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Futebol feminino: Conheça as justificativas para proibir esse esporte às mulheres no Brasil e na Europa

Além do Brasil: França, Alemanha, Bélgica, Paraguai e Reino Unido também têm o histórico de proibir a modalidade feminina em seus respectivos países. 

20 Jul 2023 - 17h14 | Atualizado em 20 Jul 2023 - 17h14
Futebol feminino: Conheça as justificativas para proibir esse esporte às mulheres no Brasil e na Europa Lorena Bueri

O futebol masculino crescia os holofotes no país durante a década de 40 e, conheceria o seu rei, Pelé, na seguinte. Já o futebol feminino, no mesmo período, se expandia e mostrava as caras perante o predomínio masculino nesse esporte. Contudo, devido aos preconceitos da época, essa modalidade ficou restrita às mulheres durante 44 anos. 

Outros países como Paraguai, França, Reino Unido, Alemanha e Bélgica, também adotaram essa prática, entretanto, o Brasil é o que mais se destaca na restrição dessa modalidade às mulheres. Entenda a seguir. 

Decreto 3.199 e a declaração do fim do futebol feminino

O Brasil se destacou na história do futebol feminino negativamente, aplicando durante o regime de Getúlio Vargas, em 1941, o decreto 3.199 que proibia as mulheres de atuarem por organizações de desportos e, também, de praticar esse esporte nas ruas ou onde for.

“Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza", era o que dizia o decreto 3.199.

Aliás, não era só o futebol que estava extinto para as mulheres, mas também qualquer esporte mais firme, como lutas, por exemplo. 

E, apesar de haver decreto, não havia punição estabelecida. Cada delegacia impunha a sanção que achasse necessária. Portanto, a maioria dos casos terminava em mulheres detidas, porém só davam depoimentos e logo eram liberadas.  

De acordo com a historiadora Aira Bonfim, especializada em futebol feminino, a resistência da sociedade da época motivou a proibição. Ademais, outro fato que impactou a sociedade foi a partida realizada no recém-inaugurado Pacaembu, em maio de 1940,  entre dois clubes do subúrbio do Rio de Janeiro, Casino de Realengo e Sport Club Brasileiro, onde ambas as equipes eram compostas por mulheres. 

Além de polêmica, causou a divisão da opinião pública e da imprensa. Mesmo sem ter uma opinião majoritária, uma ideia ainda era consolidada: homens e mulheres deveriam desempenhar papéis específicos.


Matéria no jornal 'O Imparcial' em 1941 sobre futebol feminino. (Foto destaque: Reprodução/AcervoDaFundaçãoBibliotecaNacionalBrasil/G1)


A repercussão dessa partida foi tão grande que chegou até o presidente Vargas, através de uma carta, de um cidadão carioca chamado José Fuzeira, onde foi determinante para o veto deste decreto. Essa carta continha informações a qual dizia que poderia  "afetar, seriamente, o equilíbrio psicológico das funções orgânicas". 

Bonfim também disse à BBC Brasil que a preocupação, de fato, não era sobre a capacidade feminina de reprodução ou com a saúde, e sim firmar o preconceito existente na época, já que muitas das jogadoras vinham de classe mais baixa na sociedade. 

"Elas eram ainda muitas vezes associadas a uma disrupção social, como se elas fossem prostitutas ou fizessem coisas que não podiam ser ditas naqueles ambientes.", diz a historiadora à BBC Brasil. 

Além da historiadora Aira Bonfim, a historiadora Brenda Elsey, professora da Universidade Hofstra e autora do livro Futbolera: A History of Women and Sports in Latin America, também concorda que essa não era a verdadeira preocupação já que: 

"Na década de 1940 já se sabia muito bem que o esporte não era prejudicial. Na verdade, havia toda uma escola no Rio de Janeiro desenvolvendo pesquisas sobre como a atividade física beneficia a saúde materna", diz e, ainda complementa: “tudo não passou de uma tática para limitar a liberdade das mulheres, suas atividades no tempo livre e sua capacidade de expressão, além de uma grande demonstração de homofobia."

Este decreto perdurou por 38 anos, até sua revogação em 1979. Contudo, sua devida regulamentação só aconteceu mesmo em 1983. No entanto, nesse período de três décadas, as mulheres não pararam. Se vestiam como homens, jogavam à noite ou em espaços privados. E, quando eram abordadas por policiais, corriam em direções opostas, para dificultar o seu trabalho.


