A Fifa e a Conmebol comunicaram à CBF na noite, da última quinta-feira (14) que virão ao Brasil para acompanhar de perto o processo na qual a confederação de futebol passa. Na semana passada, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro destituiu o então presidente Ednaldo Rodrigues e nomeou José Perdiz, presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) como interventor. Porém os dois orgãos entendem que esse é a nomeação incorreta. Na visão dos dois, quem deveria ter assumido o comando da entidade é Hélio Santos Menezes (diretor de complience e governaça), por conta disso os dois virão ao Brasil, em janeiro.
Segundo os jornalistas André Rizek e Martín Fernandéz do Grupo Globo, uma carta conjunta que foi assinada pelos dirigentes das duas entidades alertam a CBF que nenhuma eleição deve ser convocada ou realizada até que uma delegação das das duas entidades visite o Brasil, no próximo mês de janeiro para avaliar a situação e discutir o assunto com as partes envolvidas.
Perdiz elogiou a participação da Fifa no processo eleitoral da CBF por meio de sua assessoria de imprensa, e afirmou que irá convocar as eleições da entidade em 30 dias: "É com satisfação e respeito que recebemos a carta da Fifa. Vejo como um sinal positivo termos a entidade acompanhando o processo eleitoral na CBF. Conforme determinação da Justiça brasileira, confirmada pelo STJ, vou convocar em 30 dias as eleições, dentro da transparência e da lisura exigidas". Afirmou José Perdiz ao "ge", mas não comentou nada sobre o fato das duas entidades não o reconhecerem como interventor.
Carta
Fifa e Conmebol enviaram uma carta à CBF, ele foi endereçada a Alcino Reis ex-secretário geral, que foi destituído por José Perdiz, que por sua vez nomeou Caio Rocha para ocupar a posição. No documento ambas as entidades explicam que já receberam todos os documentos referentes ao processo jurídico relacionado à destituição de Ednaldo Rodrigues. Os dois afirmam estarem preocupados com a situação da CBF, e que o estatuto da entidade obriga que a confederação conduza seus assuntos de maneira independente de uma terceira parte.
No documento, a Fifa afirma que se as medidas do tribunal de justiça se constituírem como interferência de terceiros, as duas entidades não terem alternativas e terão que aplicar sanções à CBF. No restante do documento a Fifa afirma que a eleição da confederação que foi marcada pela justiça não deve acontecer antes da visita das duas entidades ao Brasil, em janeiro. A carta enviada à CBF foi assinada pelo chefe de associações membros da Fifa, Kenny Jean-Marie, e pela secretária-geral da Conmebol, Monserrat Jiménez Granda.
Entenda a situação
Toda essa situação começou no ano de 2017, quando o Ministério Público do Rio de Janeiro questionou na Justiça a realização de uma Assembleia Geral da CBF que alterou regras para as eleições da entidade. Essa decisão ocorreu sem participação dos clubes, isso gerou reclamação do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Na época, a CBF era presidida por Marco Polo Del Nero. E foi com essas regras eleitorais, que vieram a ser contestadas pelo ministério público, que Rogério Caboclo foi eleito presidente da CBF em um mandato que duraria de abril de 2019 até abril de 2023.
Em julho de 2021, quando Rogério Caboclo estava afastado da presidência da CBF por denúncias de assédio sexual, a Justiça do Rio de Janeiro anulou sua eleição – e a de seus vices – e decretou uma intervenção na entidade. Depois disso, Antonio Carlos Nunes assumiu interinamente a CBF, antes disso ele era vice-presidente na chapa de Caboclo.
Um mês depois, a justiça do Rio de Janeiro nomeou Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista, porém essa decisão foi anulada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro dias depois. No mesmo mês, os vices da CBF nomearam Ednaldo Rodrigues como presidente interino da confederação até o final do mandato de Rogério Caboclo, que terminaria em abril deste ano.
Alguns meses depois, em março de 2022, Ednaldo Rodrigues e o Ministério Público do Rio de Janeiro assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que estabelecia novas regras eleitorais à CBF, em teoria isso iria extinguir a ação que determinou a intervenção na CBF.
Com essas novas regras, Ednaldo Rodrigues se elegeu presidente da CBF como candidato único em 2022, em um mandato que iria até 23 de março de 2026. Porém houve vices-presidentes que contestaram a assinatura de um acordo com o Ministério Público.
Ednaldo Rodrigues durante o sorteio da final da Copa do Brasil (Foto: reprodução/ Fred Gomes/GE)
Em 2023, Gustavo Feijó, que foi um dos vices de Caboclo, acionou a 2ª instância. O pedido era que o TAC fosse anulado, e Ednaldo afastado, alegando que o juiz de 1ª instância não tinha atribuição para homologar o TAC. Isso foi acatada pelo TJ-RJ e Ednaldo Rodrigues foi destituído do seu cargo de presidente da CBF.
Foto destaque: Sede da Fifa, em Zurique, Suiça (Foto: Fabrice Coffrini/ AFP)