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[Crítica] “Wicked” prova que é possível chorar pela Bruxa em adaptação magistral

Um dos lançamentos mais aguardados de 2024, estrelando Cynthia Erivo e Ariana Grande estreia hoje (21) nos cinemas.; confira nossa crítica

21 Nov 2024 - 06h01 | Atualizado em 21 Nov 2024 - 06h01
[Crítica] “Wicked” prova que é possível chorar pela Bruxa em adaptação magistral Lorena Bueri

“Como alguém me disse recentemente: todos merecem a chance de voar” - “Defying Gravity” (2003)

“Ninguém chora pela bruxa”, é o que diz um trecho da canção “No One Mourns the Wicked” (2003). Mas…será mesmo? Jon M. Chu (“Podres de Ricos”, 2018), Cynthia Erivo (“Harriet”, 2019) e Ariana Grande (“Não Olhe para Cima”, 2021) provam o contrário com a adaptação de um dos musicais mais famosos do mundo: “Wicked”, do universo do “Mágico de Oz”, que, após encantar gerações em inúmeras montagens teatrais desde 2003, finalmente ganhou um filme tão grandioso quanto – ou até mais – nos cinemas.

Trama de “Wicked”

Tempos antes de Dorothy, uma menininha de bom coração, ser transportada da fazenda que morava com os tios, no Kansas, para a mágica terra de Oz, por um enorme furacão; ser aconselhada pela Bruxa Boa do Norte; apavorada pela Bruxa Má do Oeste; criar uma amizade com o espantalho que queria um cérebro, um homem de lata que queria ter um coração e um leão que buscava coragem; e, finalmente conhecer o Mágico de Oz; Elphaba, a Bruxa Má do Oeste, e Glinda, a Boa do Norte, tiveram um passado em comum.


Assista ao trailer de "Wicked" (Reprodução/YouTube/Universal Pictures Brasil)


“Wicked” se passa justamente neste contexto. Antes de terem seus destinos selados, as bruxas, colocadas como opostas no tradicional “O Mágico de Oz”, livro de L. Frank Baum (1900) e o filme homônimo de Victor Fleming (1939), foram boas e improváveis amigas. Vale ressaltar que a trama de “Wicked” não é um cânone na terra de Oz, ou seja, é uma obra separada, que reimagina uma expansão do universo e elementos já conhecidos. O livro, de Gregory Maguire (1995), foi publicado sem maiores implicações com direitos autorais, já que “O Mágico de Oz” já era de domínio público na época.

No entanto, mais tarde, abraçada como uma prequela de um dos universos mais mágicos da literatura, cinema e teatro, “Wicked” conta a origem das duas bruxas, Galinda e Elphaba. Na releitura cinematográfica, as duas se conhecem em Shiz, a escola de magia de Oz. Causando espanto por onde passava por sua pele verde, a astuta, inteligente e empática, Elphaba (Cynthia Erivo), se vê matriculada na escola por um acaso, na verdade, por ter seus dons notados por Madame Morrible (Michelle Yeoh), a diretora da Universidade.


Ariana Grande e Cynthia Erivo como Glinda e Elphaba em "Wicked" (Foto: reprodução/Universal Pictures)


No meio dos demais estudantes, uma figura se destaca: a loira, popular e ligeiramente arrogante, Galinda (Ariana Grande). A inimizade entre as duas é instantânea, e selada quando são obrigadas a dividir o mesmo quarto. No entanto, as diferenças que antes as repeliam, passam a uni-las em um laço de amizade forte, único e aparentemente indestrutível. Porém, a relação das bruxas é posta em teste quando viajam à Cidade das Esmeraldas para conhecer o tão poderoso Mágico de Oz, que pode mudar seus destinos.

A grandiosidade dos palcos foi ampliada nas telas

Quão desafiador seria recriar um dos universos mais amados do teatro há mais de 20 anos, em uma adaptação que não só respeite a história que a peça carrega, mas que também seja capaz de transportar toda a grandiosidade dos cenários para o mundo do cinema e suavizar a linguagem proposital e necessariamente expansiva da 5ª arte, sem perder a essência do clássico?


Jon M. Chu com Cynthia Erivo e Ariana Grande nos bastidores de "Wicked" (Foto: reprodução/Universal Pictures)


O cineasta Jon M. Chu, já conhecido por dirigir musicais como “Ela Dança, Eu Danço 2” e “Em Um Bairro de Nova York”, aceitou a empreitada, entregando, talvez, o musical de fantasia mais notório desde “O Rei do Show” (2017), com uma menção honrosa ao ótimo “Wonka” (2023). Mas por que “Wicked” é tão fascinante, além de sua ótima dupla de protagonistas? Preservando a origem inegavelmente teatral que essa trama carrega, a prequela praticamente não usa CGI na cenografia, criando cenários monumentais e práticos, como a vila dos Munchkins, em que plantaram cerca de 9 milhões de tulipas para o clássico campo de flores de Oz, além de todas as instalações e casas do vilarejo.

