Renata Vichi: “Trabalhar com verdade, intensidade e consistência é o que transforma uma carreira em legado.”
Hoje, à frente do grupo CRM, que reúne as marcas Kopenhagen, Brasil Cacau e Kop Koffee, Renata se consolidou como uma das principais executivas do país
De estagiária a presidente de um império do chocolate, Renata Vichi construiu uma trajetória que combina visão estratégica, sensibilidade de marca e coragem para inovar.
Aos 16 anos, iniciou sua jornada na Kopenhagen, empresa adquirida por seu pai, Celso Moraes, ocupando um cargo de estagiária em marketing. O que poderia ser apenas um primeiro passo virou uma escalada consistente dentro da companhia — passando por cargos de liderança em marketing e comercial até chegar à vice-presidência.
Hoje, à frente do grupo CRM, que reúne as marcas Kopenhagen, Brasil Cacau e Kop Koffee, Renata se consolidou como uma das principais executivas do país.
Mesmo após a aquisição do grupo pela Nestlé, em 2023, ela manteve o comando da operação, comprovando que sua forma de liderar — moderna, plural e apaixonada pelo que faz — é um dos principais ingredientes do sucesso da empresa.
E engana-se quem acha que Renata vive apenas no mundo corporativo ou respondendo e-mails. Mesmo com uma agenda corrida e reuniões, ela consegue achar espaço para participar de eventos, talk shows e debates, seja como moderadora ou palestrante. A empresária aborda temas como Estratégia e Execução, Branding, Liderança e Empreendedorismo.
Em entrevista exclusiva à Lorena Magazine, Renata Vichi compartilha sua trajetória inspiradora e reflete sobre como uma liderança humanizada pode ser o caminho para resultados sólidos e duradouros.

Você começou como estagiária na Kopenhagen aos 16 anos e hoje é CEO do Grupo CRM. Quais foram os principais aprendizados dessa caminhada?
“Minha trajetória foi construída com muito trabalho, escuta ativa, visão sistêmica e disciplina. Comecei aos 16 anos, disposta a aprender, compreender o negócio e as pessoas que faziam a Kopenhagen acontecer. Essa vivência me permitiu entender a importância dos processos, da cultura e do coletivo. A partir daí, aprofundei meus estudos sobre o mercado e fui clareando as possibilidades que a marca oferecia em termos de expansão e branding. Sempre fui curiosa e ousada. Aprendi que liderar é um exercício diário de coerência: estar perto, inspirar, reconhecer e ter coragem para tomar decisões difíceis. Com o tempo, percebi que sucesso não é destino, é um caminho de construção contínua. E que consistência é o que sustenta qualquer trajetória sólida”.
Em algum momento da sua trajetória, pensou em seguir outro caminho fora do grupo familiar ou sempre teve clareza de que queria construir sua carreira dentro dele?
“Eu sempre tive curiosidade sobre o mundo dos negócios, mas a Kopenhagen foi meu grande laboratório de vida e de gestão. O fato de ser uma empresa familiar nunca foi um limitador; pelo contrário, foi uma oportunidade de provar que é possível honrar um legado e, ao mesmo tempo, imprimir uma nova visão de futuro. Houve momentos de reflexão, sim, especialmente quando percebi que estar na companhia significava muito mais do que fazer parte da família: significava me provar como profissional, conquistar respeito e entregar resultados concretos. Decidi fazer isso do meu jeito, com autenticidade e um olhar de longo prazo”.

O que foi mais desafiador: conquistar credibilidade sendo da família fundadora ou se manter como executiva de alto nível em um mercado tão competitivo?
“Conquistar credibilidade foi um dos maiores desafios e, ao mesmo tempo, uma grande fonte de força. Ser da família fundadora te coloca sob uma lupa, e é preciso provar todos os dias que você está ali por competência. Sempre busquei resultado, mas sem abrir mão da escuta e da empatia. Depois que a credibilidade vem, o desafio passa a ser outro: manter-se relevante em um mercado que muda o tempo todo. Isso exige inquietude, atualização constante e coragem para inovar. A estabilidade nunca me atraiu; acredito que é no movimento que as marcas e as pessoas evoluem”.
Seu estilo de liderança é descrito como próximo e focado em pessoas. Como equilibrar disciplina e sensibilidade para manter equipes motivadas?
“Acredito que liderança é sobre cuidar de pessoas e desenvolver sucessores. Sempre digo que não lidero números, lidero pessoas que entregam resultados porque se superam todos os dias. É preciso entender o momento de cada um, respeitar os ciclos e apoiar o amadurecimento individual. O equilíbrio entre disciplina e sensibilidade é essencial: ser firme nas metas e gentil no caminho. Sou uma líder que cobra, mas também escuta. Que desafia, mas apoia. Esse equilíbrio cria um ambiente de alta performance com propósito, onde o reconhecimento e a clareza de direção são combustíveis diários”.

