Renato Paiva foi anunciado como técnico do Botafogo no dia 28 de fevereiro, um dia após a partida de volta da Recopa Sulamericana contra o Racing, no Nilton Santos. Desde então, o português teve praticamente um mês cheio (sem partidas) para treinar e implantar suas ideias táticas ao time.
No entanto, após todo período de preparação, os primeiros jogos oficiais do Botafogo de Renato Paiva mostraram um time ainda com pouca identidade e com alguns jogadores sacrificados no novo modelo de jogo, proposto pelo treinador.
Um desses jogadores, sem dúvida, é Igor Jesus. O atacante, que teve papel fundamental nos títulos conquistados em 2024, sempre se mostrou capaz de ajudar o time na construção e finalização de jogadas com o técnico Artur Jorge. Porém, o entrosamento e dinâmica do meio campo do Glorioso com Gregore, Marlon Freitas, Savarino, Almada e Luiz Henrique faziam o deslocamento de Igor, no campo, ser menos desgastante para o artilheiro.
Com a chegada de Paiva, era esperado que a necessidade do camisa 99 se deslocar para ajudar na criação diminuísse ainda mais. Contudo, na prática, a ideia do time jogar em função do atacante se mostra totalmente diferente da expectativa.
Com a falta de aproximação dos companheiros, Igor Jesus se desloca o tempo inteiro para buscar o jogo e dar opções de jogadas. No entanto, a falta de construção no meio de campo vem fazendo o Botafogo abusar de ligações diretas entre os defensores e o centroavante, desgastando além da conta o artilheiro durante os jogos.
Igor X Bragantino
A partida desse sábado (12), em Bragança Paulista, provavelmente foi a mais simbólica de como o centroavante tem sido sacrificado no modelo de Paiva, até aqui. Igor preencheu diversos espaços do campo, muitas vezes disputando espaço com os zagueiros adversários ou arrancando em velocidade para buscar bolas lançadas pelos defensores.
A dupla de zaga do Botafogo (formada por Jair e Barboza) e o goleiro John, somados, efetuaram um total de 32 passes longos no duelo contra os paulistas. A maioria, em direção ao centroavante que diversas vezes se viu obrigado a deixar sua posição mais centralizada para preencher espaços nas pontas, que não eram ocupados nem por Artur, nem por Savarino e muito menos pelos laterais (que, na ideia de jogo de Paiva, devem ser extremamente ofensivos).
Apesar desse excesso de deslocamento durante a partida, Igor Jesus foi o responsável pelas duas principais chances do time carioca no jogo.
No primeiro tempo, ele arrancou do meio campo até a entrada da área do Bragantino e finalizou com categoria, a bola quicou no gramado (ruim) do Nabi Abi Chedid e carimbou a trave do goleiro Cleiton. Na segunda etapa, Igor recebeu cruzamento vindo da esquerda, girou o corpo e finalizou para grande defesa do arqueiro do Massa Bruta.
Com a entrada de Mastriani na reta final do jogo (aos 39 minutos), o camisa 99, já cansado, pouco conseguiu tocar na bola e não conseguiu alterar o placar de 1 a 0 para os donos da casa.
Coletiva de Renato Paiva após a partida contra o Bragantino (Vídeo: Reprodução/YouTube/BotafogoTV)
Mudanças de Paiva
O início de trabalho de Renato Paiva tem sido marcado por uma mudança no esquema padrão do Botafogo multi campeão de 2024. A equipe dirigida por Artur Jorge se notabilizou por atuar no 4-2-3-1 com alternância para um 4-4-2 e muita liberdade de movimentação dos 4 homens de frente (Savarino, Almada, Luiz Henrique e Igor Jesus).
Com as saídas de Almada e Luiz Henrique, o Botafogo trouxe o uruguaio Santiago Rodríguez (do New York City, da MLS) e Artur (do Zenit, da Rússia) para repôr a dupla destaque na temporada passada.
Contudo, os dois novos jogadores ainda encontram dificuldades para se adaptar ao esquema do novo técnico, assim como a maioria do elenco.
Renato Paiva traz consigo a ideia de um esquema de jogo posicional, baseado em ocupação de espaços, saída de bola com troca de passes, laterais ofensivos (que muitas vezes fazem papel de pontas) e pontas que centralizam para a passagem dos laterais.
Em seu início de trabalho, Paiva promoveu mudanças e atuou na maioria dos jogos em uma formação com 3 volantes de ofício, adiantando um deles para a função de meia.
Outros jogadores sacrificados
Em meio a essas mudanças táticas, outros jogadores vêm atuando fora de suas posições de origem. Em entrevista coletiva após a partida contra o Bragantino, Paiva ressaltou que uma de suas metas é recuperar o futebol de Patrick de Paula.
O volante vem sendo utilizado em uma posição de terceiro homem de meio campo, numa tentativa de estar mais próximo da área adversária. Contudo, o que se apresenta até o momento, é uma clara dificuldade do camisa 6 de jogar com a missão de ser um articulador de jogadas e atuar junto com Marlon Freitas.
Além disso, na tentativa de dar vida a essa nova função de Patrick, outra peça importante tem sido deslocada: Savarino. O camisa 10 saiu de sua função mais centralizada na armação de jogadas para se tornar uma espécie de ponta esquerda.
Numa equipe, até aqui, com poucas aproximações e com grande necessidade de recomposição defensiva, o venezuelano tem encontrado muitas dificuldades e deixado Alex Telles, muitas vezes, exposto a uma dobra ofensiva dos adversários.
Calendário do Botafogo
O atual Campeão Brasileiro e da Libertadores volta a campo na próxima quarta (16) em um horário pouco habitual em jogos no meio de semana. Às 18h30min (de Brasília), no Estádio Nilton Santos, o Alvinegro recebe o São Paulo pela 4ª rodada do Brasileirão.
No próximo final de semana, o desafio será na Arena MRV, em Belo Horizonte, diante do Atlético MG, também pela competição nacional. O duelo entre os dois finalistas da última edição da Libertadores está marcado para domingo (20), às 16h (de Brasília).
Pela Libertadores, a equipe volta a campo no dia 23 de abril, às 21h30min (de Brasília) em um duelo direto contra o Estudiantes, no Estádio Jorge Luis Hirschi, em La Plata, na Argentina.
Foto destaque: Igor Jesus com troféu de Campeão da Libertadores pelo Botafogo (Reprodução/Getty Images Embed Sport/Buda Mendes/Equipe)