A Netflix lançou, no dia 25 de janeiro deste ano, a série “Todo dia a mesma noite" que foi lançado dois dias antes tragédia completar 10 anos, que fala sobre a tragédia da boate Kiss, através de quatro histórias de famílias das vítimas interligadas. Revela detalhes da hora do incêndio que matou 242 pessoas e deixou 632 feridos, até o luto dos familiares que por anos lutam por justiça. E até agora, 10 anos, depois da tragédia ninguém foi punido.
A série é baseada no livro reportagem da jornalista Daniela Arbex, lançado 5 anos após o fato. O assunto da tragédia voltou a ser um dos mais comentados nas plataformas de mídias digitais, tanto pelo lançamento da série, quanto pelos 10 anos de impunidade.
Série "Todo dia a mesma noite" divide opiniões na web (Foto: Reprodução/Netiflix).
Mas as opiniões sobre a série se dividiram, muitos deram seu parecer a favor da série, porque assim ela jamais será esquecida, servindo de alerta para outras boates agirem diferente e evitar que o mesmo aconteça, e também para denunciar a impunidade que se alastra até os dias de hoje, pois depois de 10 anos ninguém foi preso e responsabilizado pelo ocorrido.
Outras pessoas, incluindo muitos familiares das vítimas e sobreviventes, acham que essa série não devia ser lançada, porque desenterra uma história de dor e sofrimento que as pessoas queriam esquecer ou ao menos não lembrar, o que com o sucesso e a repercussão fica difícil.
Muitas famílias afirmaram que se sentiram mal ao assistir, e pela existência dela, por relembrar um passado doloroso que foi exposto para o mundo através de uma série.
Algumas famílias se reuniram para processar a Netflix por conta da série, eles afirmam que não vão admitir que ninguém ganhe dinheiro em cima da dor e do sofrimento que essa tragédia causou.
Esse familiares justificam a revolta pela série: “Nós fomos pegos de surpresa, ninguém nos avisou, ninguém nos pediu permissão. Nós queremos saber quem está lucrando com isso. Não admitimos que ninguém ganhe dinheiro em cima da nossa dor e das mortes dos nossos filhos. Queremos entender quem autorizou, quem foi avisado, porque muitos de nós não fomos”.
Esses pais que pretendem denunciar a Netflix, não fazem parte Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, que são retratadas na série.
A advogada, Juliane Muller Korb, procurada por esses familiares, explica o caso: "Todas as famílias sentem a mesma dor, mas de forma distinta, inclusive em relação a esta série. Todas têm mágoa com o poder judiciário e com a impunidade até aqui. A grande questão é que faltou sensibilidade, por parte da Netflix, de fazer um contato com os pais. Não para pedir permissão nem coibir a licença poética, pois a história não tem dono, mas para avisar que seria algo totalmente diferente de tudo que eles já viram”.
A advogada ainda complementa: “Eles estavam preparados para um documentário, não para uma série dramática. Os pais e os sobreviventes estão ‘acostumados’ a ver materiais jornalísticos, com reproduções e relatos fidedignos. Mas a série é diferente. O impacto foi muito forte porque é uma simulação, uma reprodução, com rostos diferentes, com atores. Eles estão ‘acostumados’ com o pós-tragédia. E a série mostra o antes, então, é como se ocorresse de novo. É uma linha muito tênue entre ficção e realidade”
Esses pais ainda questionam para onde serão repassados os lucros que a Netflix vai arrecadar com a série, pois em suas visões, uma parte desses lucros deveriam ser repassados para os tratamentos dos sobreviventes e para a construção de um Memorial na Kiss.
Imagem Destaque: Série Todo dia a mesma noite tem grande repercussão - Reprodução/Netflix.