Como você enxerga o papel da diversidade e inclusão dentro da cultura do Grupo CRM?
“Diversidade é um valor inegociável. Liderar o Grupo CRM me fez enxergar que quanto mais plural é o time, mais criativa e empática é a empresa. Trabalhamos para construir um ambiente onde as diferenças são vistas como potência, porque é nelas que moram as novas ideias. A Kopenhagen sempre foi uma marca que conversa com o emocional das pessoas — e isso só é possível quando o olhar é diverso, inclusivo e humano. Tenho orgulho de ver a companhia crescendo com mais mulheres em cargos de liderança e com times que representam o Brasil real: múltiplo, vibrante e cheio de histórias”.
Sob sua gestão, houve aceleração de franquias, lojas próprias e canais digitais. Quais foram os maiores desafios da omnicanalidade no varejo de chocolates?
“O maior desafio foi transformar o digital e o físico em aliados complementares. Fomos precursores e corajosos ao construir um ecossistema que beneficia integralmente os franqueados. Hoje, mais de 95% das vendas digitais acontecem via ShipFromStore, com o last mile operado pelo próprio franqueado. Nossa estratégia omnichannel coloca o consumidor no centro e fortalece a rede como um todo. No varejo de indulgência, experiência é o que diferencia — o cliente quer conveniência, mas também quer emoção.”
A Kop Koffee nasceu como um braço inovador do grupo. Como surgiu a ideia de investir em cafés e experiências?
“A Kop Koffee nasceu de uma inquietação: como prolongar a relação do consumidor com a Kopenhagen além da compra do chocolate? O café veio como uma extensão natural do nosso propósito de proporcionar momentos de cumplicidade entre café e chocolate. Queríamos criar um espaço que unisse sabor, aroma e tempo — um convite para viver experiências genuínas. A Kop Koffee se consolidou como uma nova frente estratégica do grupo, ampliando pontos de contato e reforçando a conexão emocional com nossos consumidores. É um projeto que traduz nossa crença de que marcas fortes não vendem apenas produtos, mas criam experiências que permanecem.”

Como equilibrar tradição — marcas icônicas como a Kopenhagen — com a necessidade constante de inovação para dialogar com novos públicos?
“Tradição é nosso alicerce, inovação é nosso combustível. Sempre digo que a Kopenhagen tem quase 100 anos, mas pensa como uma startup. O segredo está em respeitar a essência e, ao mesmo tempo, se reinventar sem medo. Criamos linhas como Soul Good, que anteciparam o movimento de wellness e mostraram o quanto é possível inovar sem perder identidade.”
O segmento de chocolates premium tem crescido muito no Brasil. O que ainda pode ser explorado para expandir esse mercado?
“O consumidor brasileiro está cada vez mais sofisticado e aberto a experiências. Acredito que o futuro do chocolate premium está na personalização e na conexão emocional. As pessoas não compram apenas um produto; compram uma sensação, e isso só acontece quando há cuidado, consistência e coerência em cada detalhe. Nosso desafio é continuar elevando o padrão, entregando sabor, experiência e encantamento em cada interação”.
Qual foi a decisão mais difícil que você já tomou como CEO?
“As decisões mais difíceis sempre envolvem pessoas. Em momentos de reestruturação, precisei tomar decisões necessárias para o negócio, mas que exigiram sensibilidade e empatia. A liderança te coloca diante de dilemas em que não há caminhos fáceis. Nessas horas, é essencial estar ancorada em valores e clareza de propósito. O mais importante é nunca perder a humanidade, mesmo nas decisões mais racionais”.
Você acredita que sua história de superação pessoal contribuiu para moldar sua forma de liderar?
“Sem dúvida. A vida me ensinou a ser resiliente, e essa resiliência se reflete na minha forma de liderar. Já enfrentei momentos desafiadores, pessoais e profissionais, e aprendi que vulnerabilidade não é fraqueza é força. Quando compartilho minhas experiências, mostro que por trás da executiva existe uma mulher real, que sente, erra e recomeça. Acredito que autenticidade é o maior ativo de uma liderança inspiradora”.
Olhando para os próximos anos, quais são os maiores sonhos e metas que você ainda deseja alcançar à frente do Grupo CRM?
“Acredito que, em termos de conquistas com a Kopenhagen e a Brasil Cacau, alcancei tudo o que havia me proposto. Agora me preparo para uma nova fase. Fico como CEO até dezembro e, a partir de 2026, quero seguir explorando minha veia empreendedora, construindo novos projetos de impacto e significado. Vejo esse novo ciclo como uma oportunidade de continuar aprendendo, empreendendo e contribuindo para o ecossistema de negócios brasileiro.”
Se pudesse definir sua trajetória profissional em uma frase, qual seria?
“Trabalhar com verdade, intensidade e consistência é o que transforma uma carreira em legado”.
