Casa de Criadores 56 transforma o CCSP em palco de moda, memória e futuro
Na Casa de Criadores 56, o Space Age dos anos 60 se mistura a humor, alfaiataria fluida e sustentabilidade, transformando o Centro Cultural SP em 2025

No segundo dia da 56ª edição da Casa de Criadores, o Centro Cultural São Paulo se transformou em uma cápsula do tempo, onde o futurismo, o humor e a alfaiataria se entrelaçaram a cada look. Marcaram presença nas passarelas as marcas Shitsurei, Érico Valença, Cynthia Mariah, Marlô Studio, Guilherme Dutra e Visén. Realizada desde 1997, duas vezes ao ano, a semana de moda segue como vitrine essencial para marcas independentes e espaço fértil para discussões sociais, como gênero, cor e sustentabilidade — tudo isso por meio da moda.
Os desfiles
A Shitsurei abriu a noite com uma estética espacial que reinterpretou a era Space Age dos anos 60. Jaquetas com ombreiras metálicas, tecidos com brilho iridescente e recortes geométricos compuseram a coleção, complementada por um painel de LED interativo, desenvolvido pelo coletivo SPARK, que projetava constelações digitais enquanto os modelos desfilavam por corredores espelhados.
Desfile Shitsurei na Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)
Em seguida, Érico Valença levou o público a uma viagem emocional: suas peças de sarja resinada — técnica de sua autoria — ganharam um efeito holográfico que lembrava o vinil das roupas dos avós. As silhuetas amplas e os casacos de gola alta evocavam nostalgia, enquanto os bolsos utilitários e fechos magnéticos traziam um toque tecnológico.
Desfile Érico Valença na Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)
Cynthia Mariah injetou irreverência na noite com sua trupe de palhaços contemporâneos. Listras em preto e branco, detalhes em neon e acessórios infláveis criaram um visual cômico e crítico, desafiando o público a repensar o papel do riso diante do caos social.
Desfile Cynthia Mariah na Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)
O Marlô Studio, sob direção de Márcio, criou uma fusão entre paraíso e distopia: rendas florais sobrepostas a jaquetas de PVC fosco em tons vibrantes sugeriram uma rave às margens do Éden. A alfaiataria, repensada em cortes fluidos, foi temperada com corsets e hot pants prontos para encarar uma madrugada techno.
Desfile Marlo na Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)
Guilherme Dutra apresentou “Poupée”, uma homenagem às bonecas francesas de sua avó. Volumes dramáticos e drapeados afetivos costuravam memórias à linguagem contemporânea. Logo depois, a Visén exibiu “Visceral”, coleção inteiramente inspirada em imagens criadas por inteligência artificial. Grafismos pixelados e padrões xadrez compuseram um mosaico distópico, refletindo a fusão entre caos urbano e lógica algorítmica.
Desfile Guilherme Dutra na Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)
Estreias e sustentabilidade
Entre as novidades, o destaque foi o foco em sustentabilidade: diversas grifes apostaram em tecidos de algodão orgânico e fibras de PET reciclado, exibidos em uma vitrine instalada ao lado da passarela. A CDC 56 segue até domingo, reforçando seu papel como laboratório criativo, onde moda e tecnologia dialogam com memória, humor e consciência ambiental.
A importância da Casa de Criadores
Mais do que uma semana de moda, a Casa de Criadores se consolidou como um espaço essencial para vozes diversas: negros, indígenas, pessoas trans e corpos fora do padrão têm encontrado ali uma plataforma de expressão legítima. Essa representatividade aparece tanto no perfil dos estilistas quanto nas múltiplas narrativas traduzidas em suas coleções — transformando a passarela em um espaço de debate e afirmação cultural.
A atual edição, com 33 desfiles em formato de U, é mais do que uma mostra de tendências: é um manifesto de autoralidade. A CDC 56 reafirma a força da moda brasileira como ferramenta de identidade, resistência e inovação, costurando passado e futuro com criatividade e propósito.
Matéria por Luisa Furlan (In Magazine ig)