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[Crítica] “Anora” é dramédia brilhante com toques de conto de fadas fracassado

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, e um dos maiores concorrentes da temporada, consagrado como Melhor Filme no Critics Choice, DGA e PGA Awards, está em cartaz nos cinemas brasileiros; confira nossa crítica

11 Fev 2025 - 18h50 | Atualizado em 11 Fev 2025 - 18h50
[Crítica] “Anora” é dramédia brilhante com toques de conto de fadas fracassado Lorena Bueri

“Eu gosto de Anora, mais do que gosto de Ani. Anora significa romã, luz…e brilhante” – “Anora” (2024)

“Hoje, este poderia ser o melhor dia das nossas vidas”. É ecoando o otimismo de “Greatest Day”, canção de Take That, que Sean Baker (“Tangerina”, “Projeto Flórida”) inicia seu “Uma Linda Mulher” às avessas, com Anora (Mikey Madison), a protagonista que dá título à obra, exercendo sua profissão de stripper em uma boate localizada em uma Nova Iorque russa pouco explorada.

Com o traço marcante de dar voz aos marginalizados e torná-los evidentes em um mundo que prefere ignorá-los e usá-los, Baker transforma um conto de fadas em tragédia em um piscar de olhos, fazendo de “Anora” um filme que vai te fazer chorar de rir e ter peso na consciência por achá-lo cruelmente tão engraçado, usando do humor como válvula de escape do puro drama intrínseco na figura dessa jovem invisibilizada pelo luxuoso e frio mundo ao redor.


Pôster de "Anora" (Foto: reprodução/Universal Pictures)


Trama de “Anora”, o “Pretty Woman” subverso

Anora (Mikey Madison), ou Ani, como prefere ser chamada, é dançarina em um strip club luxuoso no Brooklyn, em Nova Iorque, e oferece serviços extras a alguns clientes para complementar a renda. Em mais uma noite de trabalho, a jovem é apresentada a Vanya (Mark Eidelshtein), um riquinho meio fútil e com ar adolescente, filho de um oligarca russo. Em encontros posteriores na mansão do rapaz, Ani imagina ter conseguido seu passaporte para uma vida menos miserável quando ela e Vanya decidem se casar impulsivamente, para que ele possa permanecer de forma legal nos Estados Unidos.


Assista ao trailer de "Anora" (Reprodução/YouTube/Universal Pictures Brasil)


Em uma sequência de aproximadamente meia hora, que mais parece um conto de fadas, os jovens se casam em Las Vegas e aproveitam a vida juntos no frenesi de uma paixão que acabou de começar. É nesse cenário mágico que um final feliz utópico se desmonta em um pesadelo, quando a notícia de que o herdeiro do oligarca havia se casado com uma profissional do sexo, chega até a Rússia.

É a partir desse acontecimento que “Anora” mostra a real face e desconstrói a ideia de que é uma comédia romântica, já que os pais de Vanya/Ivan estão determinados a anular o casamento do filho, enviando capangas para a mansão do casal, ameaçando a recente união dos dois.

A desumanização do corpo feminino e os destroços do sonho americano

Baker está longe de ser um cineasta idealista. Em “Anora” o choque de realidade vem da desilusão do doce sonho americano por parte de uma jovem que se cega pela esperança do amor verdadeiro resgatá-la das amarras do ingrato e desumanizador trabalho sexual. Há quem possa dizer que a protagonista é interesseira, mas discordo solenemente. Através da ternura no olhar de Madison, em uma atuação arrebatadora, vemos o brilho repentino de quem imagina uma possibilidade de ascensão social, e através do mesmo olhar, dessa vez, dolorido e desenganado, que notamos a decepção de uma jovem sendo devolvida à vida miserável em que se via presa.


Cena de "Anora" (Foto: reprodução/YouTube/NEON)


Pouco conhecemos de Anora, e essa é definitivamente uma escolha narrativa de Sean. O que ele nos oferece é o suficiente para desenhar um cenário que é eficiente em retratar e dar contexto às escolhas que guiam a personagem. Quem pode julgá-la por querer ser amada e rica, quando aquele menino de aparência ingênua a proporcionaria os dois desfechos?


