A maternidade e as transformações que vêm com ela, sejam físicas, emocionais, profissionais e/ou sociais, podem ser ferozes e desafiadoras. “Canina”, baseado no best-seller homônimo de Rachel Yoder, dirigido por Marielle Heller (“O Diário de Uma Adolescente”) e estrelado pela atriz seis vezes indicada ao Oscar, Amy Adams (“Encantada”), é uma grande alegoria para retratar como ser mãe, sem uma rede de apoio adequada, pode ser um processo limitante e opressor.
Durante coletiva de imprensa realizada em outubro, em que o Lorena.R7 marcou presença, a atriz refletiu sobre os desafios de viver a protagonista de “Canina”, terror de comédia, com pitadas de body horror, que chega ao catálogo do Disney+ em 24 de janeiro.
Amy Adams fala sobre a mensagem por trás de “Canina”
Na coletiva, transmitida simultaneamente para diversos países, Amy foi perguntada sobre como o longa a impactou como mulher e como mãe, e contou que o processo a fortaleceu e a ajudou a abandonar auto julgamentos: “Gostaria de falar deste filme como uma alegoria. Porque é uma alegoria para identificar, transformar e empoderar”, começa a atriz, que continua:
Assista ao trailer de "Canina" (Reprodução/YouTube/SearchlightPictures)
“E eu acho que, falando da minha própria filha, ela se beneficia muito de uma comunidade em torno de pessoas que são pais e que não são pais, sejam professores, irmãos, amigos. E há um fator importante que as pessoas desempenham na vida das crianças, mesmo que não sejam os próprios pais.
Há algo de maravilhoso no desafio de dizer algo silencioso em voz alta. Mari fala muito sobre isso. E expressando esse medo profundo da invisibilidade e da insignificância, havia algo realmente fortalecedor nisso. E ao desempenhar esse papel, e trabalhar com as crianças, trabalhando com o tom da Mari [diretora] e as coisas diferentes, eu fiquei realmente fortalecida, porque deixei de lado o julgamento de mim mesma. Eu nunca pensei em uma performance ou em minha aparência. Eu simplesmente pude estar presente e isso foi muito fortalecedor”, finaliza Adams.
Amy Adams e a cineasta Marielle Heller na première de "Canina" no 68th BFI London Film Festival (Fotos: Karwai Tang/Dave Benett/Kate Green/Getty Images Embed)
Amy, que recebeu uma indicação à Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical no Globo de Ouro 2025 por “Canina”, também contou um pouco sobre o dualismo que o longa carrega, já que mostra lados positivos e negativos da maternidade e transformações, até mesmo literais, na mulher: “Para mim, é também a ideia de ter essa reformulação de identidade que eu tive que passar, e acho que em diferentes fases da vida todo mundo passa”, começa.
“Acho que isso pode acontecer em várias fases da vida. E principalmente para as mulheres. A gente passa, seja na puberdade, na maternidade, na menopausa, tem muita transformação, muitas mudanças de identidade. Acho que adoro a dualidade do filme que mostra a luta, mas também mostra o amor e a alegria”, termina.
Trama de “Canina”
Chamada apenas de “mãe” nos créditos, como se sua “função” fosse tudo que precisamos saber sobre ela, a personagem de Amy é uma artista que abre mão da bem-sucedida carreira para se dedicar integralmente a cuidar do filho, de 2 anos. Vivendo quase em isolamento, com o marido ausente, viajando incontáveis e frequentes dias à trabalho, a rotina sufocante começa a mexer com sua sanidade mental, e em uma mistura de delírio e realidade, “mãe” vê-se aos poucos virando uma cadela, como se libertasse seu espírito animal.
Indo na contramão da uma grande gama de longas que utilizam do body horror como um recurso de choque e repulsa, em “Canina”, a abordagem tende muito mais para curiosidade e euforia, em que a personagem se sente livre e interessante, desembocando em uma surpreendente jornada de autoconhecimento, liberdade e, claro, uma nova visão sobre o dualista papel de mãe.
Foto destaque: Amy Adams na première de “Canina” (Foto: Amy Sussman/Getty Images Embed)