O presidente do Corinthians, Augusto Melo, concedeu uma entrevista coletiva nesta sexta-feira (23), na Neo Química Arena, ao lado de seu advogado, Ricardo Cury, para comentar o indiciamento no inquérito que apura supostas irregularidades no contrato de patrocínio com a casa de apostas "Vai de Bet". A Polícia Civil acusa Melo de lavagem de dinheiro, associação criminosa e furto qualificado, envolvendo R$ 1,4 milhão repassados à empresa Rede Social Media Design LTDA.
Mesmo diante das acusações e do relatório policial, Melo reafirmou que não pretende renunciar ao cargo e nega qualquer responsabilidade sobre os repasses financeiros investigados. O presidente do Corinthians destacou que confia na Justiça e aguarda o avanço das investigações para comprovar sua inocência. A votação do processo de impeachment está marcada para segunda-feira (26), no Conselho Deliberativo do clube.
O advogado Ricardo Cury demonstrou surpresa com a divulgação do relatório final do inquérito na véspera da votação e sugeriu que a antecipação possa ter motivações políticas. Segundo ele, havia sido comunicado ao delegado responsável, Tiago Correia, que a reunião sobre o impeachment seria retomada no dia 26, o que torna o vazamento "estranho e inoportuno".
Investigação aponta caminho do dinheiro e conexões suspeitas
De acordo com as investigações conduzidas pela Polícia Civil, o Corinthians efetuou um pagamento de R$ 1,4 milhão à empresa Rede Social Media Design LTDA, pertencente a Alex Cassundé, responsável pela intermediação do contrato com a casa de apostas. A partir desse repasse, os investigadores identificaram que a empresa intermediária realizou dois pagamentos, de R$ 580 mil e R$ 462 mil, para a Neoway Soluções Integradas, apontada como empresa de fachada.
Augusto Melo (Foto:reprodução/SportsPressPhoto/GettyImagemEmbed)
A Neoway, registrada no nome de Edna Oliveira dos Santos, moradora de um bairro de baixa renda em Peruíbe, litoral de São Paulo, transferiu R$ 1 milhão para a Wave Intermediações Tecnológicas. Esta, por sua vez, realizou três movimentações financeiras, totalizando R$ 874 mil para a UJ Football Talent, empresa que já foi citada em investigações sobre lavagem de dinheiro para o crime organizado.
Ligação com o crime organizado e repercussão no clube
A UJ Football Talent, envolvida na cadeia de transações financeiras, foi mencionada anteriormente em investigações do Ministério Público de São Paulo, que apuravam a atuação do crime organizado. A empresa apareceu no depoimento de Antônio Vinicius Gritzbach, conhecido como “delator do PCC”, assassinado com 29 tiros em novembro de 2024, no aeroporto de Guarulhos, após colaborar com as autoridades.
Imagem de Augusto Melo com a bandeira do Corinthians (Foto: reprodução/HeulerAndre/GettyImagemEmbed)
Com a revelação desses fatos, o indiciamento atinge também outros ex-dirigentes do Corinthians: Marcelinho Mariano, ex-diretor administrativo, Sérgio Moura, ex-superintendente de marketing e Alex Cassundé, dono da Rede Social Media Design LTDA. O episódio intensifica a crise política no clube e coloca ainda mais pressão sobre a gestão de Augusto Melo, que tenta se manter no cargo em meio ao avanço das investigações e à votação do impeachment.
Foto destaque: Augusto melo (Reprodução/EurasiaSportImages/GettyImagemEmbed)