Valesca Popozuda lançou, nesta sexta-feira (05), seus dois novos EPS: “De Volta Para Gaiola: Amor” e “De Volta Para Gaiola: Amor de Verdade”. O novo trabalho de Valesca representa uma metamorfose na sua carreira, já que explora diversos ritmos e influências do R&B, pagode e trap para transmitir a mensagem de sua maturidade musical e sexual. Valesca, conhecida por seu estilo ousado e energético, apresenta, pela primeira vez, canções que falam sobre amor.
Em coletiva de imprensa, Valesca Popozuda revelou mais detalhes sobre o EP, falou sobre carreira musical e também sobre a importância de sua música para a comunidade LGBTQIAPN+.
Valesca responde perguntas do Lorena R7
1- Falando de trajetória, você nessa sua grande etapa com o lançamento dos EPS, qual é a principal diferença da Valesca do passado para a Valesca do momento atual?
“Eu acho que a do passado deixava muito que as pessoas pensassem por mim. Eu vivia presente, mas não vivia tão presente ali no começo. Eu até entendo, porque, como não era um sonho cantar e eu na época dançava na Gaiola, para mim era tipo: 'o que eu estou fazendo?', mas ao mesmo tempo eu fui me apaixonando, fui amando, o público foi gostando do meu trabalho, me dando carinho, atenção mesmo com todos os altos e baixos. Preconceito sempre vai existir… Vai ser uma coisa que a gente pode conseguir amenizar, mas acabar vai ser impossível.
Então, acho que hoje estou muito mais presente, de cabeça, corpo, alma, do que lá atrás. Antes eu não tinha tanta experiência, mas a maturidade vai fazendo com que a gente cresça, a gente vai aprendendo, vai buscando sabe? Vai estudando…E a gente pensa assim: 'se eu já passei lá atrás por essas situações eu não tenho porque passar de novo', eu vou passar se eu for muito burra, entendeu? Mas acho que é isso… acho que é isso não, tenho certeza!"
Valesca Popozuda (Foto: reprodução/ Felipe Braga)
2- Você trouxe o MC GW, um dos grandes nomes do funk na faixa "12 horas". Queria saber quais são suas outras colaborações musicais dos sonhos?
"Vou ser bem sincera, feats são coisas boas, eles se comunicam, a gente se ajuda de alguma forma. Para a música entrar no nordeste, sair… ou vice-versa. O funk no nordeste, enfim, sertanejo, o forró… a gente vai vendo uma junção que vai agregando. Já fiz feats com algumas pessoas mas foram poucas, quando faço feat faço porque gosto da pessoa, porque sou fã da pessoa.
Eu não penso em números que a pessoa pode me trazer, sou muito mais daquela pessoa que fala assim “cara, essa voz encaixou tanto nessa pessoa… ai, eu vou chamar ela, porque eu gosto dela também!”, e aí eu vejo ela muito ali comigo, por admirar por ter carinho, por respeitar. Eu já acompanhava o trabalho do GW, curtia… a gente não tinha aquilo de se falar muito, curtia uma coisa ou outra nas redes sociais, mas nada assim, presente.
Vou dar um spoiler que ele também entra comigo em “Meu Negão”, que vai sair em agosto. Quando ele foi no estúdio gravar, ele foi para gravar “Meu Negão” e gostou de “Doze Horas”. Aí os meninos deixaram e ele falou: 'bota a voz aí, faz e a gente mostra pra Val depois', e tipo assim, eu curti, eu amei! Eu falei: cara, Meu Negão era de uma maneira e se transformou em uma outra total” e eu amei mais ainda, sabe? Então assim, os feats eu não sei, se faço, se vou fazer ou não, enfim, vontade… Querer não é poder né? Deixo as coisas andarem, deixo acontecer porque as vezes fica a pergunta: 'quanto vale um feat', sabe? As vezes prefiro andar só! [Risos]"
Valesca Popozuda e MC GW (Foto: reprodução/Instagram/@valescapopozuda)
Inspirações e nova faixa de pagode
Valesca Popozuda comentou de onde vieram suas principais inspirações para o processo criativo do EP. A artista revelou sua admiração por artistas como Baco Exu do Blues e Luísa Sonza: “Minhas inspirações vem do Baco Exu do Blues, que eu amo e curto muito. Acho o jeito dele de falar sobre sexo e prazer muito libertador também na área dele, gosto de como ele se comunica e escuto muito! Luisa, que também gosto muito…”
Valesca, que já tem um pagode aclamado pelo seu público, “Mama”, revelou de onde surgiu a ideia de trazer a tona mais um: “Pagode vem de “Mama”, que já tinha lançado, e então pensei: “no meio desse EP eu preciso botar um pagode”. Na verdade eu já queria um segundo pagode e eu disse: galera, quero botar um pagode tipo Mama, um segundo pagodinho”, mas mais assim, mais descontraído né?Não tão romântico como era o Mama, mas para a galera dar uma sambadinha mesmo, um pagode raiz e divertido, que quando a galera começasse a ouvir desse risada! Tipo “nossa, o que é isso?” e graças a Deus eu tenho recebido muito esse feedback", contou.
