OMS reforça que vacinas não causam autismo
Organização reafirma segurança de vacinas e do paracetamol na gravidez após declarações recentes e sem embasamento científico de Donald Trump

As falas recentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reacenderam debates sobre a relação entre medicamentos, vacinas e autismo. Ao sugerir que o paracetamol poderia aumentar o risco de autismo em crianças quando usado durante a gestação, ele colocou em dúvida um dos analgésicos mais prescritos do mundo. Além disso, questionou a eficácia das vacinas e defendeu mudanças no calendário oficial de imunização infantil, contrariando décadas de pesquisas científicas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) respondeu de forma imediata, destacando que não há vínculo comprovado entre o uso de paracetamol na gravidez e o desenvolvimento de autismo. Embora alguns estudos observacionais tenham sugerido uma possível associação, especialistas reforçam que os dados são inconsistentes e insuficientes para estabelecer qualquer relação causal. Na prática, a recomendação médica segue sendo a mesma: paracetamol é considerado uma opção segura para grávidas, especialmente quando comparado a alternativas como aspirina e ibuprofeno, que oferecem riscos no final da gestação.
Ao colocar em dúvida tratamentos e vacinas, Trump expõe não apenas um debate científico, mas também um risco de saúde pública. O discurso de líderes políticos pode influenciar decisões individuais que comprometem a proteção coletiva. Esse tipo de posicionamento tem sido alvo de críticas por parte de organismos de saúde em todo o mundo, que reforçam a necessidade de informação confiável para orientar populações.
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ONG especializada explica direitos garantidos para pessoas com austimo (Foto: Reprodução/Instagram/@equipeautismodivulgacoes)
OMS destaca importância das vacinas para saúde global
Em coletiva de imprensa, o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, foi categórico: “Vacinas salvam vidas. Vacinas não causam autismo.” A afirmação direta tem como objetivo reverter a confusão causada pelas declarações de Trump e reafirmar a segurança de um dos pilares da saúde pública mundial.
Adiar, alterar ou interromper calendários de vacinação sem respaldo científico aumenta significativamente o risco de surtos de doenças infecciosas. O problema não afeta apenas crianças, mas toda a comunidade, já que a imunização coletiva depende de altas taxas de adesão. A OMS alertou que desinformação nesse campo pode colocar em risco avanços conquistados em décadas de campanhas globais.
A ligação equivocada entre vacinas e autismo não é nova. Desde o fim dos anos 1990, quando um estudo fraudulento associou a vacina tríplice viral ao autismo, o movimento antivacina ganhou força. Apesar de a pesquisa ter sido desmentida e retirada de publicações científicas, o impacto segue até hoje, alimentando teorias da conspiração que prejudicam a confiança em campanhas de imunização.
Autismo exige mais pesquisa e menos desinformação
A OMS também ressaltou a importância de aprofundar estudos sobre o transtorno do espectro autista (TEA), que afeta cerca de 62 milhões de pessoas no mundo. Embora o número de diagnósticos tenha aumentado nas últimas décadas, especialistas apontam que a principal explicação está na evolução dos critérios clínicos e na maior conscientização da sociedade, não em uma “epidemia” provocada por medicamentos ou vacinas.
O discurso do governo norte-americano de investigar em tempo recorde as causas do autismo é visto com desconfiança pela comunidade científica. Para pesquisadores, promessas políticas simplificam um tema complexo, que envolve fatores genéticos, ambientais e sociais, e cujo entendimento completo ainda demanda anos de investigação séria.
Mais do que criar polêmicas, autoridades são chamadas a apoiar a ciência. Para especialistas, o foco deve ser o investimento em pesquisas, o fortalecimento de políticas de saúde pública e a disseminação de informações confiáveis. Somente assim será possível oferecer respostas consistentes às famílias e garantir que o debate sobre autismo avance sem ser distorcido por teorias sem evidência.