Cena de "Anora" (Foto: reprodução/Universal Pictures)


É cômico pensar que ao mesmo tempo em que somos convidados a acompanhar a saga de desventuras de Ani, a trama gira totalmente em torno de Ivan, desde os passos forçados da protagonista, até todos os capangas e os desdobramentos dessa “caçada ao riquinho”. Nesse plano, todos poderiam ter as vidas e carreiras arruinadas por um menino que nunca precisou assumir responsabilidade alguma na vida, e foge de mais uma: defender o matrimônio com a mulher que minutos atrás era seu objeto de devoção. A comédia entra mais uma vez para evidenciar o quão ridícula pode ser a hierarquia no capitalismo. Como um moleque que ainda se submete ao que a mamãe diz, pode controlar os destinos de tantas pessoas?


Cena de "Anora" (Foto: reprodução/YouTube/Universal Pictures)


Para ele, tudo é substituível, ele pode comprar tudo. Ani é a Cinderela, com seu anel de casamento como o sapatinho de cristal, desejando um amor verdadeiro e uma vida social que a visse como humana. Mas no conto de Baker, a gata borralheira toma uma porrada da realidade. Seu príncipe encantado não a resgataria. Na verdade, é ele que cumpre também a função da madrasta, a empurrando para uma sequência de abusos e violências no trajeto fracassado de reencontrá-lo e conseguir convencê-lo de contrariar seus pais e não anular o casamento. Anora é usada e descartada. Além do sexual, ela é usada emocionalmente.

“Anora” é um filme construído de contrastes

A figura de Igor (Yura Borisov), então, surge como um contraponto, um contraste. Esse é definitivamente um filme de contrastes. Quem olha aquele russo brutamonte e amedrontador, jamais imagina que ele é o personagem mais delicado e acolhedor de “Anora”. Chegando de maneira tímida e pouco vista à narrativa, é ele que, no final de tudo, é o único que a vê como gente, que consegue enxergá-la por trás de personalidade forte e da dor evidente. O personagem é um coringa que Baker guarda muito bem para o final.


Cena de "Anora" (Reprodução/Instagram/@anorafilm)


Após a montanha-russa a que foi submetida, Ani se vê sem rumo, de volta ao looping de exploração e miserabilidade. Meio sem pretensão, Igor se torna um pilar emocional para a protagonista, que percebe que o sexo supérfulo não funciona com ele. Ela finalmente revisita seus sentimentos e frustrações reprimidas e se permite desmoronar, se desarmar. É a primeira vez em que a vemos chorar. É a primeira vez em que ela se vê humanizada por alguém. Igor é um alívio que vai além do filme e acolhe também o espectador, que, à essa altura, já se sente sufocado de ver Ani quebrando a cara na sequência frenética que é a segunda parte do longa. Igor é a real manifestação da alma de “Anora”.

Outro contraste que ajuda a desenhar a narrativa, são as escolhas de fotografia e direção de arte. Tomada por luzes neons e roupas coloridas na primeira fase, desde a boate, aos looks de Ani e o luxo de Vegas, o filme muda de atmosfera por completo em seu decorrer, se tornando, esteticamente, outra obra. Agora, para evidenciar o vazio sentido pela protagonista, “Anora” é marcado por tons frios, escuros e opacos, como a paisagem diante da mansão do casal, que vai de ensolarada e radiante para um campo de neve à perder de vista, deixando como um dos únicos pontos de destaques o cachecol vermelho sangue dela.



Oposições. A prostituta que sonha com o amor verdadeiro, a mudança de clima, o brutamontes delicado, o moleque rico sem controle das próprias decisões. Sean Baker constrói uma comédia com tom de denúncia e um cadinho de erotismo, cheia de camadas e contradições que te fazem refletir sobre como o sistema em que vivemos é cruel com os corpos das mulheres, sobretudo, com as pobres e vulnerabilizadas, desaguando em um final carregado pelo drama que esteve à espreita durante todas as 2h20 de longa. “Anora”, o atual favorito à categoria de Melhor Filme no Oscar 2025, dificilmente vai sair de você.


Nota: ★★★★½

Foto destaque: Pôster de "Anora" (Reprodução/Instagram/@anorafilm)

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