Valesca Popozuda (Foto: reprodução/ Felipe Braga)
Empoderamento feminino no EP
“No começo do meu trabalho na Gaiola eu já vinha debatendo sobre isso, já falava sobre o feminismo e nem sabia. Nas minhas letras, nas minhas músicas… Quando comecei a cantar, vim de um público totalmente masculino, mas também queria muitas mulheres ali junto comigo cantando por liberdade e por não se importar com o que as pessoas vão achar, com o medo de se fechar, das atitudes, de falar, com o medo da sociedade né?
Valesca Popozuda refletiu acerca do machismo na sociedade quanto a diferentes reações quando se trata do comportamento dos homens e das mulheres: “Quando passa o tempo e hoje em pleno século 21 paramos pra ver na Internet, por que o homem ainda pode sim tudo? O homem posta uma foto e está de sunga: “ai maravilhoso!”. Foi pra um festival de música: “ai que lindo, olha a bunda dele” e a mulher se está com um mamilo transparente, aparecendo, é vagabunda! Qual a diferença sabe? Então é sobre isso, a gente procurar os nossos direitos e a igualdade. Não é querer ser melhor que ninguém, mas sim ser respeitada. Por que eles podem e a gente não?
Está triste faz música, está alegre faz música, levou um chifre faz música, está desabafando… e por que a gente não pode desabafar sobre os nossos desejos? Quando venho com esse ep é de uma forma que, assim, nunca me calei lá atrás. Sempre falei o que pensava, sempre influenciei… é claro que não vamos agradar a todas, tem umas que tem um pensamento muito livre para entender e seguir adiante sem ter medo e tem outras que não, que preferem ficar ali no mundo e está tudo bem. Mas temos sempre que estar aqui, ainda mais eu, para me comunicar e falar:” por que vai me calar, vai calar a gente? Por que temos que viver em um padrão que a sociedade quer que a gente viva?”, não é desse jeito, sabe!”, desabafou Valesca.
Valesca Popozuda (Foto: reprodução/ Felipe Braga)
Ideia do EP
"Venho pensando neste EP desde os meus últimos lançamentos, desde quando lancei com o Dennis e com o Kevin essas nostalgias dos anos 2000, da galera. Queria fazer algo diferente, que fosse Valesca e não perdesse as minhas raízes. Pensei no “De Volta Pra Gaiola” e só tinha a faixa “Meu Negão” até então e pensando no que iria lançar, pensei em não querer vir com a mesma coisa.
Para soltar só por soltar, melhor não fazer, e graças a Deus com música ou sem música estourada eu trabalho. As vezes é melhor recuar e esperar o momento certo, então fiquei esses meses pensando resolvendo se lançaria apenas uma música. Em uma resenha eu resolvi que lançaria o EP "De Volta Pra Gaiola" e a galera falou assim: “Como assim um ep?” e eu falei “vamos lançar um ep, não vou lançar só uma música", mas também não quero continuar apenas vivendo a nostalgia dos anos 2000. Quero sair dessa bolha, por mais que seja bom e a galera curta”.
Valesca falou sobre a reação das pessoas quando ela resolveu trazer um novo estilo musical no ano de 2013, com a nostálgica "Beijinho No Ombro": "Quando era Gaiola e fiz transição para Valesca Popozuda eu vim com pop, com “Beijinho no Ombro”. A galera falou: “nossa, mas ela saiu do funk e pulou no pop!” Tipo… a gente vinha com batidão, nostalgia 2000 direto e do nada Valesca entrou em carreira solo".
