Na Fórmula 1, o Brasil é lembrado como o país dos tricampeões Ayrton Senna, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi, entre outros pilotos que deixaram seu nome na história do automobilismo mundial. Porém, o que não é tão falado, é que o país já teve uma escuderia totalmente nacional que disputou mais de 100 corridas e alcançou o pódio três vezes: a Copersucar-Fittipaldi. Desenvolvida pela família de pilotos Fittipaldi, a escuderia, que participou da F1 por oito anos, inclusive subindo ao pódio em Interlagos, no GP do Brasil em 1978, completou, em 2025, 50 anos da sua estreia nos circuitos de alta velocidade. Sua última corrida foi em 1982.
Sonho saiu do papel para as pistas da Fórmula 1
Desenvolver o projeto de uma escuderia totalmente brasileira, que alavancassem pilotos nacionais no cenário mundial sempre foi o sonho dos irmãos Emerson e Wilson Fittipaldi. Pilotos de automobilismo já consagrados nas pistas, eles se juntaram ao projetista Ricardi Divila e tiraram do papel o FD-01, primeiro carro a disputar uma corrida na categoria, no ano de 1974.
Após conseguirem o patrocínio Copersucar, uma multinacional brasileira exportadora de açúcar e etanol, muitos testes foram realizados nas instalações da Empresa Brasileira de Aviação (Embraer), em São Paulo. Em São José dos Campos, os túneis de vento foram utilizados para aprimorar os motores, velocidade e equipamentos do carro que estava sendo desenvolvido pela equipe da escuderia.
Da montagem até a finalização do primeiro protótipo, muitas dificuldades foram enfrentadas. A primeira delas, era a importação das peças, todas vindas da Europa. A longa distância, o alto preço das peças e a restrição dos meios de comunicação atrasaram o cronograma, e peças importantes, como a caixa de câmbio e o motor chegaram a ficar retidos na alfândega. Os empecilhos não desestimularam a equipe, e o lançamento do FD-01 aconteceu no Salão Negro do Congresso Nacional, em 1974, rendendo muitos elogios dos convidados.
FD-01, carro da Copersucar-Fittipaldi durante corrida do GP do Brasil, em 1976 (Foto: reprodução/David Phippis/Getty Images Embed)
Primeiros testes, corrida e nome na história da F1
Com pouco tempo até a estreia da temporada de 1975, o primeiro teste só aconteceu em meados de novembro de 1974, e mesmo assim, o FD-01 ainda não estava totalmente "pronto", já que precisou ser finalizado com peças mais antigas. "Nós tínhamos muito pouco tempo disponível antes do GP da Argentina. O tempo, o timing, era muito curto antes do grande prêmio. Então não foi testado como a gente gostaria que testasse", disse Emerson Fittipaldi durante uma entrevista.
O teste que sacramentou a entrada da Copersucar-Fittipaldi na F1 foi há duas semanas do GP da Argentina, o que foi muito comemorado pela escuderia. Com Wilsinho Fittipaldi como piloto, o FD-01 conseguiu a classificação história dentro do tempo de 2m00s93, o máximo permitido na época. No GP, ocorrido em 12 de janeiro de 1975, Wilsinho conseguiu mostrar suas habilidades com o carro, inclusive realizando boas ultrapassagens. Contudo, na 12ª volta, o FD-01 bateu no guard rail e pegou fogo, ficando destruído com o impacto.
Wilson Fittipaldi Jr. pilotando o FD-01 (Foto: reprodução/Instagram/@fittigram)
Nas corridas seguintes, o FD-02 passou a ser utilizado e obteve grandes feitos. Foram 103 corridas em sua história e três pódios, inclusive, o segundo lugar no Grande Prêmio do Brasil, em 1978 com o piloto Emerson Fittipaldi. A escuderia brasileira também contou com outros pilotos compatriotas durante sua existência, como Alex Dias Ribeiro e Chico Serra. A história da Copersucar-Fittipaldi na Fórmula 1 se encerrou no ano de 1982, por conta de questões financeiras. Atualmente, o FD-01 encontra-se em exposição permanente no Museu Fittipaldi, em São Paulo.
Foto destaque: Wilson Fittipaldi Jr. com o FD-01 (Reprodução/Instagram/@fittigram)