Regra da UEFA, que impedia que clubes que tinham dono em comum, disputassem a mesma competição, pode acabar sendo revista futuramente. Essa possível decisão de deixar a regra menos rígida, pode acabar causando alguns problemas graves para o futuro do futebol europeu.
Essa discussão começou a entrar em pauta, depois que o atual presidente da UEFA, Aleksander Čeferin, comentou abertamente em um bate papo com o ex-jogador Gary Neville, para o programa “The Overlap”, o que ele pensa a respeito, depois de ter sido questionado sobre uma possível venda do Manchester United ao grupo catari, que é dono do PSG, ou ao dono do Nice da França.
Presidente da CBF na entrevista com Gary Neville (Reprodução/Youtube The Overlap)
Na resposta, dada do minuto 16:09 até 19:35 da entrevista, ele cita “Há cada vez mais e mais interesse por esse tipo de multipropriedade de clubes e nós não devíamos apenas dizer não para os investimentos. Nós temos que ver que tipo de regras nós aplicamos em cada caso, porque as regras precisam ser estritas”.
Vale lembrar que essa regra atual da UEFA surgiu no final da década de 1990, quando o grupo English National Investiment Company, colocou três, dos seis clubes que era dono, na Europa League, com as equipes chegando nas quartas de final, sendo quase 50% da fase do torneio.
Na época, no sorteio que decidirá os confrontos, a UEFA vetou que as três equipes pudessem se enfrentar naquela altura do campeonato, mas que ainda assim, toda a situação foi suficiente para a entidade criar uma regra impedindo que aquilo pudesse acontecer novamente. Além disso, também orientou que as federações responsáveis pelos campeonatos nacionais tomassem a mesma medida. A regra 5.01 deixa claro o que a UEFA quer evitar.
Entretanto, com a não atualização das normas, os donos vão utilizando de artimanhas para conseguirem burlar essas regras. Como por exemplo, o dono do Milan e o dono da Atalanta no campeonato italiano, são sócios de uma mesma empresa que é dona do Liverpool no futebol inglês. Ou por exemplo, os donos do Molenbeek e do SK Beveren da segunda divisão belga, que são sócios do Crystal Palace na Inglaterra.
No Brasil, o Botafogo já foi envolvido em um caso parecido, já que o seu dono atual, o Textor, dono da empresa Eagle, cedeu o jogador Erison, do clube brasileiro, para o Estoril, que é gerido pela Globalon. A Eagle e a Globalon são sócias do Crystal Palace, mas como não é o mesmo dono dos clubes, a transferência não causou conflito de interesse.
Segundo a própria UEFA, e de acordo com os dados do “The European Club Footballing Landscape” cerca de 1/3 dos clubes das principais ligas europeias, estão inseridos nessa questão de multi-club.
De acordo com a CIES Sport Intelligence, um centro de pesquisa suíço, que tem como foco, analisar esses investimentos no futebol europeu, afirma que 25 clubes ingleses, 23 espanhóis, 20 italianos, 19 franceses e 14 belgas estão vinculados a esses tipos de investimentos.
Alguns números não batem, mas ainda possuem um resultado no mínimo interessante.
Os números totais da UEFA são, 180 clubes envolvidos, com participação de 81 grupos. Para a CIES, os números sobem para 195 clubes e 101 grupos. Já para o “Play the Game”, um outro instituto que estuda sobre o tema retratado, diz que são cerca de 256 clubes envolvidos, com participação de 93 grupos.
Ainda não é possível afirmar em como a UEFA irá resolver essa situação, se é que vai resolver, mas o fato é que o assunto está cada vez mais explícito no cenário futebolístico.
Foto Destaque: PSG e Manchester United que podem vir a ter o mesmo dono se enfrentando pela Champions League em 2020 (Reprodução/Phil Noble - Reuters)