Porém, a artista revelou que o gênero musical funk, no qual ela é uma das grandes pioneiras, seguirá caminhando firmemente ao seu lado: "Claro que temos que nos jogar, nos reinventar, mas o meu funk vai estar sempre comigo! Falei “eu Valesca quero me reinventar de alguma forma”.
Clipe de "Beijinho no Ombro" (Reprodução/Youtube: Valesca Popozuda)
Light X Proibidão
Valesca contou que a quantidade de faixas no EP foi alterando gradativamente, até chegarem no total de 6 músicas: “Quando pensei nesse EP foi na ideia de fazer alguma coisa love song, R&B, indo para o trap, mas que tivesse minha essência.", explicou a artista.
"De Volta Para Gaiola: Amor" é a versão light deste projeto, enquanto "De Volta Para Gaiola: Amor De Verdade" traz a essência do "proibidão" e dos primeiros trabalhos musicais da funkeira: “Soltei as versões light também pois eu tenho um público que ama os proibidões, que curte, mas também aquele público que não curte o proibidão, que curte uma coisa mais tranquila. Então, quis deixar a gosto de todos para que eles não deixassem de consumir a Valesca de certa forma”, explicou Valesca sobre a proposta de divisão dos EPS.
Valesca Popozuda (Foto: reprodução/Felipe Braga)
Acolhimento e público LGBT
Na canção 'XXT na XXT", feat com Ya Malb, Valesca Popozuda discorre sobre sobre o amor sáfico, ou seja, sobre mulheres que sentem desejo e afeto por outras mulheres. Durante a coletiva ela falou sobre se sente em ser tão abraçada pela comunidade LGBT:
“Foi o primeiro que me acolheu e me abraçou. Eu também já tinha amigos da comunidade, mas esse público chegou tão forte que ficou na minha vida e não saiu mais. É muito sofrimento que eles vivem e se pôr no lugar das pessoas é muito difícil, mas a gente está aqui até em forma de música para levar a liberdade de falar. A mesma mulher serve para dizer para eles não se calarem, seguirem em frente, não terem medo. O apoio, como eu sempre disse, de casa, da família que vai te abraçar, dar as mãos, caminhar junto com você e falar:” pode o mundo cair lá fora, mas a gente tá aqui junto”, sabe?
Me ponho muito nesse lugar de acolhimento, dessa liberdade de expressão e de não se intimidar, de expressar os seus desejos, como a gente expressa em música. É uma luta a cada dia por esses direitos que a gente busca, que eles buscam, de apoiar. As vezes uma palavra amiga, um abraço… as minhas músicas são para levar alegria, fazer eles se divertirem. Eles gostam, eles consomem e consomem muito mais. Posso dizer que meu público hoje é 70% LGBT e os héteros 30%!", contou Valesca.
Música XXT na XXT, feat com Ya Malb (Reprodução/Youtube: Valesca Popozuda)
Valesca Popozuda explica que a luta pela causa LGBTQIAPN+ deve acontecer todos os dias, explicou: "A gente sempre tem datas importantes, festividades e estou com eles, do orgulho… de falar sempre, reivindicar… mas acho que todos os dias tem que ser falado!". A cantora não deixou de falar sobre pessoas que se aproveitam da causa para ganhar um alcance maior, sem de fato ser engajado na causa: "Vejo que hoje em dia as pessoas pegam muito uma modinha, sabe? Antigamente não existia Internet, existiam poucas redes para nos comunicar, para falar, então hoje muita gente pega uma moda para entrar dentro do assunto pra hypar sem porquê. Por que está fazendo isso se nunca fez lá atrás? Por que agora? Só que é isso, é muito mi-mi-mi sabe? Poucas fazem e não faz nada!", desabafou.
Os dois novos EPS de Valesca Popozuda, nas versões light e proibidão, estão disponíveis em todas as plataformas digitais. Vale a pena conferir o resultado desse grande projeto, que nos apresenta uma versão mais intimista e profunda de Valesca. Agradecemos Valesca pela entrevista e desejamos muito sucesso na sua carreira!
Foto destaque: Valesca Popozuda (Foto: reprodução/Felipe Braga)