Na época das cinebiografias, tornou-se um desafio diferenciar-se entre as demais, mas “Bob Marley - One Love” parte da vantagem de retratar um dos maiores ícones do mundo da música e da luta pela paz e igualdade racial. Marcado por caracterizações e performances potentes, e, claro, por muito reggae, o longa da Paramount chega aos cinemas nacionais nesta quinta-feira (15), tendo sessões antecipadas desde o dia 12, e é feliz em relembrar ou reapresentar Bob Marley ao novo público, embora falte algo para se tornar memorável.
Contexto histórico
“Bob Marley - One Love” se passa em um período conturbado e de mudanças na Jamaica, país de origem do cantor. A nação conquistou a independência em 1.962. Em fase de crescimento econômico, mas com as desigualdades sociais acentuadas, dois partidos, o Partido Nacional do Povo e o Partido Jamaicano dos Trabalhadores, dividiram a jovem república em “duas” e a escalada da violência aumentou os conflitos no território.
Com o intuito de encerrar a guerra, em 1.978, Bob Marley (Kingsley Ben-Adir) aceitou retornar à Jamaica para realizar um show em prol da paz no país. O longa se passa entre esse período de tensão, o exílio do cantor e a importância do concerto para a Jamaica, enquanto expõe o processo criativo do artista, sua relação com Rita Marley (Lashana Lynch), o sucesso mundial e o local da fé Rastafari em sua vida e obra.
Caracterizações e performances de ponta
Um dos grandes acertos do longa dirigido por Reinaldo Marcus Green (“King Richard”) é a caracterização impressionante dos personagens. Kingsley Ben-Adir (“Invasão Secreta”) está irreconhecível em comparação com outros papéis, como o de um dos Ken's, em “Barbie” (2023). Para além da semelhança gerada, o ator encarnou a persona e a entrega de Marley dentro e fora dos palcos.
A performance de Kingsley é imersiva e permite que o público se sinta mais próximo de Bob Marley para além do lado artístico, mas conheça seu lado vulnerável. Com o papel, o ator cumpre o intuito de (re)apresentar um dos maiores ícones do reggae ao espectador. É como se Kingsley pudesse levar a mensagem de Marley àqueles que se atentarem a ouvi-la.
Para além, outros personagens também seguem o padrão de uma caracterização e atuação de ponta. É o caso da cantora Rita Marley, esposa de Bob Marley, interpretada pela atriz britânica Lashana Lynch. Rita nos é apresentada como um dos principais alicerces da carreira e da vida de Bob. Uma mulher de fibra e resistência, encarada com maestria pela atriz, que contracena com Kingsley as cenas mais fortes do longa.
Falta de aprofundamento nas relações de Marley
No entanto, é esse um dos pontos falhos de “Bob Marley - One Love”. Uma abordagem um tanto superficial ao tratar das relações interpessoais do cantor. Rita está ali o tempo todo e há evidentes sinais de desgaste na relação por diversos motivos, mas falta aprofundamento nessa defasagem. Em um vai e vem frequente, nos faltam detalhes que poderiam ser salpicados nas 1h47 de filme. No entanto, não chega a gerar um grande buraco no roteiro. É uma questão de escolha deixar tais quesitos subentendidos, assim como uma atenção maior na relação de Bob com os filhos.
Kingsley Ben-Adir e Lashana Lynch em "Bob Marley - One Love" (Foto: reprodução/Paramount Pictures)
Conclusão
Tendo como grande destaque as atuações potentes, o longa compreende um bom e importante período de tempo e acontecimentos na vida do astro. E, por mais que seja um filme curto, em comparação com o padrão atual, não é apressado e nem deixa a história se embolar, embora utilize diversos flashbacks como recurso fundamental. Foi uma escolha inteligente exaltar a fase, sem deixar a juventude e a fé de fora, já que as questões permeavam diretamente a obra de Bob Marley. "Bob Marley - One Love" é um bom filme, mas deixa um gostinho de quero mais.
Nota: ★★★1/2
Foto destaque: Kingsley Ben-Adir como Bob Marley (Reprodução/Paramount Pictures)