"Estão deixando a gente sonhar", assim diz uma expressão popular. E se depender da opinião da crítica de cinema Wendy Ide, o sonho cinematográfico de “Ainda estou Aqui” de ganhar um “Oscar” pode sim se tornar realidade.
Em sua resenha publicada no Jornal britânico "The Guardian", no último domingo, (23), Wendy teceu muitos elogios gerais ao filme de Walter Salles e disse que o longa-metragem brasileiro passou a ser o franco favorito a vencer a disputa, pelo menos na categoria de “Melhor Filme Internacional”, ultrapassando assim as expectativas em torno do, então preferido dos críticos, filme francês musical de comédia criminal, “Emília Perez”. O motivo alegado para a mudança de predileção é a polêmica criada recentemente sobre antigos tweets da atriz espanhola, Karla Sofía Gascón, protagonista da obra francesa.
"“Ainda Estou Aqui" está na disputa pelos prêmios de ‘Melhor Filme’ e ‘Melhor Filme Internacional’ e, após o fiasco de “Emília Perez”, é o favorito na última categoria”, crava Wendy Ide.
Crítica britânica dá nota máxima ao filme de Walter Salles
No texto, Wendy descreve como fenomenal a atuação da protagonista Fernanda Torres, que interpreta a personagem Eunice Paiva, esposa do então ex-deputado Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello. No drama, após ser levado de dentro de casa por agentes do governo militar da época, Rubens foi dado como desparecido e mais tarde descobriu-se que ele havia sido assassinado pela ditadura brasileira. Segundo a especialista em cinema, Fernanda mereceu ser indicada como melhor atriz.
O ator Selton Mello, a atriz Fernanda Torres e o diretor de “Ainda Estou Aqui”, Walter Salles, posam para foto no Globo de Ouro (Foto: reprodução/Instagram/@seltonmello)
Ainda na resenha, a crítica britânica salientou também a sensibilidade que os brasileiros tiveram para escolher a trilha sonora. Na opinião de Wendy, as cenas impactantes quebram o espectador. Wendy conclui dando a nota máxima de cinco estrelas ao filme e diz que “Ainda Estou Aqui” traz o Walter Salles em seu auge como diretor de cinema.
A polêmica sobre as mensagens
Recentemente, Karla Sofía Gascón teve suas mensagens resgatadas do período da pandemia de Covid-19 e passou a ser acusada de xenofobia e de preconceitos, de ser racista e de ser antivacina da Covid-19. Após o episódio ganhar uma dimensão inesperada e uma repercussão incontrolável, por meio de redes sociais Karla Sofía veio a público esclarecer e se desculpar e depois excluiu seu próprio perfil no X a pedido de familiares. Em seu perfil do Instagram ela diz que suas palavras foram retiradas de contexto e nega ser aquilo de que foi rotulada. Ela assume, contudo, que usou as palavras inadequadas e acabou sendo mal interpretada.
Karla Sofía Gascón posa para foto em evento em janeiro deste ano no Cineapolis Plaza Carso, no México (Foto: reprodução/Medios y Media/Getty Images Embed)
Em tempos de cancelamento, os comentários supostamente ofensivos de Karla Sofía fizeram o filme francês ir do céu ao inferno em pouco tempo. O teor de mensagens do passado provocou, no presente, uma reação em cadeia de descredibilização repentina ao musical “Emília Perez” e, principalmente, à atriz. Então, se antes o conjunto da obra e suas atuações eram motivo de elogios e de admiração, capazes de lhes renderem 13 indicações ao Oscar, agora, por conta das opiniões de Karla na rede social resgatadas de anos atrás, exatamente neste momento de decisão, o filme e a atriz tornaram-se alvo de duras críticas, fazendo o filme passar a ser preterido na escolha pelo melhor filme internacional.
Selton Mello, Fernanda Torres e o mediador Jenelle Riley são aplaudidos de pé na exibição especial independente de “Ainda Estou Aqui”, no AMC The Grove em novembro de 2024, em Los Angeles (Foto: reprodução/Amanda Edwards/Film Independent/Getty Images Embed)
De acordo com Wendy Ide, essa nova configuração tende a favorecer “Ainda Estou Aqui” na disputa pelo triunfo dentre as produções não americanas.
Foto destaque: os atores Selton Mello e Fernanda Torres à esquerda ao lado do diretor Walter Salles no tapete vermelho do Festival de Veneza (Reprodução/Alberto Pizzoli/AFP)