Simone Bellotti redefine o minimalismo em sua estreia na Jil Sander
Primeira coleção de Simone Bellotti para a Jil Sander traz leitura matemática do minimalismo, com cortes precisos, volumes arquitetônicos e cores inesperadas

No segundo dia da Milão Fashion Week, Simone Bellotti revelou sua estreia na Jil Sander com a pergunta que orientou no seu processo criativo: “O que posso adicionar de mim, em uma marca conhecida por reduzir e subtrair?”. O resultado é uma coleção que honra o DNA da grife alemã, mas insere uma nova delicadeza ao vocabulário minimalista.
A coleção apresentada nesta terça-feira (23) mostra como Bellotti equilibra rigor técnico e sensibilidade estética. Resgatando a obsessão da fundadora pela forma e pela matéria-prima, o estilista traduz a identidade da marca em peças de linhas puras, mas carregadas de significado. Ao mesmo tempo, adiciona sua própria assinatura, visível nos recortes, nas proporções e no uso de cores que quebram a rigidez monocromática.
Reinterpretar o purismo
O desfile evidencia que o minimalismo de Jil Sander nunca se limitou a ser simples. Bellotti reforça esse pensamento ao apresentar saias lápis que, embora pareçam básicas, escondem construções arquitetônicas; vestidos que ganham novos decotes por meio de recortes laterais; e malhas cropped que jogam com a ausência e a subtração. Tudo é pensado como uma equação, em que cada elemento tem peso e função.
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O diretor criativo de Jil Sander nunca se limitou a ser simples (Foto: Reprodução/Instagram/@gabsposted)
Essa abordagem técnica reflete uma herança da própria Jil, que sempre se definiu como purista e não como minimalista. A fundadora defendia a ideia de que o valor da moda está no processo, na construção e na escolha dos materiais. Bellotti mantém essa essência, mas abre espaço para uma moda que respira movimento e energia contemporânea, conectada ao ritmo urbano.
Entre emoção e racionalidade
Apesar do caráter quase matemático, a estreia de Bellotti não abre mão do sentimento. As silhuetas acentuam a cintura e sugerem um romance discreto, em um gesto que remete à delicadeza de Raf Simons, ex-diretor criativo da marca. Esse equilíbrio entre rigor e emoção é o que confere frescor à coleção e a torna mais próxima da realidade, mesmo sem abandonar a sofisticação intelectual.
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Simone Bellotti tem o equilíbrio entre rigor e emoção é com o frescor de sua coleção(Vídeo: reprodução/Instagram/@hylentino)
A cartela de cores reforça esse contraste. Tons vibrantes como laranja, azul-anil e roxo-berinjela aparecem entre cinzas e pretos, criando tensão e poesia visual. Até o jeans, tecido que poderia soar banal, ganha intensidade ao ser trabalhado com essa nova sensibilidade. O resultado é uma moda que soa como um escape diante do excesso de estímulos do mundo contemporâneo.
A estreia de Simone Bellotti na Jil Sander demonstra que é possível somar sem perder a essência de reduzir. Seu olhar transforma a matemática do minimalismo em poesia visual, conciliando purismo e emoção. Entre linhas limpas, recortes calculados e cores inesperadas, o estilista aponta para uma nova fase da marca, que preserva seu legado enquanto se abre para novas leituras.