ninguém ia e tal, e aí a cerimônia do latino era imensa como é até hoje. Agora está começando a crescer e ter mais realmente um momento para os brasileiros, uma premiação para os brasileiros. E esse ano foi a maior, eles resolveram fazer em Miami justamente por isso. Foi a maior delegação brasileira então pra mim, que já estava há vários anos, tanto no brasileiro quanto no de fora, a gente começa a ver essa mudança de como estava antes para como está agora”, iniciou a carioca.
Assista à performance de Anitta e Tiago Iorc no Grammy Latino 2024 (Reprodução/YouTube/Anitta Patroa)
“Então, essa foi a primeira vez que eu fui indicado porque foi a primeira vez que eles abriram a categoria Dance Electronic Latin”, começou Alok. “E aí é claro que era uma competição que eu estava competindo com a Shakira e o Bizarrap. E aí eu vejo que pra mim um grande ponto ali é que como foi uma experiência nova, acho que o aspecto principal na minha visão foi que de alguma maneira eu pude servir como plataforma para potencializar as vozes indígenas na performance que a gente fez.
Alok e o grupo Brô MC's no tapete vermelho do Grammy Latino 2024 (Foto: Dimitrius Kambouris/Getty Images Embed)
Mas eu fui entendendo direito e eu nunca tinha ido. Então assim, eu vi que era uma cerimônia brasileira, que tava bem grande, palco gigante e tal, mas depois começava outra cerimônia que era a principal, onde a Anitta chegou, e nessa hora eu já não fiquei eu tive que ir embora porque eu tinha que fazer um show no Brasil. Mas eu achei interessante que, pela minha experiência, pela primeira vez eu vi muito brasileiro lá, muitos artistas brasileiros mesmo. Eu tava ocupando um lugar interessante, só que eu senti um pouco deslocado na segunda cerimônia naquele momento, naquele contexto ali. Então eu acho que é um processo de tempo mesmo, das coisas ficarem mais integradas”, finalizou.
Foto destaque: Alok e Anitta para o clipe de "Looking For Love" (Foto: reprodução/Instagram/@alok/@anitta)