Marco Pigossi revela processo de autoaceitação da sexualidade: “/”/Hoje me sinto invencível”/”/
Em relato à revista Piauí, o ator lembrou do medo de se assumir homessexual ao longo da carreira, falou sobre a fake news de um suposto envolvimento com Rodrigo Simas e o distanciamento do pai, eleitor de Bolsonaro.

Em novembro do ano passado, Marco Pigossi, de 32 anos, assumiu o relacionamento com o cineasta italiano Marco Calvani. Até então, ele nunca havia comentado sobre sua sexualidade. Em entrevista ao repórter João Batista Jr, da revista Piauí, o ator contou sobre o processo de autoceitação da sua orientação sexual e revelou que se destanciou do pai após a última eleição presidencial.
Na conversa, Pigossi falou que como não tinha referências, nem via representatividade na tv, achava que sua orientação era algo passageiro. “/”/Eu não tinha referência alguma no meu convívio e, quando assistia à televisão, nada servia como alento. Nas novelas ou nos programas de humor, quase sempre os gays eram retratados de forma caricata, pejorativa. Então, me sentindo solitário e sem emparo, me restava torcer para que fosse apenas uma fase”/”/.
Coincidentemente, o primeiro papel de grande repercurssão de Marco foi Cássio, um gay afeminado na novela “/”/Caras & Bocas”/”/, de Walcyr Carrasco, no ano de 2009. “/”/Na minha cabeça, não havia nenhuma margem de chance para eu me assumir. Se fizesse isso, todas as portas se fechariam para mim de forma automática (…) Essa possibilidade me aterrorizava”/”/, lembrou ele.
Marco Pigossi como Cássio, na novela “/”/Caras & Bocas”/”/ (Foto: Reprodução/TV Globo)
Para lidar com sentimentos tão conflituosos, o galã revelou ter precisado fazer terapia três vezes por semana. “/”/Era como se eu tivesse usando uma máscara de heterossexual. A alegria de fazer um personagem que caiu no gosto do público me trouxe aflição. Precisei de ajuda. Recorri à terapia durante a gravação da novela. Fazia análise três vezes por semana. Eu sofria por não ser 100% verdadeiro, mas o fato de ter um corpo e modos que se encaixam num certo “/padrão de heterossesexualidade”/, que não denunciam minha orientação, acabou me dando o que chamo – ironicamente – de “/privilégio do ármario”/. Isso me ajudava a proteger minha carreira e a mim mesmo da hostilidade e violência tão comuns no trato das populações LGBTQIAP+ no Brasil”/”/.
Dentro da própria emissora que trabalhava, Marco se sentia pressionado. Ele relembrou uma entrevista do diretor de dramaturgia da época, Silvio de Abreu, para a Folha de São Paulo. “/”/Ele dizia que atores gays não deviam assumir sua sexualidade publicamente, pois as donas de casa e telespectadoras em geral enxergam o galã como “/machão”/. Era uma declaração clara de que não era bem-vindo que um ator homossexual abordasse o assunto em público – e isso vindo da boca de uma figura de grande proeminência na emissora”/”/.
O ator também relembrou quando teve uma crise de pânico após ter circulado nas redes sociais uma fake news de que ele e Rodrigo Simas teriam um affair. “/”/Quando estava no ar com a novela “/Fina Estampa”/, viajei para o Rio de Janeiro, onde faria gravações. Quando desembarquei, abri meu celular e li uma notícia: que eu estava tendo um relacionamento com um ator da mesma novela. Era tudo invenção, mas as pessoas acreditam no que querem acreditar. Comecei a tremer e suar. Liguei para meu parceiro, chorando. Eu dizia para mim mesmo que minha carreira tinha acabado. A crise me deixou com sequelas. Passeia a tomar antidepressivos e ansiolíticos. O pânico de sair do armário contra minha própria vontade ficou ainda maior”/”/.
Marco Pigossi e seu namorado, o cineasta Marco Calvani (Foto: Reprodução/Instagram)
Ainda durante a conversa, Pigossi abordou a relação com o pai, Oswaldo Pigossi, que é eleitor de Jair Bolsonaro. “/”/Minha vida amorosa não era assunto. Durante oito anos do meu namoro com um homem, minha família sempre soube. Mas meu namorado e eu nunca jantamos com meu pai, que jamais perguntou sobre meu relacionamento. E, quando meu pai votou em Bolsonaro, senti uma dor profunda. Afinal, Bolsonaro era o sujeito que dissera preferir um filho morto a um filho gay. Que gay é resultado de falta de surra. Meu pai e eu ficamos sem nos falar durante o ano da eleição – e até hoje temos contatos esporádicos. Sou o primeiro gay com quem ele lida. Pouco a pouco, espero que ele aprenda a lidar com naturalidade”/”/.
Por fim, Marco contou como se sentiu com a forma acolhedora que os fãs e seus colegas receberam a sua sexualidade. “/”/Recebi mais parabéns do que no dia do meu aniversário. Foi uma libertação. Uma festa. Nada como viver às claras, ser o que se é em privado e em público. Talvez os futuros galãs não sintam o mesmo medo que eu senti de perder minha carreira. Naquele feriado, as repostas foram um alento imenso, o acolhimento de um mundo inteiro. Tomei um porre. E hoje me sinto invencível”/”/.
Foto destaque: Marco Pigossi. Reprodução/Instagram