Peça fundamental na conquista do Mundial pela seleção feminina espanhola, a craque Jenni Hermoso compareceu à Audiência Nacional, nesta segunda-feira (9), para depor sobre o episódio de assédio envolvendo Luis Rubiales. A atleta foi beijada à força no Estádio Olímpico de Sydney pelo então presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) àquela altura, durante o recebimento das medalhas referentes ao título.
Craque da seleção depôs ontem
Em trechos do depoimento divulgados pelo canal espanhol Telecino, Jenni reforçou o caráter não consensual do beijo. A atleta também questionou as repercussões negativas que a têm afetado, no papel de vítima,e disse estar vivendo momentos difíceis de isolamento e angústia. “Não mereço estar vivendo tudo isso. Tem sido difícil não poder sair de casa, tive que sair de Madri para não sofrer essa pressão”, declarou.
A atacante diz ter se sentido desprotegida e esquecida em meio a uma conivência da própria federação esportiva do país, que não mediu esforços para tentar acobertar o episódio após as primeiras reações públicas. “[...] Eu senti que ninguém estava me protegendo. Estavam me pedindo que os protegesse, que os ajudasse”, contou Jenni ao confirmar a informação de que o dirigente, imediatamente após o caso, a pediu que gravasse um vídeo relevando a situação – pedido que ela prontamente negou.
Hermoso com a camisa do Pachuca, clube mexicano em que joga atualmente. (Foto:Reprodução/Instagram/@jennihermoso).
Perguntada sobre o momento do beijo, Jenni explicou que foi pega de surpresa, e não esperava aquela atitude do dirigente. Após receber a medalha de campeã, cumprimentou a rainha da Espanha e sua filha, e se dirigiu para Rubiales. “A única coisa que me lembro é ele dizer ‘está Copa ganhamos graças a você’. O que me lembro depois são as suas mãos na minha cabeça e o beijo na boca”, recordou.
Chocada com o beijo, a jogadora tentou, sem sucesso, se manter presa às comemorações do triunfo, mas acabou percebendo um clima complicado já no vestiário, com algumas pessoas do entorno comentando o ocorrido. Segundo ela, “fiz das tripas coração e continuei comemorando com as minhas companheiras. Não queria me arrepender de não ter desfrutado daquele momento”.
Relembre o caso
Em meio às comemorações do título Mundial, chamou a atenção a cena em que Rubiales puxou e beijou a atacante Jenni Hermoso na boca, durante a entrega das medalhas. Após uma repercussão massiva, o dirigente tentou se desvencilhar no episódio alegando consentimento – o que foi desmentido por Hermoso – e fincando sua permanência incondicional no cargo de diretor da RFEF.
Suspenso internamente e muito pressionado, foi preciso que a atleta apresentasse ao Ministério Público Espanhol uma denúncia por crime de agressão sexual para que Rubiales renunciasse à função em setembro. Na semana passada, Alexia Putellas, Irene Paredes e Misa Rodríguez, companheiras de Hermoso na seleção, compareceram ao Tribunal Nacional para conceder seus depoimentos e ajudar nas investigações. Parte das jogadoras já havia ameaçado realizar um boicote e não se apresentar à equipe nacional.
Foto destaque: Hermoso foi decisiva na conquista do Mundial espanhol. Foto:Reprodução/Lance/Imago/Zuma Wire.