Matéria de 1941 no jornal 'A Batalha' sobre prisão de diretora de time de futebol feminino. (Foto destaque: Reprodução/AcervoDaFundaçãoBibliotecaNacionalBrasil/G1)


Todavia, por mais que ainda conseguiam jogar futebol, a modalidade feminina brasileira foi muito prejudicada, diz Júlia Barreira, professora do curso de Educação Física da Unicamp, porque nesse período não houve desenvolvimento no futebol feminino. 

"As meninas e mulheres desafiaram o decreto, ocuparam os campos de várzea e se organizaram em espaços periféricos para continuar praticando a modalidade, mas perderam totalmente as competições e organizações esportivas que as apoiavam", diz, segundo o G1. 

Ela também ressaltou a diferença de conquistas entre a seleção masculina e a feminina, onde a masculina conquistou 5 vezes a Copa do Mundo e, a seleção brasileira feminina, conquistou somente um vice em 2007.  

"Passamos quase quatro décadas sem competições oficiais para que elas praticassem e se desenvolvessem, estrutura para apoiá-las ou formação de treinadores e treinadoras com qualificação para trabalhar especificamente com esse grupo."

Reino Unido

Já no Reino Unido, a popularidade do futebol estava ascendendo, conquistando cada vez mais públicos, porém com a chegada da Primeira Guerra Mundial, tudo mudou. O Campeonato Inglês teve que ser suspenso e, assim, as mulheres tiveram que preencher as lacunas deixadas, como nas fábricas, a qual já trabalhavam por conta da falta de homens disponíveis para o trabalho. Aliado a isso, o futebol era uma ótima maneira de manter as mulheres sadias e fortes para o trabalho nas fábricas. 

No início, as fábricas só organizavam torneios para fins de caridade, no entanto, a popularidade cresceu tanto que houve até turnê da equipe Dick, Kerr’s Ladies, uma das melhores equipes de futebol feminino na época. Aliás, algumas partidas do time britânico atraiu mais de 50 mil espectadores em suas arquibancadas. Inclusive, Lily Parr, uma das maiores artilheiras da Inglaterra fazia parte dessa equipe. 


Dick, Kerr Ladies (de branco) jogando uma partida internacional. (Foto destaque: Reprodução/GettyImages/BBC)


A partir desse crescimento, ainda mais para a época, a Federação Inglesa de Futebol (FA) temia que isso atrapalhasse o futebol masculino, assim, em 5 de dezembro de 1921, atribuiu a seguinte restrição: qualquer mulher estava proibida de jogar nos campos de futebol associado à FA. 

A versão oficial como justificativa dessas ações era a mesma que a brasileira: perigo de infertilidade e saúde. E, com essa regra em vigor, muitas equipes femininas perderam força e não tinham mais como se sustentar, acabando com a maioria dos clubes. 

Essa proibição só foi retirada quase 50 anos depois após a pressão da Fifa (Federação Internacional de Futebol) sobre a FA. Na sequência, a Associação de Futebol Feminino (WFA) foi formada.

Europa e Paraguai

Após a Inglaterra vetar o futebol feminino no país praticamente, parte da Europa também decidiu aderir ao mesmo caminho. Na Alemanha Ocidental, ficou proibido esse esporte às mulheres entre 1955 e 1970. Inclusive, se usou a mesma explicação a Federação Alemã de Futebol, o "esporte agressivo" era incomum "à natureza da mulher".

Já o futebol francês feminino teve um forte impacto quando dividiu território com a própria Alemanha, durante o governo de Vichy, que se dividiu entre 1940 e 1944, adotando a proibição da prática desse esporte para as mulheres até a Federação Francesa de Futebol reconhecer oficialmente o futebol feminino em março de 1970. 

Na Bélgica, a proibição foi longínqua como no Brasil. Durou praticamente 50 anos, de 1920 a 1970, e só foi revogada a proibição após pressão dos jogadores em cima da Real Associação Belga de Futebol.

E, além do Brasil, o Paraguai também foi outro país sul-americano a aderir essa restrição de acordo com os registros. Foi decretado em 1960 que as mulheres não poderiam jogar futebol, com a mesma premissa de ir contra “natureza da mulher” e que poderia afetar sua fertilidade.

Foto destaque: O time Dick, Kerr's Ladies em foto de 1922. Reprodução/MemoryLane

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