A universidade de Shiz, a deslumbrante Cidade das Esmeraldas, e até mesmo o trem que transportava Elphaba e Glinda até lá, todos os detalhes construídos humanamente, sem o uso – já cômodo, atualmente, e, por vezes, empobrecedor – de CGI. Com isso, Jon dá a chance do público ser imerso em Oz junto às personagens, fazendo com que esse universo tão pouco tangível se torne tátil ao espectador. A grandiosidade da cenografia se soma ao brilhantismo de figurinos belíssimos, que acompanham as fases das personagens, desde os uniformes do colégio, aos trajes característicos da dupla, e um trabalho de maquiagem e penteado de alto nível.


Parte do cenário de "Wicked" (Foto: reprodução/Universal Pictures)


A essência de “Wicked” está em Erivo e sua tocante dinâmica com Ariana

No entanto, apesar de todo o fabulismo, a essência de “Wicked” está no seu tom intimamente humano, que aqui, carrega ainda mais significado ao ter uma mulher negra vivendo Elphaba. À primeira vista, pode parecer óbvio: a história de uma mulher, discriminada e vilanizada por seu tom de pele, que inicia uma luta política e social, que apesar de não ser benéfica à ela, no final, se torna um instrumento de mudança para a sociedade. Porém, a personagem, em mais de 20 anos da peça na Broadway, nunca foi interpretada oficialmente por uma mulher preta, e Cynthia afirma isso em entrevista ao New York Times: “Historicamente, mulheres negras nunca foram realmente vistas para o papel. Se foram, elas não conseguiram. E, se conseguiram, são normalmente alternantes ou covers”.


Cynthia Erivo como Elphaba em "Wicked" (Foto: reprodução/Universal Pictures)


A escalação de Erivo traz outros ares não só à produção, mas à personagem e seu significado. Ao reimaginar a origem de uma mulher posta como a malvada de “O Mágico de Oz”, a pondo em um lugar de destaque e, acima de tudo, humanidade, talento e força, como uma pessoa preta, “Wicked” abre as portas de Oz à pluralidade tão pouco vista em versões anteriores da história, dando ao público a decisão de qual lado tomar partido, mas, agora, conhecendo Elphaba além da alcunha de Bruxa Má do Oeste, podendo, finalmente, vê-la também como uma heroína, que lutou pelo seu direito de existir plenamente como era.

E, “Wicked” não seria a potência que é, sem suas protagonistas. Cynthia Erivo e Ariana Grande são gigantes na tela. Com uma dinâmica tocante, sincronizada e engraçada, as atrizes parecem ter sido escolhidas a dedo, assim como Jonathan Bailey para o galanteador Fiyero. Por começar pela tão polêmica escalação de Grande, uma das maiores estrelas pop da atualidade, para viver a clássica Glinda: resgatando suas raízes cômicas na atuação, como nos tempos em que viveu a icônica Cat nas produções “Brilhante Victoria” e “Sam & Cat”, na era de ouro da Nickelodeon, Ariana entrega ao público uma bruxa caricatamente engraçada, da melhor maneira possível, a ponto de não acharmos viável outra intérprete.


Ariana Grande como Glinda em "Wicked" (Foto: reprodução/Universal Pictures)


Com um timing impecável para a graça, e também para o lado dramático da personagem, a artista vive a melhor performance da carreira de atriz, cumprindo a promessa que fez a Chu, de cuidar muito bem de Glinda, que era seu maior sonho enquanto atriz. Já Erivo, vencedora do Tony pelo espetáculo “A Cor Púrpura” (2016), é arrebatadora. Encarnando uma Elphaba forte, decidida e justa, a atriz mostra o porquê pode se tornar a EGOT mais nova do seleto grupo, com uma atuação catártica e um timbre imponente.

Juntas, a dupla serve números musicais monumentais, entoando canções clássicas como “The Wizard and I”, “Popular” e “Defying Gravity”, que se tornam ainda mais bonitas graças à escolha de apresentarem ao vivo durante as gravações, gravações essas que Cynthia Erivo fez questão de voar sem dublês em um dos momentos mais esperados de “Wicked”, que apesar de se alongar em alguns momentos desnecessariamente, é um musical tão grandioso, dando a chance do público voar e chorar com Elphaba e Glinda. "As pessoas nascem más? Ou a maldade é algo imposto à elas?" Para descobrir, você vai precisar assistir “Wicked”, que chega aos cinemas brasileiros hoje (21).


Nota: ★★★★½

Foto destaque: Pôster de "Wicked" (Foto: reprodução/Universal Pictures)

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